Não, não minha querida. Esse silêncio todo que mura humores entre a gente nos últimos passeios não é timidez, falta de assunto ou outras indiferenças vazias.
Na geologia das terras ficam as camadas mais antigas lá embaixo. O que o vento soprou ontem é coberto pelo que o vento trouxe ontem. Isso porque nos continentes o nascimento é de fora para dentro. De cima para baixo. Dos ventos para o chão. Da chuva das montanhas para os fundos dos vales.
Na geologia das palavras ocorre o contrário. Porque as palavras nascem lá dentro da gente e assim dá-se que as mais novas estão lá no fundo, dentro, cobertas pelas mais antigas. Daí que, logicamente, só mesmo tendo dito as palavras mais antigas é que as novas poderão encontrar um caminho à superfície do mundo. Assemelha-se mais à mecânica do vulcão que a das planícies costeiras.
Com isso se entende meus silêncios, querida amiga. São muitas palavras velhas, nunca ditas, soterrando as palavras novas.
quarta-feira, 27 de março de 2013
terça-feira, 26 de março de 2013
Garupa
Ela, justamente ela, ele nunca levava de moto. Já aconteceu sim uma carona ou outra, mas evitava ao máximo. Gostava de levar pessoas na garupa e certamente gostaria de levá-la. Ser abraçado por ela. Estar perto dela. Mas não queria correr o risco. E se, bem com ela, algum acidente acontecesse? E se ela se machucasse? Ele não poderia viver tranquilo nunca mais. Não tinha estrutura para isso. Arranjava sempre uma desculpa. Esqueci o capacete. Estou com a mochila, não há espaço. Ela queria andar um pouco de moto com ele, gostava da aventura e gostava do amigo. Mas ele a queria por perto o tempo todo e nunca soube como lidar com o gigantismo desse desespero.
segunda-feira, 25 de março de 2013
Alimentação saudável
Um lanche quente. Era o que eu queria. Nada de comida fria. Um lanche com queijo derretido. Um hamburger. Ou um pedaço de carne, peito de peru. Pouco importa. Um lanche quente no pão francês, pão fresquinho, com aquela casca amarelo-pão quebrando, toda trincadinha como aquelas marcas no chão do sertão. Preparei. Comi. Depois uma sobremesa doce e fria. Sorvete. Perfeito. E, por fim, um pouco de água.
A alimentação precisava respeitar essa ordem precisa. Jogar em um liquidificador tudo junto, água, sorvete e um lanche quente no pão francês e alimentar-se da maçaroca resultante soa para todos os sensatos algo pateticamente repulsivo. Somos uma máquina estranha. Porque no estômago, efetivamente, tudo se mistura. Os poucos minutos que separam a ingestão de uma coisa ou outra não são suficientes para separar a comida no estômago. O que significa que, para fins de nutrição, a mistura não é ofensiva. Mas para fins de degustação, de apreciação, isso faz toda a diferença do mundo.
Somos uma máquina estranha. Quanto à alimentação, é óbvio que a absorvemos assim. Mas muito mais do mundo é artificialmente segmentado em nossas degustações diárias e se torna impossível pensar a vida de outra forma. O mundo é um só, mas jamais conseguiremos efetivamente vê-lo assim. Assim como a necessidade nutricional é composta por um só conjunto de alimentos variados, mas não podemos absorver estes alimentos de uma vez, misturados. Precisamos segmentá-los em parcialidades.
Você conhece uma pessoa. Não pode absorver suas verdades todas de uma vez. Precisa escolher se vai degustar primeiro a aparência, depois as histórias contadas por ela, depois as histórias contadas pelos outros, depois a rica observação quieta de suas atitudes. Como trata o garçon. Como responde à mãe sobre assuntos triviais.
A verdade do mundo. Há uma guerra acontecendo em algum lugar. Há uma pessoa ajudando um necessitado. Alguém faz uma gentileza aqui. Um assassinato segue em marcha ali. Um animal devora outro num canto. Noutro há uma fera prenha dando a luz. Uma criança joga video-game em seu quarto de apartamento alheia a toda a cidade ao seu redor. Que parte do mundo você quer degustar agora?
Assim como as refeições do estômago, vale observar, para uma alma verdadeiramente saudável uma refeição balanceada é necessária. Ainda que a alimentação siga esse fracionamento exagerado, necessário ao paladar mas artificial ao estômago, os diversos tipos de nutrientes devem ser absorvidos. Ainda que só possamos experiementar este ou aquele aspecto do mundo, da vida, das pessoas, a cada vez, para uma existência saudável e balanceada de tempos em tempos todos os tipos de mundos, verdades e pessoas, devem ser devidamente apreciados.
