
Vez ou outra um avião cruza os céus como um calendário caindo no mosteiro. Vai embora e tudo se esquece novamente. Grito. Grito forte, muito forte. Não escuto nada. Estou gritando por dentro, mas não percebo. Não escuto, mas a voz já estava em todos os lugares.
Piso passo a passo nas coisas que não têm sentido, nos fantasmas que me perseguem. Castelos de cartas, castelo de areia, castelos de sonhos, castas de monstros incompatíveis com o instantâneo eterno.
Sempre amei, e a areia sabe. Nunca fiquei sem namorar. Nunca deixei que a areia ficasse sozinha. Por vezes perdi olhares de perto. Aprendi a cativá-los com o tempo. Mas corações... Corações caminham todos comigo na praia. Porque a praia não tem tempo. Porque a praia tem todos os tempos.