sexta-feira, 19 de junho de 2015

Traduções

Descobri que a maior parte dos professores ruins não confia em seus alunos. Recebo com frequencia este conselho: "não complica muito, eles precisam passar na prova, passa só o que interessa". O que significa praticamente o mesmo que "treine aqueles macacos". Nada de ensinar a pensar. Apenas dizer umas regras que podem ser memorizadas e repetidas. A memória é muito mais difundida do que inteligência, essa é a crença. Então, como professores que precisam produzir alunos que passam em provas, é melhor apelar para a memória do que para o raciocínio. Eu não consigo assinar embaixo. Não consigo. Não confio nesta abordagem. Acho que a inteligência é também tão difundida quanto a memória. Talvez até mais. Mas a inteligência exige algo que a memória dispensa: diálogo, um diálogo mais profundo. A memória é cópia direta. Você diz uam frase como "sinais iguais, você soma, sinais diferentes, subtrai". Ou então algo mais sucinto ainda como "menos com menos, dá mais". E a memória deve repetir as regras do mesmo jeito. Já com a inteligência algo diferente ocorre. Cada um tem seu idioma, seu vocabulário. É difícil dialogar com a inteligência alheia. E é por isso que a grande maioria dos professores prefere não fazê-lo. A cultura do mundo sofre agonizante por conta de nossa indisposição a buscar diálogo com nossos iguais.

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