A alimentação precisava respeitar essa ordem precisa. Jogar em um liquidificador tudo junto, água, sorvete e um lanche quente no pão francês e alimentar-se da maçaroca resultante soa para todos os sensatos algo pateticamente repulsivo. Somos uma máquina estranha. Porque no estômago, efetivamente, tudo se mistura. Os poucos minutos que separam a ingestão de uma coisa ou outra não são suficientes para separar a comida no estômago. O que significa que, para fins de nutrição, a mistura não é ofensiva. Mas para fins de degustação, de apreciação, isso faz toda a diferença do mundo.
Somos uma máquina estranha. Quanto à alimentação, é óbvio que a absorvemos assim. Mas muito mais do mundo é artificialmente segmentado em nossas degustações diárias e se torna impossível pensar a vida de outra forma. O mundo é um só, mas jamais conseguiremos efetivamente vê-lo assim. Assim como a necessidade nutricional é composta por um só conjunto de alimentos variados, mas não podemos absorver estes alimentos de uma vez, misturados. Precisamos segmentá-los em parcialidades.
Você conhece uma pessoa. Não pode absorver suas verdades todas de uma vez. Precisa escolher se vai degustar primeiro a aparência, depois as histórias contadas por ela, depois as histórias contadas pelos outros, depois a rica observação quieta de suas atitudes. Como trata o garçon. Como responde à mãe sobre assuntos triviais.
A verdade do mundo. Há uma guerra acontecendo em algum lugar. Há uma pessoa ajudando um necessitado. Alguém faz uma gentileza aqui. Um assassinato segue em marcha ali. Um animal devora outro num canto. Noutro há uma fera prenha dando a luz. Uma criança joga video-game em seu quarto de apartamento alheia a toda a cidade ao seu redor. Que parte do mundo você quer degustar agora?
Assim como as refeições do estômago, vale observar, para uma alma verdadeiramente saudável uma refeição balanceada é necessária. Ainda que a alimentação siga esse fracionamento exagerado, necessário ao paladar mas artificial ao estômago, os diversos tipos de nutrientes devem ser absorvidos. Ainda que só possamos experiementar este ou aquele aspecto do mundo, da vida, das pessoas, a cada vez, para uma existência saudável e balanceada de tempos em tempos todos os tipos de mundos, verdades e pessoas, devem ser devidamente apreciados.
quarta-feira, 20 de março de 2013
Quase aos 30
Conversas com amigos na mesa da lanchonete. Falar mal da menina que pegava todo mundo na faculdade e ao mesmo tempo não ficava com ninguém. Sentimentalmente indecisa. E dava toda a atenção do mundo para os homens e não queria ficar perto de nenhuma das outras mulheres. Falar sobre roupas de trabalho. O cara que vai com a gravata estranha. Que não sabe combinar calça com blazer. Sapato com meia. Pessoas que não conseguem experimentar um pouco de formalidade sem reinventar o ridículo. Trabalho. Quais as pendências atuais. Chefes legais. Chefes chatos. Histórias de reuniões sem objetivo. De pessoas com boas frases feitas. De pessoas que não conseguem abrir a boca com sucesso. Piadas. As piadas de sempre. Quais as carreiras presentes na mesa? Engenheiros, advogados, gente de computação, um empresário. Os estereótipos de sempre, sob a forma de piada. Assuntos aleatórios. Música. Música sempre é um assunto aleatório. Cérebro, um artigo que alguém leu na revista nerd da semana passada. Como era mesmo a história daquela menina que beijava todo mundo? A conta. A conta, por favor. E não nos esqueçamos de cantar parabéns à aniversariante. Pode ser na calçada mesmo.
