Ela chora a soluços largos. Profundos. Parece um dinossauro tossindo, de tão graves e fortes que são os solavancos. Se não é poética a descrição, acredite então na sua precisão.
De seus olhos não caem lágrimas. Desmoronavam parques cheios de gente. Mãos dadas. Bebês no colo. Famílias na praia ensolarada. Sono num ombro quente no banco do avião. Risadas cúmplices na mesa do bar. Tudo isso desmoronava barulhosamente, batendo no pé da cama, escorrendo para o chão, vazando para o inferno.
Para o inferno, que é de onde tudo isso veio. Do inferno surgem essas ilusões impossíveis que nos cegam para a verdade.
Entre um soluço e outro ela teve esse lampejo. Ele não era, afinal, a pessoa para realizar todos esses sonhos, mas só agora ela entendia.
Pensou sobre essas ilusões tantas.
Não é curioso que, como tudo que vem do inferno, as ilusões deliradas sejam tão prazerosas e irresistíveis antes que a realidade recupere o fôlego e se imponha?
Chorou uma vida a menos a cada soluço.
É que entender... entender conforta.
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