A Cássia queria prestar o TOEFL, um exame de inglês. Eu a havia encontrado ano passado. Ela estudava os pormenores das gramáticas e sabia todas as regras. Verbos regulares e irregulares. Coisas contáveis e não contáveis. Só havia um problema. Ela não falava.
- Fico nervosa quando penso que vou falar para alguém que sabe mais que eu.
Combinamos que ela me enviaria áudios pelo WhatsApp, para praticar.
E nunca mandou. E se passou um dia, uma semana, um ano.
E eu insistindo, insistindo. Passei o último mês escrevendo para ela todos os dias, explicando que não importa o conteúdo, importa que ela vença essa barreira que a faz paralisada quando ela tem, sim, algo a dizer. Esse perfeccionismo que a transforma em silêncios.
Briguei e insisti e fui claro: desse jeito, sem chances. Expliquei tudo de trás pra frente, de frente pra trás, de lado e em cores diferentes. Até que, finalmente, ela enviou um áudio. Quarenta e dois segundos. E eu não perdoei. Elogiei mas com ironia e sarcasmo ácidos: parabéns! Esse levou só treze meses, quatro dias e duzentos e oito minutos pra chegar! Nosso objetivo é continuar reduzindo o tempo até chegarmos a um minuto ou menos!
À noite, depois do jornal, fui organizar os arquivos do computador. Encontrei esse arquivo, Artista.txt. Que eu havia começado a escrever em 2010 e desde então, nove anos, oito meses, dezessete dias, seiscentos e trinta e quatro minutos depois, nunca mais continuei.
A gente só aprende as lições que ensina.
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