terça-feira, 12 de março de 2013
Plástica
Ela, Célia, já tem uma filha. A menina está quase em idade de prestar vestibular. Se chama Luisa. Célia é divorciada, mas não quer saber de ficar sozinha. Arrumou um novo namorado. Não sem antes fazer plástica nos seios. Aproveitou as férias, período em que está longe dos comentários do trabalho e em que é possível repousar. Mas a vaidade não se conteve já ao primeiro telefonema com a secretária amiga dela. Não, contava Célia, não fui viajar não porque fiz uma operação, estou bem, é coisa de estética. Coisa de estética, ela diz, plástica nos seios, pensa a outra. E a fofoca se espalha. Confiante e de namorado novo, Célia agora não quer que a filha faça apenas engenharia civil, quer que faça arquitetura ou teatro, quer a ela uma vida de prazer artístico, pois descobrir que todos os prazeres da vida são assim, meio artísticos. Era como se a filha, derivação sua, obra sua, tivesse também seios novos, uma nova alma, mais acabada, mais perfeita, mais capaz e mais merecedora. A filha não conectava as duas coisas. Imaginava a mãe como vítima de uma loucura meio genérica, dessas que acometem as mães em tantos momentos inescapáveis. Seguiu com a vontade anterior de fazer engenharia civil. Inconformada, lá foi a mãe, ela própria, estudar teatro. Trabalhava durante o dia e dividia o tempo livre entre o teatro e o novo namoro. Sérgio, o namorado, trabalhava em um escritório de investigação de dados contábeis. Caçava gente que de um jeito ou de outro desvia dinheiro para si sem matar ninguém, sem roubar nada material, gatunamente, mas ainda assim ilicitamente. Estava enciumado. De repente a namorada, uma mulher já séria, adulta, fazendo teatro? Andando com aqueles jovens todos com os hormônios à flor da pele? Não era aceitável. Não era possível. Não era lógico. Deu um basta naquilo tudo, um esporro cheio de autoridade masculina selvagem, à moda das cavernas. Célia não se abalou. Olhou para ele, nos olhos, e decretou: você precisa de seios novos.
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segunda-feira, 4 de março de 2013
O sentido da frase
Eu achei que ela era uma escritora com alma de escritora. Resolvi perturbá-la, criar uma situação dessas estranhas, dessas que se pode perturbar e ver o que acontece. Escrevi para ela, algumas vezes, como se eu estivesse bêbado. Um bêbado que, contudo, escreve sem erros de digitação e com frases estruturadas. Ela deveria ter desconfiado que eu nunca estive bêbado de outra coisa se não um desespero por conversas inusitadas. Ela, embora escreva sempre fingindo uma sensibilidade para situações e amores e tudo o mais, não tem o sentido da frase. A acuso assim porque ela se recusou a conversar com alguém que se dizia bêbado? Sim, exatamente. Conversar pela internet. Trocar e-mails. Não há bafos, não há riscos. E, minimamente mais inteligente, deveria ter percebido que eu nunca colocara uma gota de álcool goela abaixo. Triste. Fiquei triste, desapontado. Não com ela em particular, mas um pouco desapontado com a humanidade. As pessoas carecem de um certo desejo de comunicação. De uma certa curiosidade pelo ser humano. Muitas vezes o lado humano das pessoas ao nosso redor é aparência. Uma vontade de auto-promoção anunciando-se como uma pessoa boa. Veja como eu sou sensível! Veja como eu percebo as belezas do amor, das pessoas, dos velhinhos conversando na praça! Besteira. Pessoas de verdade, interessadas no mundo para além dessa postura falsa, não dispensam uma boa conversa. Especialmente uma que se anuncie com rumos inesperados.
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sexta-feira, 1 de março de 2013
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Métricas
E se todos os medos sumissem? Os medos trazem lá algum equilíbrio. Componente importante das inércias da humanidade.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Diário de vidas imaginárias
Ficamos os dois juntos, estrelas por testemunhas. A Lua, já indo baixa no horizonte, se escondeu vergonhosa. Beijos. Mordidas debaixo da orelha. A textura da pele. Suor. Gemidos. Dia seguinte voltei para casa, quinhentos quilômetros ao sul. Dormi exausto. Acordo dez horas depois de uma noite intera de sonhos com ela, mas uma outra ela. Aquela dos sorrisos, das conversas. E é isso que ela sempre foi. Uma presença tangente no meu amor. A tangência tem esse mistério... Não pertence nem despertence. Está lá, mesmo que nunca esteja.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Dói pra caramba, mesmo que já esteja curado
Eu nunca mais tinha ouvido sua voz. Sentido seu cheiro. Olhado nos seus olhos. Desde aquele dia. O beijo na minha testa e você fechou a porta. Carreguei minhas coisas para o carro em um riacho de lágrimas. Eu exagero, não precisava tanto. Hoje, depois de um final de semana de risadas e conversas com amigos, decidi começar a segunda-feira fazendo o que tinha que ser feito. A chave do apartamento e o controle-remoto da garagem ainda estavam comigo. Eu ainda não havia te dado o dinheiro da multa por excesso de velocidade que levei dirigindo o seu carro. Pendências. Você estava ali, sentada de costas para a porta da empresa, fone de ouvido, concentrada no computador. Bati na porta. Você chegou a esboçar um sorriso? Um espanto? Achou em algum momento que eu te procuraria para tentar arrumar as coisas entre a gente? Não consigo fazer isso. Mas dói separar. Dói te ver de novo e sentir saudade de tudo. De como nossa voz ficava mais meiga um com o outro do que com o resto do mundo. Nossas risadas. Eu escuto sua risada o tempo todo. Difícil. Eu não conseguiria voltar. Não conseguiria mais te amar da mesma forma. Você resolveu as coisas me colocando para fora de casa. Aqui está, vim trazer a chave e o controle. Toma, o dinheiro. Sim, aceite, por favor, eu estava te devendo... Não conto mais como foi meu dia para ninguém, quando chego em casa. Não quero saber como foi o dia de ninguém, também. Eu já estou curado, não estou? Estou no trabalho, estou estudando. Estou fazendo minhas coisas, reencontrando pessoas, indo a happy-hours. Saí da sua empresa querendo sentar na calçada e chorar. Tomaríamos um café, não tomaríamos? Qualquer coisa boba dos últimos dias, curiosidades, fofocas, você me contaria. Coisas sem importância: coisas fundamentais. Não importa pensar porque é que funcionou ou não, o que falhou ou não falhou. Essas meditações ficam para o próximo relacionamento. Meu. Seu. A vida segue. Vez ou outra a estrada fica horrível. Uma transição difícil, um trecho difícil de cruzar. Mas fico feliz de pensar que, no geral, a viagem é feita de ótimas paisagens que deixam saudades profundas, prova de que valeu a pena. Um beijo, tudo de bom pra você, de coração...
sábado, 12 de janeiro de 2013
Manhã chuvosa de sábado
Nem abri as janelas do quarto de tudo, já tomei duas canecas de café com leite, a segunda com toddy junto; não sei pra que sair dos pijamas num dia como hoje; tem uma almofada na minha cadeira e fico tentando um jeito de deixar as pernas esticadas, mas não há lá um bom lugar pra apoiar; aí sempre volto ao plano de deixar as gavetas da escrivaninha abertas para apoiá-las, mesmo não sendo lá a última palavra em conforto para vagabundos.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Olé
No começo eu achava graça. Criar um personagem fictício, um pseudônimo, pra poder escrever sem medo de ser feliz. Qualquer coisa que viesse à cabeça. Sem ter que ser bonitinho, correto, audaz, contundente ou engraçado. Na internet coloca-se qualquer coisa, e ninguém me pagaria por isso. Então tava valendo tudo, tudo!
Mas comecei a perder o controle. De início, ficou estranha a fronteira entre pseudônimo e heterônimo, o que deu um certo trabalho. Daí o heterônimo ganhou vida, começou a ficar meio independente e a fazer coisas por si mesmo.
Até aí tudo bem, acontece, vá lá...
Mas de indiferença passou a desobediência explícita, a competitividades.
O heterônimo que criei passou a ser mais sociável que eu. Pega mais mulher que eu. Escreve melhor que eu. Come melhor, é mais sadio e mais sarado, até sorri mais bonito.
Tô ficando velho.
Ele, tem a idade que quiser!
Mas comecei a perder o controle. De início, ficou estranha a fronteira entre pseudônimo e heterônimo, o que deu um certo trabalho. Daí o heterônimo ganhou vida, começou a ficar meio independente e a fazer coisas por si mesmo.
Até aí tudo bem, acontece, vá lá...
Mas de indiferença passou a desobediência explícita, a competitividades.
O heterônimo que criei passou a ser mais sociável que eu. Pega mais mulher que eu. Escreve melhor que eu. Come melhor, é mais sadio e mais sarado, até sorri mais bonito.
Tô ficando velho.
Ele, tem a idade que quiser!
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domingo, 2 de dezembro de 2012
E se?
E se eu acordasse uma outra pessoa? De repente eu não sou mais quem eu sou. Não exatamente os mesmos passados. Os mesmos sonhos. Os mesmos futuros. Sei lá, não tenho resposta para isso. Estou só fazendo essas considerações por talvez um, talvez um... Será já um certo cansaço de ser eu mesmo por tanto tempo? Quantas vezes a gente se reinventa em outras vidas dentro dessa mesma única?
Eu sou vários.
Quem não é?
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Fim de ano
No fundo, com as porradas do tempo, vou ver é que ser um não me basta. A quem basta? Ser um no final não é nenhum.
A mistura com a outra pessoa. A mistura consigo mesmo.
A paz exterior.
A paz interior.
