Estou na mesma sala há anos. Há muitos anos. Há quantos anos? Dois anos. Três anos. Quatro anos. Vinte anos. Oitenta anos. Duzentos anos. Todos os anos. O ar condicionado faz esse barulho constante de sopro. Fica numa velocidade constante. Aqui não tem janela. A simetria do tempo é quebrada apenas pelo ruído que vem lá de fora. Ouço o barulho da avenida vizinha. Mas a luz interna é constante todas as vinte e quatro horas do dia. Lâmpadas fluorescentes. Essa luz branca igual, sempre igual. O que muda aqui são as pessoas. Uma ou outra coisa de lugar. O computador que está sobre minha mesa é mais moderno. A pilha de papel acumulado está em outro lugar. Dois meses atrás estava sobre o móvel aqui ao lado da minha cadeira. Hoje vejo que está na estante do outro lado da sala. Quando foi que organizaram esses papéis? Um mês? Um ano? Na verdade, não lembro. Não faz diferença. Toda vez que entro aqui é assim: o tempo é destruído, derrete-se nessa mesmice que estende-se de desde sempre para até o fim dos tempos. Por isso não é importante ir a uma reunião. Ou escrever mais uma página do relatório. Ou fazer o que quer que seja.
Fico aqui... Acesso o 9gag. O Sedentário Hiperativo. O Facebook. O Twitter. Leio as notícias do UOL. Do Terra. New York Times. Washington Post. Vejo as besteiras do Kibeloko, do Jacaré Banguela. E a luminosidade da sala não muda. É a mesma, é sempre a mesma. Lá fora pode ser o Alckmin ou a chuva, pode já ter voltado a ditadura, e aqui dentro é tudo a mesma coisa. Essa mesmice de sempre, diluindo minha existência. Se eu for raciocinar, cada dia aqui dentro é um dia a menos de vida. Mas isso é racional demais. Aqui dentro a vida parece infinita. Eu nunca vou ficar velho. Porque aqui nada acontece.
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