sexta-feira, 26 de junho de 2009

Multidão

Ah, vida, sua palhaça! Você abusa de mim, não tem vergonha? Você é irônica, mais irônica que eu. Mais sem pudores, mais sem princípios, mais sem remédio!

Ele saiu andando. No meio da noite. Pelas ruas do bairro. Pelas avenidas. Pelas estradas. No meio da noite. Pelo meio do nada. Até a montanha mais alta. No meio da noite. Sentou-se à beira do precipício, pernas balançando ao vento. No meio da noite. Sozinho. Olhava o mundo. Olhava a vida.

Tenho raiva de você, e morro de amores também. Não sei onde você se instala, onde pulsa seu coração, se no acaso das coisas indiferentes ou se no onipresente arquitetar divino. Pouco importa. Seja lá o que for, o efeito é esse: irônica até não poder mais. Vida, querida vida...

Abriu uma garrafa de conhaque. Tomava num pequeno copo de vidro, sem tirar os olhos das luzes ao longe. No meio da noite.

Eu cuspo em você com minhas irresponsabilidades e meus impulsos, e você, feliz dos meus pulos de vida, faz o mesmo em retorno! Que graça, que alegria. Amo ser zombado por você. Invisível. Me abraçando assim sem me tocar, de todos os cantos. Namoro minha vida num namoro angelical. Não sei onde fica seu centro pulsante, mas me sinto abraçado por todos os lados o tempo todo. De forma sedenta. De forma selvagem. Minha vida zomba de mim. Minha vida não me larga. Amo minha vida.

Tomou mais um gole. Jogou o copo ao longo só para ouvir o barulho dos estilhaços lá embaixo.

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