No fundo, ser um só já não me basta. Há outros querendo espaço para existir também.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Carona vida afora...
SMS recebido nesta manhã:
"te pego ou me perco?"
As duas coisas, querida. As duas coisas...
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Um Berto, dois Berto, três Berto... Zero Berto!
Primeiro, vou me defender. Se até hoje estamos lendo Platão e afins, não há problema em demorar alguns meses para ler uma notícia, né não? Ou sim? Foda-se.
Li hoje esta entrevista com Umberto Eco, publicada pela Época, aqui.
Desculpe talvez ignorar todos os méritos que tenha este senhor... Mas essa idéia de que pessoas não preparadas não podem se deixar expor à internet... Essa concepção de que a televisão é um meio melhor porque ali a informação já vem filtrada...
Ah caro Umberto Eco... vá escrever seus livrinhos, que isso deve dar um trabalhão danado já, e nos deixe em paz!
Que as pessoas falem! Sim, falarão besteiras, cultivarão equívocos... Mas é a caixa de Pandora que foi aberta quando duas pessoas compreenderam a primeira sílaba entre si. Não há meio termo quando se decide voltar atrás. A opção seria abandonarmos a fala. Deixarmos de lado essa mania irritante de nos comunicarmos. Sim, serão cultuadas crenças falsas. Verdades sobre o mundo serão atacadas por fanáticos e ignorantes em todos os meios possíveis. Sites, twitter, youtube, facebook e o escambau. Mas outras vozes surgirão. A diversidade ocupará seu devido espaço no palco e as luzes, no momento certo, lhe darão a devida atenção. Uma teoria da filtragem? Você acredita mesmo nisso? Então por que é que o senhor, culto e instruído, e inteligente, não filtrou suas próprias merdas antes de dizê-las? Caso não saiba, eu te explico: porque é melhor que os pensamentos ruins surjam ao mundo, e morram por si só, do que matá-los matando também os pensamentos bons. Va a fanculo, intelectualzinho de merda, antes de voltar a dar declarações defendendo absurdos como "filtro de informação" para a internet, seu gordo balofo cheio de preconceitos. Só você é culto o suficiente para navegar pela internet, não é? Realmente, me convenceu. Muito triste que não vivamos em uma ditadura firme que filtre as informações que nos chegam. A vida seria muito mais fácil. Eu poderia ter passado o dia, por exemplo, sem me expor a essa bosta de entrevista...
Li hoje esta entrevista com Umberto Eco, publicada pela Época, aqui.
Desculpe talvez ignorar todos os méritos que tenha este senhor... Mas essa idéia de que pessoas não preparadas não podem se deixar expor à internet... Essa concepção de que a televisão é um meio melhor porque ali a informação já vem filtrada...
Ah caro Umberto Eco... vá escrever seus livrinhos, que isso deve dar um trabalhão danado já, e nos deixe em paz!
Que as pessoas falem! Sim, falarão besteiras, cultivarão equívocos... Mas é a caixa de Pandora que foi aberta quando duas pessoas compreenderam a primeira sílaba entre si. Não há meio termo quando se decide voltar atrás. A opção seria abandonarmos a fala. Deixarmos de lado essa mania irritante de nos comunicarmos. Sim, serão cultuadas crenças falsas. Verdades sobre o mundo serão atacadas por fanáticos e ignorantes em todos os meios possíveis. Sites, twitter, youtube, facebook e o escambau. Mas outras vozes surgirão. A diversidade ocupará seu devido espaço no palco e as luzes, no momento certo, lhe darão a devida atenção. Uma teoria da filtragem? Você acredita mesmo nisso? Então por que é que o senhor, culto e instruído, e inteligente, não filtrou suas próprias merdas antes de dizê-las? Caso não saiba, eu te explico: porque é melhor que os pensamentos ruins surjam ao mundo, e morram por si só, do que matá-los matando também os pensamentos bons. Va a fanculo, intelectualzinho de merda, antes de voltar a dar declarações defendendo absurdos como "filtro de informação" para a internet, seu gordo balofo cheio de preconceitos. Só você é culto o suficiente para navegar pela internet, não é? Realmente, me convenceu. Muito triste que não vivamos em uma ditadura firme que filtre as informações que nos chegam. A vida seria muito mais fácil. Eu poderia ter passado o dia, por exemplo, sem me expor a essa bosta de entrevista...
