terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Desculpe

Não tem nada que assuste mais do que uma invasão. Eu sei, porque minha casinha em Linhares foi arrombada uma vez. Eu não estava lá. Mas, quando cheguei, vi que estranhos a haviam invadido. E não levaram nada sabe, nada mesmo! Eu tenho livros. E o meu computador é sempre um computador com dez anos de idade ou mais, em cima da mesa. Dá preguiça de roubar. Esse episódio me perturbou mais do que o assalto no Rio. Que foi a mão armada. Com cano na cabeça e ameaças olho no olho.

Há algo de psicológico responsável por essa diferença. O evento no Rio deveria ser muito mais grave em minhas lembranças do que a invasão da casinha de Linhares. Mas não. Lembrar da casa bagunçada, das coisas reviradas, dá mais raiva em minhas lembranças do que as memórias dos instantes em que a vida esteve por um fio.

Eu sei que eu entrei nos seus espaços sem ser convidado. A página estava na internet, não é mesmo? Qualquer um no mundo poderia entrar lá. Mas era seu espaço. E meus comentários eram invasivos, bagunçavam a ordem natural das coisas. Toda vez que acesso sua página e vejo que o tempo vai passando, passando e passando, e você não escreve mais, fico pensando se tem algo a ver comigo.

Talvez seja pretensão demais por minha parte. Achar que eu, sozinho, teria tanto peso no silenciar de suas inspirações. Talvez tenha sido essa coisa mais horrenda, insensível e indiferente: o chegar da vida adulta. Torço por isso. Para não ser culpa minha. Mas isso também me entristece. Achar que eu poderia, algum dia, desfazer esse seu sumiço, me conforta de algum modo. Eu o faria se soubesse como. Já contra a vida adulta, o que posso fazer?

Você tem o trabalho. O cansaço dos ônibus de ir e vir. Os tempos contabilizando salários e contas. A comida para preparar. O apartamento pra arrumar. O namorado pra curtir. A família para visitar. Os amigos.

Quando tem aqueles tempos sozinha, você diante do teclado, você e seus sentimentos. Aquela solidão espiritual para psicografar belezas de lá de dentro. Foi a vida que silenciou seus escritos? Ou foi minha anônima impertinência? Se tive qualquer parcela nisso: desculpe.

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