- Achei quatro cadernos lá em casa. Cadernos velhos.
- E o que tem neles?
- São diários.
- Diários! Você tem diários guardados! Vai deixar eu ler algum dia?
- Não. Eu li um pouco. Acho que não quero ler mais. Estou em dúvida sobre jogá-los fora ou não.
- Como assim? Mas são seus cadernos, sua história! E quatro... quatro! Você escreveu em todas as folhas né? Você não é de fazer desenhos... sair pulando linhas... escreveu em todos os cantos, não é?
- Sim...
- E por que quer jogá-los fora?
- Quanto tempo perdido, sabe... Fico lá... apaixonado por esta ou aquela menina, todo carente, todo mergulhado em existencialismos... Acho que é um passado um tanto quanto patético. Tempo jogado fora. Eu poderia ter feito outras coisas.
- E jogar o caderno fora muda isso, de algum jeito?
- Não quero cultuar esse passado de modo algum. Não quero mergulhar nunca mais nessas tristezas. Deveria ter sido muito mais prático com meus sentimentos. E fico me perguntando se não sou assim ainda... E então não quero mais ser. Não quero ser assim nunca mais. Eu que vá fazer algo da vida. Escrever um livro. Viajar para algum lugar. Conhecer alguém. Viver de verdade. Olho aqueles cadernos e, agora velho, imagino ali em algum quarto um menino com caneta na mão. Escrevendo e escrevendo e escrevendo. Que coisa mais patética.
sexta-feira, 27 de maio de 2016
Cadernos velhos
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