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quarta-feira, 20 de junho de 2012
Dia seguinte
Tenho medo da minha própria imprevisibilidade. Quando os assuntos dizem respeito somente a mim, não me importo. Mas quando envolve outras pessoas, tenho medo. Medo de não amar. Ou de deixar de amar. Medo de criar mais esperanças do que posso corresponder. Esperanças. É disso que são feitos os sonhos. Esperenças. Buscamos mais esperanças do que alegrias. O direito de sonhar. O direito de sonhar vale mais do que a realização dos sonhos. Mas eu não consigo deixar os sonhos correrem livres quando desconfio que não poderei concretizá-los nunca. Às vezes penso que sou inaceitavelmente honesto comgio mesmo.
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sexta-feira, 8 de junho de 2012
Duas e trinta e cinco da manhã
Como a gente reinventa o mundo para falar de tudo o que sabe sem se comprometer por escancarar a vida alheia? Melhor nem ligar para isso, não é?
Ou então eu falo só da minha vida e está tudo certo. Mas ficar dando voltas nos mesmos assuntos não é uma boa e é sempre isso o que eu faço. Dia após dia, tenho pensado no mesmo trágido amor irrealizado. Tenho considerado outras possibilidades de vida e pensado que me aproximo de idades onde tudo é mais e mais irreversível. E por que será que minha profissão é esta e nenhum outra? Errei por não ter escolhido outra coisa, ou erro agora por não encontrar um modo de ser feliz onde estou? Ou, ainda mais, erro por não encontrar um jeito de canalizar minha inqueitude de modo a inflamar mudanças produtivas? Foda-se.
domingo, 3 de junho de 2012
Ah, chega!
Tem muito artista que, posando de politizado, no fim só está enchendo o saco. Artista? Não sei, errei no termo. Ficar expondo uma pretensa alta cultura nos meios de massa atuais, Facebook, Twitter, o blog, o raio que o parta... Postando links para filmes, youtube disso e daquilo, curtindo essa porra ou aquela... Você é artista? Você é culto? Então crie, aprecie, mergulhe. Não seja uma merda de um simples nó da corrente, passando as coisas de um lado a outro. Bagunce o mundo você mesmo. Comente alguma coisa sempre que compartilhar algo. Insira sua marca. Investigue as suas verdades.
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sexta-feira, 1 de junho de 2012
Metas
Sem poesia, o que eu faço? Sem imaginários livres, sem sonhos descabidos? Eu não sei me definir por objetivos. Objetivos são estágios intermediários mas o destino final de cada instante só pode ser uma inutilidade. Uma inutilidade absoluta. Não há outro sentido. As leituras, os cálculos, as fotografias, as conversas, as caminhadas, os relatórios, os cafés. Risos e olhares. O colapso do tempo na implosão de todas as preocupações. Um segundo de discontração.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Life in the ddge
Sou mesmo uma profusão bagunçada de idéias desconexas. E gosto de bagunçar a minha vida. Só tenho essa, e aí, entre a ordem e a desordem, escolho a desordem. Só a desordem pode criar. Porque ordem é exatamente isso: a continuidade impensada do que já existia.
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terça-feira, 29 de maio de 2012
Vagabundo confesso
A música foge de mim? Será que a música foge de mim? A vida me priva da música com seus dias de trabalhos inúteis, com os tempos dos ônibus, metrô, as coisas para estudar, os cansaços me escondendo dos ensaios. Quero tocar, mas hoje não. Preciso dormir. Escrever é mais quieto. E escrever só um pouquinho já é escrever.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Tagarela
Eu falo muito, vez ou outra, porque me acostumei a escrever. Foi o exercício da escrita que me aproximou das palavras. Isso é por si só curiosíssimo, já que a escrita é um terreno completamente artificial para as palavras. Como a terra seca era um mundo originalmente inabitável, completamente hostil, para todo ser vivo. Hoje são os seres da terra seca que invadem os oceanos como poderosos dominadores. O mesmo movimento se deu, em algum momento, com a palavra, que nasceu no oceano fluido da voz falada e, pouco a pouco, migrou para o terreno seco da escrita. O que parecia uma tentativa suicida de visitar um mundo inóspito acabou por se confirmar um dos maiores saltos evolutivos de todos os tempos. Sou um exemplo entre tantos, e estou, sei disso, longe, mas muuuuuuuuuuito longe, de ser o melhor exemplo. Ainda assim, acontece comigo também. Quieto aqui e ali, introspectivo, quando desato a falar, falo muito. Exemplifico. Metaforizo. Contextualizo. Comparo, faço hipóteses, busco entender opiniões com as quais não concordo e ilustro o ponto de vista do outro de outras formas. Levo ideias aos absurdos que implicam. Busco contradições. Tudo isso por uma razão, pura e simples: leio e escrevo. Quando a fala desata, trata-se na verdade da palavra retornando da terra seca ao seu ambiente geologicamente originário. É o mergulhador, animal dos continentes retornando ao caldeirão da sopa primordial.
