Aprendi a fazer estes artesanatos desde sempre, sei lá. Sou ariano. Tenho que me mexer. Tenho que fazer alguma coisa. E cresci num lugar que não era como aqui, não. O inverno era frio. Seis meses em casa! E aí, o que fazia? Era montar brinquedinhos com arame, pedaços de madeira, lixa uma coisa aqui, corta lá... Um carrinho, um boneco, várias coisas. E eu sempre fui assim meio hippie. Meu negócio é andar por aí.
Já tem muitos anos que vim para o Brasil. Já foi melhor. As pessoas já compraram mais dessas coisas. Artesanatos. Enfeites. Hoje só querem saber de aplicativos no celular.
Uma vez sofri um acidente de moto. Olha só, aqui na minha cabeça. Eu estava voltando para casa no meio da madrugada. Uma Harley Davidson. E eu ia chutando mesmo, rasgando. Queria curtir, sabe? A cidade à noite, tudo livre. Mas tinha um bêbado vindo. Cruzou meu caminho. Ele quem furou o vermelho. Mas e daí? Bateu... Voei. Saí voando no ar, quiquei no chão. Bati com a cabeça numa guia. Voei para a vidraça de uma loja de carros. Quebrei a vidraça. Quebrei ainda o pára-brisas de um carro. Me acharam lá dentro do carro. Eu não lembro de nada disso, é claro. Mas foi o que me contaram.
Estava tão destruído que acharam que não tinha mais jeito. Mas estavam me mantendo vivo porque aí o convênio paga, o seguro dá aquela ajuda. Coisa de médico. Só que eu acabei acordando. Cinco dias de coma. Daí abri os olhos e foi um deus nos acuda. Lembro de estar na maca, tentando entender o que acontecia, e aí os médicos se assustaram. Foi aí que começaram a cuidar de mim pra valer. Foram meses esperando os ossos se juntarem de novo. Perna esticada. Pinos. Gesso. Tudo o que você pode imaginar. Depois andei mais seis meses de moto pra ter certeza que tinha superado os medos. E aí nunca mais subi em nenhuma.
E vivo assim. Já vivi em vários países da Europa. Mas lá não tá muito boa a coisa também. Aqui no Brasil é bom. Muito bom. Gosto do clima. Gosto das pessoas. Mas o país tá uma merda. Ninguém quer saber de nada, sabe? O povo... é incrível. Por muito menos, anos atrás, estaria todo mundo na rua. Estaria todo mundo na rua de verdade. Não como foi nos últimos anos. Sai um dia na rua, e aí chega. Aí é hora de assistir tudo na TV de novo. Não entendo. Temos muita comunicação hoje. Mas pouca gente quer se informar de verdade. Ou então vai ver que bati com a cabeça forte demais. Por isso não entendo nada.
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