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sexta-feira, 6 de março de 2020

Nuvens

Eu tinha os olhos fixos no palco. Nela.

Parte de mim achava ridículo como ela se mexia feito boneco de posto de gasolina, jogando os braços e a cabeça para os lados como se aquele subsolo velho de paredes esfarelando estivesse sendo invadido por um Katrina. Wind. Wiatr.

Parte de mim entendia que se mexer daquele jeito livre e prazeroso, na frente de estranhos, era uma coragem maior do que eu jamais teria. Eu sentia inveja. Não era um papel. Não era ma interpretação. Não era o espelho das expectativas alheias. Era ela. De dentro pra fora.

Aquela liberdade brilhava uma luz que fazia entender o quão preso eu estava em mim.

domingo, 11 de agosto de 2019

Descalço

Praia. É impossível quem não goste do mar. Não que não exista essa gente, mas não são boas pessoas. A praia é a igreja de quem acredita no Mundo.

domingo, 20 de maio de 2018

GPS

"Você chegou ao seu destino."

Toda vez que o GPS fala comigo desse jeito eu fico preocupado.

"Então era esse o meu destino? Essa padaria sem graça? A casa do Thiago? Essa agência do Banco do Brasil?"

É uma piada que outros fazem também. Um amigo diz que jamais procura por um cemitério no GPS. Chega aos velórios pedindo informação à moda antiga ou colocando referências próximas. "Já pensou? Estacionar em frente a um monte de tumbas e o GPS dizer que é o meu destino? Prefiro colocar alguma referência próxima. Se for um extra, tanto melhor. Todo mundo chegando pra tumba e eu levando um Extra!"

Rimos.

Mas, piadas à parte, há duas observações mais sérias a fazer sobre essa corriqueira frase dos pilotos eletrônicos.

Primeiro: é a máquina falando ao homem. É ela que o trouxe ali. E é ela que determinou que o objetivo final havia sido alcançado. O pedido inicial do endereço foi inserido por um humano. Detalhe. Logo isso mudará, aguarde.

Segundo: todos os dias, a todos os instantes, pessoas estão ouvindo essa frase ao redor do mundo. A frase "Você chegou ao seu destino" é dita ao menos 150 mil vezes a cada minuto em algum lugar da Terra por um dispositivo eletrônico se dirigindo a humanos.

Não posso deixar de pensar que eles estão certos. A todo instante, e isso vale para todo mundo, chegamos ao nosso destino. A algum destino.

Quando o GPS anuncia o fim de nossa viagem geralmente é motivo de alívio. Chegamos a algum lugar, agora vamos aproveitar esse lugar (não vale para o cemitério, ok, mas o argumento permanece). Hora de aproveitar o barzinho, resolver as coisas no Banco ou assistir um filme na casa do Thiago e pedir uma pizza.

Noutras vezes podemos simplesmente ignorar o aviso. "Você chegou ao seu destino." Aí você olha para o bar e desiste. Mereço algo melhor. E continua indo.

Vale o mesmo para a vida.

A cada instante, ainda que nem os GPS's revelem tanto, Você Chegou ao Seu Destino. E a cada instante cabe a você a decisão de aproveitar um pouco por aí ou seguir viagem.

