quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Espelhos

A pior coisa que pode acontecer quando se quer guardar um segredo é conseguí-lo. Pois foi o que aconteceu. Guardei um segredo sem saber que com isso eu guardava uma parte de mim para fora do mundo. Uma parte de mim que agora não está no mundo, não faz parte desta realidade. Não existe, embora exista. Não importa, embora importe. Não se enxerga mas está lá. Então não tenho a quem culpar se não a mim mesmo por toda essa invisibilidadde. Quando as pessoas não entendem o que se passa comigo isso é tão somente reflexo deste meu sucesso de Pirro: o segredo continua bem guardado, ninguém nem desconfia. Foi assim que virei dois. O que existe e o virtual. O material e a sombra. O concreto e o abstrato. Dois em uma dualidade que é em parte dona do mundo e em parte amasmorrada sem luz sem água sem visita, sozinha na solidão fria do isolamento indiferente. Porque é esse o peso de não ser sabido. É esse o peso de pensar sem eco. É esse o peso de amar sem voz. De doer sem lágrima. De gritar sem som. De respirar sem ar. De existir sem corpo. De viver sem você.

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