Eu não sou escritor ou sou escritor? Escritor medíocre, sem tema, sem linha nem bem estilo, com espasmos de falar disso e daquilo mas sem variar muito, de vocabulário parvo, truão. Sem tema e ainda com trema, vacilão. Idiota, medíocre, sem maiores convulcionismos passionais: fato. Ou talvez eu seja isso apenas e o apenas mate de vez: escritor, escritor e só... Porque em geral nunca se é só escritor. Há escritores que são poetas, outros que são romancistas, alguns cientistas, outros cineastas, turistas, repórteres, velhos, sindicalistas, filósofos. Talvez eu esteja explorando um nicho abandonado às traças: sou um escritor desocupado. É esse meu predicado, a mais pura falta do que fazer. Venho aqui à noite quando nada mais é convidativo, engatilho os dedos e não mato um boi gordo sequer... só tiros inocentes no vazio. E não é curioso que esse pequenez toda, ainda que constatada, pouco me importe? Me divirto com o barulho das teclas, com o frio nos dedos expostos. Com os traços de cada letra que vai aparecendo. Quando eu era criança gostava de olhar as palavras nos livros sem fazer mínima ideia do que diziam. Hoje escrevo minhas palavras e fico aqui olhando o colapso de cada pensamento mudo em letra. E não faço a mínima ideia do que dizem.
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