Algumas pessoas começavam a cantar junto, eu podia ouví-las. O ambiente estava cheio mas não estava lotado. Cheio sem ser muvucado. Eu não precisava mais olhar. Fechava os olhos e cantava sem me importar com a voz enferrujada depois de tantos meses quieto olhando para livros e assistindo documentários no YouTube. Quando abri os olhos a vi. Pulava e sorria e jogava os braços para o alto. Era feliz como se não pertencesse a esse povo sério e introvertido. Não que as pessoas aqui não dancem. Mas ela não era do nosso grupo. Simplesmente havia se aproximado e dançava e sorria. Que tipo de gente faz isso?
Depois da música voltamos todos às mesas. Ela estava sentada atrás da gente. Bancos de madeira. Conversamos. O que fazemos aqui, os estudos, os trabalhos, os idiomas, onde conhecemos nossos amigos. E aí eu quis saber de onde ela veio.
- Você é daqui da cidade mesmo?
- Não. Vim pra cá há dois anos.
- Veio estudar?
- Não, eu vim fazer tratamento. Estou com câncer. Os médicos dizem que talvez eu viva dois anos. Eu acho que vou viver mais. Mas não sei quanto. Quando você fez exame de sangue pela última vez? Amigo, vá fazer um exame de sangue! Eu estaria bem melhor se tivesse descoberto antes.
Ela era a pessoa mais feliz ali. Sorria, dançava com as pessoas, cantou sorrindo e rindo diversas músicas. Brindou jarras de cerveja com diversas pessoas.
E eu a olhava e olhava as pessoas em volta. Sem saber direito o que se passava dentro de cada um. De suas psicologias e de suas biologias. Mas eu via o que aflorava para além da superfície transbordando em volta. E era bem claro de quem emanava mais vida ali.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020
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