domingo, 15 de outubro de 2017

Churchill e o Instagram da Mari

Era quase madrugada. Ou era já madrugada. Nem lembro. Tem semanas já. Ela me contava seu drama.
-Eu tenho meus projetos, minhas ideias, mas não sei direito o que fazer. Estou travada, entende. Não me sinto exatamente segura por onde começar, por onde ir.
E então contei a ela a história do Churchill que li anos e anos atrás numa velha coletânea especial da revista Seleções do Readers's Digest. Uma seleção especial sobre os tempos da Segunda Guerra. O texto contava que uma vez Churchill estava recluso em sua casa tentando se dedicar ao seu hobby pessoal. A pintura. E havia instruído os criados a não permitir a entrada de ninguém. Mas então chegou uma moça que era sua amiga de infância e que tinha muita liberdade com ele, com os criados, e que não se dobrava facilmente a instruções do tipo "ele pediu para não ser incomodado". Infelizmente não me lembro agora o nome da moça e ainda não fiz as devida pesquisas no Google (mas você pode cuidar dessa parte e me informar, fique à vontade). Acontece que a moça entrou no salão em que estava o notável primeiro ministro inglês e o viu estático, pincel na mão, diante de uma tela em branco.
-O que está fazendo?
-Estou pintando.
-Mas a tela está em branco! O que está pintando?
-Uma rosa.
-Mas não tem nada no quadro... por que?
-Estou pensando por onde começar!
E então ela retirou o pincel das mãos do Churchill, fez um único traço sobre a tela, devolveu o pincel àquele atordoado fumador de charutos e lhe explicou:
-Pronto, agora é só continuar.
Eu achei a história fantástica. Pensei em quantas e quantas coisas de nossa vida se reduzem no fundo à essa lição fundamental. A importância de um primeiro passo, qualquer que seja, como muito mais importante do que a consciência precisa do "melhor primeiro passo possível". O movimento sobre a estagnação. A vida em si como o próprio movimento. Contei todas essas histórias à Mari. E ela, fotógrafa, me contando sobre o plano de seu Instagram profissional para o qual não tinha coragem de convidar ninguém. Porque ainda não tinha as fotos certas. Porque ainda tinha dúvidas quanto ao projeto.
Conversamos por mais algumas horas. Depois nos despedimos e fui tomar banho.
Antes de dormir não resisti e conferi novamente o celular. Havia um convite daquele novo Instagram dela e uma nova foto publicada.
Minha querida, uma certeza eu tenho: Churchill estaria com inveja.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Versões

"Acho que às vezes precisamos aceitar que já somos ótimas versões de nós mesmos."
Obrigado.
Mudou meu dia.
Mudou meus dias.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

As verdadeiras jornadas

“A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam nossas fronteiras interiores”. Mia Couto sabe das coisas.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Se conselho fosse bom...

Aí uma amiga minha escreve no Facebook dizendo que gostaria de escrever mais, que tem muitos textos guardados, mas que acha que as coisas são egocêntricas demais e que não quer se expor. Aí eu escrevo pra ela dando uma certa bronca, dizendo que ela tem que confiar mais nas coisas dela, escrever sim, se expor, e deixar o julgamento dos outros para lá.

Foi isso o que eu disse a ela. Eu, um pseudônimo mal inventado de um blog imaginário que habita há 6 anos no limbo dos escritos secretos.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Vida de gato

O gato não desperdiça suas energias em estados intermediários. Ou está sendo um dos animais mais ágeis da natureza ou está em repouso como se tivesse sido mumificado.

Pare de gastar energias em estados intermediários. Viva plenamente seus extremos.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O valor de aprender

Vão ouvir você tocando piano e vão dizer que está perdendo seu tempo. "Ele é meu amigo, se está me criticando é para o meu próprio bem. Está sendo sincero". Aí vão observar um garoto, talvez asiático, com doze anos, tocando Satie ou Chopin maravilhosamente bem. "Tá vendo só? Isso é que é saber tocar! Eu realmente estava perdendo meu tempo!"

Será? As pessoas são pródigas em criticar umas às outras, abertamente ou não - com uma preferência clara pela segunda modalidade. Mas é fato: destruindo o prazer e o incentivo ao aprendizado, nada que dependa do aprendizado irá acontecer. Praticar e errar praticando é parte fundamental do aprendizado de qualquer coisa complexa: tocar piano, escrever bem, dirigir, trabalhar com um software complexo, qualquer coisa. Os cientistas Herbert Simon e William Chase estimaram que os grandes "gênios" gastaram entre 10.000 e 50.000 horas aprimorando suas habilidades até chegarem ao estágio de excelência em que todo mundo olha para eles e diz "olha só! nasceu com esse dom!".

Não deixe o mundo destruir seu prazer em aprender, em tentar, em apreciar cada tentativa - acertada ou não - e crescer com ela. Milhares de horas depois, todos vão te invejar, embora ninguém resolva seguir seu caminho pois vão ver que não são como você, não "nasceram com o dom"...