domingo, 20 de janeiro de 2008

Mente perturbada

Ele só queria ir para o seu recanto de solidão. O seu pequeno reinado da eterna bagunça, com coisas jogadas pelos cantos, livros desarrumados, papéis cheios de notas ignoradas. Queria se sentir leve, calmo, e quem não gosta de se sentir assim? Mas não podia esconder, ao menos de si mesmo, a raiva que tinha da ignorância da mãe e da tia, manifestas naquela discussão à mesa. E, em seu quarto, aquele pequeno reinado particular, a irmã ocupava o computador, deixando-o longe da solidão de si.

O pai ligou. Saudades? Não... O pai dava conselhos em sua vida, mas e daí? Sentia é raiva, raiva mesmo. Que sabe ele, afinal, para sair assim aconselhando a esmo conselhos genéricos, desprovidos de qualquer detalhe? Nunca quis tanto ficar sozinho, e ainda assim a solidão é sempre temível. Nossos sonhos e nossa auto-consciência criam terremotos cataclísmicos quando se descobrem em discordância.

E as saudades e as carências, como organizá-las? As bagunças dos livros e revistar jogados, CD's guardados em caixinhas erradas, essas eram mais compreensíveis, muito mais digeríveis: ele sabia como contorná-las, e deixar tudo assim era apenas uma questão de escolha, de perguiça. Mas quanto à bagunça de sentimentos era o oposto. Havia o desespero de pôr tudo no lugar, e não se tinha a menor idéia de como fazê-lo. Ele lembrou daquele cabelo deslizando na ponta de seus dedos enquanto via aquele olhar adormecer. Lembrou do cheiro dela. Da voz dela. Mas os fatos se atropelaram de tal maneira...

Nenhum comentário: