Sentado na poltrona. O chá esfriando na mesinha ao lado. Barulhos de vida lá fora. Gatos no telhado, crianças tomando bronca na casa ao lado. Rojões de torcida de futebol em algum lugar um pouco mais longe. E minha estante, na parede oposta, cheia de livros. Sempre achei que era isso. Uma estante cheia de livros.
Mas não é. Descobri que não é. A estante está cheia de sonhos.
Sou feliz por, cedo na vida, ter podido comprar muitos mais livros do que eu conseguiria ler. Mas esta felicidade é, em parte, artificial. A equação tem duas variáveis. Número de livros comprados e número de livros qu eu consigo ler. E este segundo número é baixo, o que faz o cálculo resultar em um número elevado. E este número é baixo porque a vida me engole. Ir ao trabalho. Atenção à família. Atenção à namorada. Essas coisas fazem parte, não estou reclamando delas ou questionando seus méritos. A questão, na verdade, é eu ter comprado, e continuar comprando, tantos e tantos e tantos livros a mais. E, pensando nisso, foi que descobri. São sonhos.
Sonhos sobre o que eu quero saber. Sonhos sobre os assuntos sobre os quais quero conversar. Sonhos sobre os tipos de pessoas que eu gostaria de conhecer. Gente interessada nesses assuntos. Gente que leu os mesmos livros que eu li ou, vá lá, que gostaria de ter lido. Sonhos de uma vida mental e interior algo diferente.
quinta-feira, 30 de abril de 2015
Colecionador de sonhos
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