terça-feira, 17 de maio de 2016
Pai
Meu pai era todo diferentão. Ele não era assim de falar com as pessoas, sabe? Sei lá, tinha o mundo dele. Nessas, até que o véio fez muita coisa. Fez coisa pá caráio. Mas arranjou muita treta também. Porque brigava com a família, com os amigos. Na verdade as pessoas é que brigavam com ele, porque ele não fazia por mal. Enfiava um objetivo na cabeça e saía reto, direto. Nessas, comprava máquinas pra fazer motores, peças. E se os negócios não davam certo ele continuava com o objetivo fixo na cabeça. E acabou vendendo casa, carro, a chácara. Foi tudo. O véio era foda. E ele era mergulhado no mundo dele. Lembro de uma vez... A gente tava no carro. Ele ia guiando e minha irmã tava contando de uma prova de inglês. Ela tinha tirado nove. Porra meu, nove! Nunca tinha tirado uma nota assim. Daí ela falou, né: pai, fiz prova de inglês, tirei nove! E o véio lá, olhando pra frente. Mão no volante. Guiando... Pai! Ela insistiu. Tirei uma nota nove, na prova de inglês! E ele olhando pra frente. Olhava pros lados pra fazer a curva. Daí eu virei pra mana e falei, quer ver só? E falei pro velho, olha, aquele giclê ficou torto, não ficou bom não. E na hora o véio, olhando pra frente, falou, o giclê vai ter que mexer de novo! Olhei pra mana... Eu não disse? Assim só que o véio fala. Não tá nem aí pro resto não. E a gente cresceu assim. Acostumado que a gente ficava no nosso mundo e ele ficava no mundo dele.
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