quarta-feira, 8 de abril de 2015

Volta

Foi uma boa viagem. Eu me apaixonei várias vezes. Várias. Me apaixonei pela paisagem urbana se rarefazendo em verdes e desertos. Me apaixonei por aquelas cidades minguantes, uma após outra. Me apaixonei por aquele sotaque cada vez mais rítmico, cantado. Não me admira que para as terras lá de cima dominem tanto dos batuques e percurssões. É o que fazem em todas as falas. Me apaixonei pelos sabores caprichados, presente mesmo em todos os lugares simples. Me apaixonei pelo isolamento da estrada. Parecia traçada a lápis, de um extremo a outro da folha. E eu perdido lá no meio. Me apaixonei pelas pessoas de poucas falas e sorrisos em excessos. Pelas gentilezas inesperadas. Pelos sons da manhã. Pelas refeições sempre rústicas e simples, e sempre saborosas e fartas. Pelo gado ao mesmo tempo curioso e desconfiado. Pelos lobos que espiavam entre os arbustos. Pelas nuvens, que dia após dia redescobrem naquela tela azul todos os significados da arte. E hoje, como em todo amor, mergulho na contemplação de um coração partido pelo abandono.

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