sábado, 10 de agosto de 2013

Dionísio

Dionísio. Deus das festas, do vinho, das alegrias. Personificação da irresponsabilidade, da embriaguês.

Dionísio. Colega de trabalho de um escritório em que trabalhei. Magrinho, fala concentrada, de voz baixa. Dedicado, pontual, inteligente.

Que semelhanças e diferenças há entre um Dionísio e outro? O vinho, as festas e tudo o mais... isso remete a irresponsabilidades e excessos. Um espírito inconseqüente. À primeira vista o Dionísio com quem trabalhei era o oposto disso tudo. Responsável pela parte mais complicada dos softwares da empresa, viviam pedindo atualizações e alterações a ele.

- Dionísio, pode inserir este campo no relatório do banco de dados?

- Dionísio, pode descobrir quantos clientes atendem estes critérios?

- Dionísio, pode bloquear a liberação de procedimento quando estas informações cruzadas acontecerem?

Ele ouvia as solicitações. Fazia as perguntas técnicas pertinentes. E desaparecia. Imaginávamos Dionísio como o nerd realizado. Ele e o computador em uma história de amor em plena lua de mel. Ele e os manuais de linguagens de programação, aqueles livros gigantes que ninguém lê. Ninguém, só o Dionísio.

Aí o Dionísio sumiu. Na verdade, levamos alguns dias para perceber que ele tinha sumido. Porque ninguém conversava com ele. Ninguém almoçava com ele. Ninguém dava bom dia e ninguém dava tchau, até amanhã, para o Dionísio. Só falavam com ele quando havia alguma solicitação. Assim, só deram pela falta dele quando surgiu uma nova solicitação e ninguém encontrava o Dionísio em canto nenhum. Telefonaram para a casa dele (depois do enorme parto que foi descobrir qual era o telefone da casa do Dionísio).

- É a esposa dele... o Dionísio faleceu semana passada.. teve um ataque do coração fulminante...

Uma vida engrenada como uma peça de relógio. Dedicada e concentrada como um chip de computador. Uma vida de abstinência de contato social, de distrações, de risadas, de conversas no cantinho do café. Uma vida dedicada a estudo e trabalho.

Dionísio: excesso, inconseqüência, vício e irresponsabilidade. No final das contas, os Dionísios da mitologia e o real não eram assim tão diferentes. Apenas sucede que os vícios do Dionísio com quem trabalhei eram bem mais chatos.

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