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terça-feira, 22 de maio de 2012
Quem consome cultura?
A segmentação do mundo me espanta.
Se a arte, a cultura, são o objetivo máximo do espírito humano... então por que é que boa parte dos espíritos humanos não ligam pra isso?
Se a arte, a cultura, são o objetivo máximo do espírito humano... então por que é que boa parte dos espíritos humanos não ligam pra isso?
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Fordismo?
Um dos nossos grandes equívocos diante da vida urbana que levamos é essa cisma de que devemos nos sentir culpados diante do nosso tempo livre. O meio corporativo não é inteligente o suficiente para alocar nosso tempo da melhor forma. Frequentemente, estamos fazendo um trabalho de que não gostamos. Ou então estamos simplesmente à toa. Aquela que é a melhor das opções - estar ocupado com algo de que realmente gostamos e que nos faz felizes, por mais que seja trabalhoso - raramente ocorre.
Pare de se sentir culpado. Pouco se pode fazer com relação a trabalhos odiosos. Mas sempre que o mundo profissional lhe presentear com um monte de nada pra fazer, tenha seus próprios projetos e dedique-se a eles! Pode ser algo para estudar, uma pesquisa, alguma coisa artística que você consiga fazer, fazendo uso deste tempo. O ideal seria deixarmos de ser hipócritas, pois é uma hipocrisia achar que ficar sentado em uma escrivaninha durante o "horário de trabalho" sem fazer nada é algo mais responsável e louvável do que sair e ir fazer qualquer outra coisa.
Sim sim, meu dia foi muito útil!
Pare de se sentir culpado. Pouco se pode fazer com relação a trabalhos odiosos. Mas sempre que o mundo profissional lhe presentear com um monte de nada pra fazer, tenha seus próprios projetos e dedique-se a eles! Pode ser algo para estudar, uma pesquisa, alguma coisa artística que você consiga fazer, fazendo uso deste tempo. O ideal seria deixarmos de ser hipócritas, pois é uma hipocrisia achar que ficar sentado em uma escrivaninha durante o "horário de trabalho" sem fazer nada é algo mais responsável e louvável do que sair e ir fazer qualquer outra coisa.
Sim sim, meu dia foi muito útil!
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quinta-feira, 17 de maio de 2012
O nascimento da cidade
Gostamos dos alarmismos. Respiramos os alarmismos. Esta cidade é grande, é gigante, e fico pensando se existiria uma cidade assim gigante se não fosse nossa paixão pelo alarmismo. Economistas sonham, dizendo que é a troca que une as pessoas. Tendenciosos. Infantilmente tendenciosos. A cidade só se formou na História porque as pessoas queriam ficar perto, uma das outras, para serem as primeiras a ficarem sabendo das notícias. Especialmente das notícias ruins.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Por favor
Você está brincando comigo, não é? Não tem um namorado para incomodar não? Precisa mandar essas mensagens para mim justo hoje? Eu trabalho para te esquecer. É um esforço. Um esforço consciente e ativo. Eu conheci uma outra pessoa, sabia? Conheci tem pouco tempo. Fomos almoçar algumas vezes. Eu não quero ser menos amoroso com ela do que deveria só porque, de repente, você apareceu pedindo atenção. Não quero deixar de ir almoçar com ela ou de vê-la num sábado ou domingo porque, de repente, depois de meses sumida, você veio pedindo coisas que só minha amizade poderia oferecer. Venha dar risada. Escreva histórias. Divida sua vida. Mas não cobre esse afeto exclusivo que tantas e tantas vezes eu insisti em deixar só pra você sem que isso nunca lhe significasse nada. Me deixe em paz. Me deixe te amar em paz. Em silêncio. No meu canto. Em segredo. Em segredo bem guardado, até que eu esqueça também.
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quinta-feira, 3 de maio de 2012
A jornalista
Tem esse contraste. Ela tem uma auto-estima muito baixa. Muito baixa mesmo. Contenta-se com pouco, com migalhas. Mas é muito orgulhosa. Acho que é isso o que irrita. Porque ela não hesita nas palavras. Coisa de jornalista, talvez. Você está contando uma história e ela diz cansei disso, vamos falar de outra coisa. Ou você mostra a ela algo que fez e ela dispara ficou uma bosta, precisa melhorar. Mas com ela é diferente. Nunca teve um namorado por muito tempo e isso certamente a machuca. Como não machucaria?
