sábado, 31 de agosto de 2019

Mãe

Xícara, pires. Colher perpendicularmente posta.

Leite quente.

Café e aquela fumacinha de vapor indiferente a tudo, subindo, calma que dá inveja.

Azuleijos frios.

Barulho de metal contra a porcelana. Colherinha mexendo, girando, girando, girando, girando...

E ela gritava tantas coisas por dentro. Sofria o marido tê-la deixado.

Os filhos não compreenderem nada. Sofria a irmã controlar sua vida...

Sofria a casa gigante estar velha e caindo pelos cantos

pintura

telhado

goteiras

janelas

poeira

bagunça

ratos

E gritava, e gritava por dentro, músculos rígidos, berro de cançar pulmões, diafragma, até as pernas se cansavam, de tanto berrar!

Metal contra a porcelana, girando, girando, girando... Lá fora, só se ouvia isso.

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