Meu tema é o mundo, é assim que é. É essa a razão. Criticam com gosto a indeterminação de meus temas. E daí? Eu não me rendo facilmente, de modo algum. Além de pensar sobre a natureza, sobre o amor, sobre a matemática, sobre a música, sobre as verdades e sobre a política, passo a pensar também sobre isso: sobre o tempo que as pessoas investem em criticar a indecisão de meus temas. Soma-se à lista um novo tema pois no fundo o tema é sempre um: o mundo. A experiência da vida. Isso não se divide. E, sinceramente, custo a entender lá nos limites de minha abstração como é capaz que outros escritores consigam tal limitação. Eles enxergam com preferência apenas uma fração específica do mundo? Ou será que a vida lhes ceifou a curiosidade em áreas muito mais dispersas?
Senta-se diante da mesa. Hora de escrever. Pode-se falar sobre a origem dos nomes de plantas raras em alguma ilha do Pacífico. Pode-se também falar sobre a polêmica envolvendo o preço do transporte público aqui na minha cidade. E pode-se inventar uma história totalmente maluca, talvez de mistério, talvez de amor. A questão é: por que este tipo de escolha deveria ser irreversível? A modernidade não chegou completamente aos escritores, talvez seja isso. Não é de estranhar por completo, claro. Afinal a escrita é muito menos apegada ao presente do que qualquer outra coisa. Telefones celulares são presos ao seu tempo. Preconceitos são presos ao seu tempo. Orientações políticas, essas coisas. Mas a escrita não. A escrita tem uma inércia muito mais lenta e os escritores, via de regra, são muito mais conectados ao passado do que qualquer outra pessoa. Ganham até de paleontólogos, pois não estão ligados aos restos presentes de um passado distante: estão mergulhados na essência completa do pensamento antigo tal como ele se cristalizou na escrita. Leia um clássico e torne-se um ser dos séculos.
Mas um dia a modernidade tem que chegar. E é da modernidade essa coisa de liberdade. Os Estados Unidos são muito mais livres que a democracia ateniense, que escravisava e negava votos. E a modernidade permite o divórcio em nome da felicidade, não é mesmo? Pois bem, todos os dias me divorcio. Peço o divórcio dos estilos com os quais me comprometi ontem e vou explorar novos terrenos. Talvez eu volte aos terrenos antigos, claro. Mais que um amor simplesmente livre: promiscuamente libertino. É assim mesmo. Meu prazer com as letras ultrapassa o gozo sexual. E é por isso mesmo que não ligo para as críticas, não há como. Porque não consigo desligar meu sorriso de prazer. Que eles reclamem, reclamem e reclamem enquanto eu me deleito com um mundo infinito de assuntos por descobrir e esmiuçar.
quinta-feira, 19 de março de 2020
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