Saiu de casa. Tem seu apartamento. Cuida das cores na parede, da geografia dos móveis. Arquiteta os sabores da cozinha e orquestra os horários do dia para acertar a harmonia do mundo. Adulta. E sobra este último recanto onde seus poderes não penetram: as ordens do coração. Nos maus humores de acessos pessimistas poderiam dizer que é cancerígena essa falta que temos de um outro. Com tantos amigos assim pela vida, porque é que falta tanto esse amor romântico? Vítimas de uma biologia anacrônica? Das contradições, chame-as por dialéticas, ironias ou grandes filhas-da-putice dos desígnios divinos, essa é uma das grandes: ao prazer se vai pelo caminho da dor e não se oferecem atalhos.
Vai ver é bem por saber dessa verade que ela segue, teimosamente, caminhando.
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Aliança
Juntou todas as moedas ao longo de meses. Chegava em casa, o que tinha de moeda no bolso ia para dentro da garrafa de coca-cola. Nesse meio tempo ocupava-se de se apaixonar mais e mais e mais. Nos passeios pelo shopping a namorada sempre passava pela joalheria. Olha só essa aliança, que bonita!
Com a garrafa quase cheia, finalmente o dinheiro bastava. Foi à joalheria. A dona da loja ficou encantada com aquela cena. Correu para buscar uma filmadora. Era o maior ato de amor que já havia testemunhado, alguém juntando tantas moedinhas assim para agradar a namorada. Mas não deu desconto. Ele haveria de pagar cada centavo, no amor não se pode facilitar!
Aliança comprada. Surpresa arranjada. Estava no bolso, aguardando um momento certo.
Só os dois, no quarto dela.
E ela lhe contou que queria voltar com o ex-namorado.
As alianças ficaram no bolso.
Com a garrafa quase cheia, finalmente o dinheiro bastava. Foi à joalheria. A dona da loja ficou encantada com aquela cena. Correu para buscar uma filmadora. Era o maior ato de amor que já havia testemunhado, alguém juntando tantas moedinhas assim para agradar a namorada. Mas não deu desconto. Ele haveria de pagar cada centavo, no amor não se pode facilitar!
Aliança comprada. Surpresa arranjada. Estava no bolso, aguardando um momento certo.
Só os dois, no quarto dela.
E ela lhe contou que queria voltar com o ex-namorado.
As alianças ficaram no bolso.
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terça-feira, 1 de maio de 2012
Ressaca moral
Vou ficar aqui com essa corrosão. Não no fígado, mas nos pensamentos. Posso até imaginar o que se passou na cabeça dela:
Minha amiga perguntou para ele se havia interesse em mim. Ele disse que havia. Homens. Sugeri sairmos no sábado e, acredite se quiser, sábado a tarde ele me manda uma mensagem dizendo que está bêbado e não poderá sair! Como assim? Vai passar o dia bêbado, é isso? Eu não quero sair com um homem que não consegue manter um compromisso porque fica largado ao álcool num descontrole de comemoração. É o aniversário dele, eu sei. Foi por isso, aliás, que o conheci. Ele apareceu no escritório, onde trabalho com um amigo dele, para dividir bolo e doces de aniversário. Falante, sorridente. Olhos claros, moreno. Fiquei interessada. Mas bêbado? Não, bêbado não funciona, não vai. E eu quero alguém para namorar. Não quero alguém para ficar saindo apenas nos breves lapsos de sobriedade. Não vai funcionar assim. Já tomei as providências. Está bloqueado no meu Facebook. Não respondo mais mensagens dele no celular. Esta última providência, vale dizer, achei que nem seria necessária. A ressaca o segurou por mais dois dias sem se manifestar! Só ontem recebi uma mensagem dele, perguntando se a página do Face estava mesmo bloqueada. Criança. Não entendeu o recado ainda? Quer que a tia desenhe? Estou procurando alguém sério. Quero namorar. Não quero um homem para me levar para a baladinha, tomar umas - ou todas, no caso -, e depois sumir. Quero um homem para conversar sobre meus pacientes, sobre minha família, para ouvir as histórias dele, para acharmos uma casa, para ficarmos juntos em dias de chuva, para nos telefonarmos. Quero uma companhia. E me aparece um bêbado. Sabia, eu sabia mesmo que havia algo de errado. Alto, olhos claros, solteiro, nerd, juraram que não era gay. E eu fui muito inocente. Bêbado. Só podia ser bêbado!
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