domingo, 29 de dezembro de 2019
Minha poesia
Há por aí poetas de rimas e flores. Poetas de dicionários longos e exóticos. Poetas de arquiteturas elaboradas nos sons e até no cheiro das palavras. Eu sou rude. Porco e tosco. E defendo, nessa tosquice toda pobre, que assim minha poesia é mais bela. Mais bela porque, fazendo questão de não ter nenhuma aparência que preste, não pode por nenhum momento ser tomada por mais do que aquilo que realmente é. Mais bela porque sua aparência não é em momento algum etérea. Quando amo, choro e digo que amo e é assim que é amar. Quem, por aí, tomado por toda a dor estomacal, peitoral, visceral de uma paixão bem doída, pára para escrever coisas belas? Poetas das belas poesias tinham tempo para não amar. Eu não tenho. Meu peito dói sempre. Não sei parar de amar. Não sei parar de viver para pensar com calma no que escrever. Escrevo só a palavra que vem à mente e não tenho coragem de censurá-la. Não tenho culhões de proibí-la. Belos e comoventes são os presentes românticos que meus amigos comedores dão às menininhas estúpidas e inocentes que sempre os tomam como os caras mais certinhos do mundo. Eu sou sempre deixado de lado como uma pessoa pouco séria e incapaz de me entregar tanto como eles. Acontece que na verdade não sou é capaz de deixar de me entregar, por um segundo sequer, à vida, que me tenta com piadas e sorrisos e devaneios nos pensamentos que me encantam. Os sedutores de plantão, como esses meus amigos comedores, esses sim, furtam-se à vida para elaborar, com calma mecânica, quais velas escolher, qual música colocar, quais frases dizer, numa espontaneidade detalhadamente elaborada, porque se algo nestas almas é espontâneo é o ímpeto ao planejamento, a incapacidade de se dar à vida tal como são naquele segundo. Detesto cada vez mais os poetas belos, e fico com uns poucos exemplos de poetas realmente sublimes, que conseguiam conservar toda sua rudez de cuspir palavras e ainda assim atingirem um patamar transcendente de beleza. Eu sou belo na intenção de ser transparente, e faço questão de não querer beleza nenhuma além disso. Eu amo quando sinto que amo. Eu falo quando sinto que há palavras para serem ditas, e pouco me importa se esse meu julgamento calha de acertar ou não.
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