Casamos. À igreja fui com um terno de timidez alugada, que hoje em dia não se usa ter essas coisas de posse própria.
Naqueles tempos difíceis de pintar paredes e inventar quintais trabalhava o dia inteiro. Só a via aos finais de semana. Vivíamos juntos, mas íamos nos apresentando ainda. Eu costumava colocar uma bermuda de irreverência, meu boné de frases feitas e meu chinelo velho de risadas fáceis, que quanto mais velho mais confortável fica.
Hoje somos íntimos. Antes de deitarmos, sento à beira da cama. Meia luz. Tiro meus sorrisos fáceis, botão a botão; jogo-os sobre ela com desdém desafiador. Está frio. Ainda assim, me desfaço de minhas melancolias escondidas, puxando-as das pernas com os pés. Dos pés, tiro minha solidão secreta e minhas lembranças pseudo-esquecidas, que em dias normais me aquecem por debaixo de belos sapatos de auto-estima exaltada e extrovertida. Sempre muito bem lustrados.
Deito-me ao lado dela e nos cobrimos de segredos pesados e macios. Quentinho bom. Tiro por fim, devagar, meus receios desmedidos, pudores mentirosos... Aí então ali, junto a ela, despido de tudo o que sou, a amo. Aí então ali faço do amá-la tudo o que sou.
3 comentários:
Que belo texto! Adorei!
Algumas coisas ficam mais belas vestidas com tuas palavras bem escolhidas!
bjs
achei o seu blog no de uma amiga.
a delicadeza das suas palavras com as imagens fortes mas doces. achei lindo. tava procurando uma boa 'exposição' sobre o amor sem grandes 'explicações'.
obrigada,
beijo
Teu texto simples e singelo encanta, volto mais vezes no teu blog!
=]
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