Eu me divorciei quando minha mulher ainda estava grávida. Brigamos. Eu não conseguia conviver com o ciúme doentio dela. Ela não conseguia conversar comigo. Não queria saber de procurar ajuda. Acabamos nos separando. Mas ela já estava grávida. E nasceu o Ênio. Eu amo o Ênio. Minha família ama o Ênio. Minhas filhas. Meu filho. Até minha primeira ex-mulher o ama. Quem não ama um bebê lindo e sorridente?
A Rita vive em outra cidade. Rio Claro. Vou para lá aos finais de semana buscá-lo. Brinco com ele. Depois o levo de volta. Às vezes ele chora. Parte meu coração. E sinto que dói para a Rita também. Ciúmes é uma coisa difícil de controlar. Ver o filhinho chorando porque quer ficar com o pai, deve ser difícil pra ela.
E no meio dessa confusão toda eu me entendi com ela. Convivemos suficientemente bem. Às vezes, em feriados prolongados, eu trago a Rita pra casa também. Assim podemos ficar todos juntos com o Ênio. Minha família, claro, não concorda. Ela aprontou outras coisas depois do divórcio. Tentou arrancar mais e mais dinheiro de mim e mentiu algumas vezes pro juiz. Tentou impedir que eu visse o Ênio. Mas eu me entendi com ela. Sinto sim uma raiva interior, até um desprezo, mas de que adiantaria brigar e brigar e brigar sem parar? Não é exatamente um perdão. É pelo Ênio. Porque hoje temos um convívio pacífico. Já tem um bom tempo que não discuto com a Rita. Não falo mal dela. Sei que isso diminui também os episódios em que ela vá falar mal de mim para o Ênio.
E ainda assim, no meio de tudo isso, outro dia o Ênio, agora com pouco mais de quatro anos, veio até mim e perguntou, visivelmente curioso:
- Papai, a gente também é uma família?
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