Eles dizem para começar a história pelo começo. Para dizer o que vem primeiro, logo de cara. Prender a atenção do leitor. E se eu não sei? E seu eu não sei o começo? E se eu só lembro do gosto maldito de vinho barato vazando pelo canto da boca, de uma náusea fudida e da dor enorme de ser espancado até não poder mais? É esse o começo? Isso não se parece com início de nada, mas é o meu começo. Porque eu não lembro de nada antes disso. Nada. Quebraram minhas costelas e minhas memórias.
Acordei e parecia não haver mais dor. Morto?
Não, não estava morto. Qualquer pequeno movimento lembrava que as dores ainda estavam ali. Abrir os olhos era possível. Exagerar na reação muscular e ativar também qualquer parte da testa, bem, isso não. Isso iria doer demais.
Paredes brancas. Lençóis brancos. Hospital.
Esse é o começo da minha história. Aquele breve flash que tenho de ser espancado, sem nem lembrar para onde ia, o que fazia. E depois esse liso teciso branco cobrindo boa parte do meu corpo. A parede branca ofuscando minha visão. E toda minha tentativa por redescobrir minha vida, a partir daí.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2019
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