Sei que eles estão lá fora. Tenho uma garrafa d'água comigo. Escuto os ruídos de lá. Aqui seria o silêncio, o silêncio absoluto. O silêncio da minha respiração. Mas não. Há outros ruídos. Calma. Não está tudo perdido. O ar condicionado. O ar condicionado está funcionando. É ele que faz esse barulho estranho. Nhéc trec nhéc. Ou será que a minha própria respiração? Não quero olhar pra fora. Eles podem me ver. Eles vão me ver. Se eles me virem aqui, estarei perdido.
Um gosto amargo e ácido na boca. Parece que tive ânsia de vômito. Mas sei que não tive. Acho que não tive. As paredes são brancas. Não é meu quarto. Luz fluorescente no teto. Cheiro de remédio. Bip. Bip. Bip. Tem fios saindo do meu braço. Fios de cores diferentes. Um tubo. Um tubo? Por que tem um tubo saindo do meu braço? Penso em um café com leite. Café com leite e pão na chapa. Naquela padaria de esquina. Naquela padaria onde você senta em banquinhos, de frente ao balcão. Banquinhos. Balcão. Fico com as palavras ecoando na minha cabeça. Tem algo estranho com esses tubos. Nunca usei drogas. Que eu saiba. Mas deve ser assim. Deve ser algo mais ou menos assim. Quem foi que me colocou aqui? Penso em chamar a enfermeira. Penso no café com leite da padaria. A padaria lá onde tinha o Loucura. Um vira lata de pêlo preto, todo enrolado. Doido. Pulava na perna da gente. Depois saia correndo. Do nada. Enfermeira? A voz não sai. Bip. Bip. Bip. O que é esse barulho?
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