“A mind too active is no mind at all.”
THEODORE ROETHKE
Cadê o freio, cadê, cadê?
O que é um heterônimo afinal? Uma vida escondida atrás de uma mentira? Ou uma verdade escondida atrás de uma vida?
“A mind too active is no mind at all.”
THEODORE ROETHKE
Cadê o freio, cadê, cadê?
Do livro "A dor de amar":
"Entretanto, todo o meu saber sobre a dor - naquela época, eu já estava escrevendo este livro - não me protegeu do impacto violento que recebi ao acolher a minha paciente logo depois do acidente. Naquele momento, o nosso laço se reduziu a podermos ser fracos juntos"
Aqui trata-se de uma relação psicólogo-paciente, mas poderia ser qualquer outra. Por fim, o que resta, muitas vezes, é a permanência da palavra "juntos", ainda que outras coisas se intrometam. Bravos juntos. Revoltados juntos. Tristes juntos. Quietos juntos. Sozinhos juntos.
Lembro de uma conversa que tive com minha primeira namorada. Ela era musicista, amiga da minha irmã, e eu a conheci no casamento do meu irmão. Eu estava tomado por uma felicidade extrema dessas que acompanham as primeiras experiências. Essas histórias que, sem referências, se enchem de absolutos. Com a vista turvada por tantos exageros, não percebi o óbvio. Ela acabara de sair de uma relação longa. Seis anos. Ainda tão nova, e... seis anos! Quando ela me conheceu, aceitou o relacionamento como forma de esquecer a relação anterior. Mas foi tudo muito rápido e alguns meses depois ela resolveu voltar com o antigo namorado. Foi então que eu soube de tudo. Conversamos por um bom tempo. Eu com aquela esperança idiota de encontrar algum caminho para salvar as coisas. Ou com aquele sadismo estúpido insistindo em mais detalhes como se os revelados já não me machucassem o suficiente. E aí ela me explicou como era estar com ele. "Com ele é leve eu passar o dia. Podemos ficar juntos o dia inteiro na casa, como se eu estivesse sozinha, entende? Sozinha, mas com ele aqui." Sozinhos juntos.
A babá soube que o menino havia mentido. Foi interrogá-lo diretamente.
- Você mentiu?
Fez que não, decidido. Apenas cinco anos e já mostrava uma determinação sólida em suas trapaças.
- Olha, eu vou perguntar de novo, e se você mentiu é melhor me contar! Porque mais cedo ou mais tarde eu vou ficar sabendo mesmo.
- E como você vai ficar sabendo? - perguntou o menino, tomado de curiosidade.
A babá explicou.
- Sabe aquela escadaria na entrada do colégio? Ela detecta mentirosos. Se você estiver mentindo, o terceiro degrau vai se quebrar e você vai despencar em um abismo!
O menino ficou pálido, completamente quieto e compenetrado. Até que chegaram em frente à escola. A babá, agora em tom grave, se dirigiu a ele.
- Vou perguntar mais uma vez... Você mentiu?
Engoliu em seco, olhou nos olhos dela e não chegou a emitir um único som. Apenas balançou a cabeça. Em negativa.
Posicionou-se diante da escadaria de madeira e parou por um momento. Olhou para a babá. Movimentou o primeiro pé e começou a subir. Primeiro degrau. Segundo degrau. Hesitou. Terceiro degrau. Prosseguiu. Nada aconteceu. Quarto degrau. Terminou de subir até o topo e então, exultante, voltou-se para a babá:
- Acho que tá quebrada!
História adaptada das "Piccole storie senza morale"
"Nada deixa [Cartier-Bresson] mais secretamente feliz do que fazer um uso deliberado do aristocrático prazer de desagradar."
A biografia do grande fotógrafo, escrita por Pierre Assouline, vai direto ao ponto. O prazer de desagradar. Deveríamos ter mais consciência desses escondidos prazeres da vida.
"as confidências menos falsas são feitas com mais facilidade a desconhecidos"
Verdade. E aí fico pensando que um dos grandes desafios que tenho pela frente é o de desconhecer-me. O de ignorar-me a ponto de conseguir confessar a mim mesmo coisas que sei estarem escondidas em algum lugar lá no fundo.
“A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam nossas fronteiras interiores”. Mia Couto sabe das coisas.
Chandler Bing