Estreou ontem. Apesar da minha pouca fé, coisa do ofício de crítico, fiz uso das minhas credenciais para conseguir um ingresso grátis e deixei o racionalismo econômico consumar seus equívocos. O teatro estava lotado, e a julgar pelos outros eventos culturais que lotam ultimamente, já tínhamos aí um indicador natural da qualidade a esperar para a peça.
Uma hora e meia. A peça começa com um bebê e termina com um funeral. A vida inteira de uma pessoa. A idéia, assim colocada, parece atrativa. Mas assim como acontece com a vida da maioria dos bilhões de humanos deste planeta, nada de significativo realmente aconteceu. Foi vítima de bullying na escola. Uma namoradinha que não deu certo. Discussões em família. O primeiro emprego. Um casamento que não deu certo. Filhos. Sonhos comentados e que não foram adiante. O marasmo do trabalho. Três longos minutos em uma fila para exame se remédios já na velhice. Fazendo as contas, pelo tempo da peça, foi a representação de uma espera de 3 anos ou quase isso - exagero.
O personagem principal não tinha nome. Um anonimato que busca a generalidade? Não é assim que se faz literatura. É ao ilustrar bem um particular que a arte explode na mente da platéia uma compreensão pela geralidade. Generalizações explícitas pertencem ao domínio dos chatos textos de sociologia, antropologia, estatísticas sociais. É por isso que essa peça ficou tão chata. Se aproximou demais desse discurso nerdetizado.
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