domingo, 8 de outubro de 2017

Garçon fanfarrão

Tempos modernos. Diversidade cultural, racial, feminismo, secularismo e tudo o mais. É essa a era em que estamos, certo? Isso não impediu um garçon de zoar minha zoeira. Explico. Havíamos todos combinados de nos encontrar em um tradicional bar da Rua Augusta. Trocando os nomes para preservar a privacidade dos meus queridos, digamos que eu aguardava a chegada da Sarah, da Mariana e do Jeferson. Estava sozinho lá e comecei a perturbar meus amigos pelo WhatsApp. Temos um grupo com todos e lá comecei a mandar as tradicionais mensagens.
-Já estou aqui!
-Cadê vocês?
-A cerveja está esfriando!
Aí perguntei para o Jeferson, que costumava se enrolar no serviço:
-Jé! Você vem mesmo? Já arranjei uma mesa!
E ele mandou uma mensagem engraçada:
-Me espere com uma rosa vermelha que eu vou!
Juro que, nesse instante, estava passando bem em frente à janela da minha mesa um vendedor de rosas, desses ambulantes. Ele oferecia as rosas a um jovem de um casal que estava sentado nas mesinhas da calçada.
Como eu acho que o humor e o riso vale mais que qualquer coisa, achei as rosas até que baratas. Comprei e deixei à mesa.
Quando o Jeferson chegou, viu a rosa sobre a mesa e riu. Já ali minha compra havia valido a pena.
Mas aqui deve-se acrescentar um detalhe importante à narrativa. Jeferson é negro. Assim como o garçon. E quando o garçon veio nos oferecer mais uma cerveja viu a seguinte cena:
Ambos sorridentes, eu e o Jeferson, sentados um de frente para o outro, com uma vívida rosa vermelha entre a gente, na mesa.
Estávamos na Rua Augusta, um dos lugares mais liberais da cidade. Mas ainda assim o garçon não se conteve. Olhou para o Jeferson e teve uma efusiva reação.
-Ah não! Poxa amigo! Como é que fica pra gente? (e ao dizer isso apontou, com o indicador da mão direita, para o braço esquerdo, evidenciando a cor da pele).
Rimos, explicamos a piada e ainda reagimos:
-Amigo, mas estamos na Augusta e você reage assim? E se a gente fosse gay mesmo? Acabava processado!
Ao que ele riu novamente e se defendeu:
-Processado nada, estou rindo, brincando. Aqui é tudo na paz.
Era um garçon fanfarrão. O tipo de pessoa que faz valer a pena não ir a um McDonnalds.

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