Era ano novo e eu estava em uma grande fazenda nas gerais minas do coração brasileiro. Acampar em um belo gramado com um rio limpo correndo ao lado, era esta a proposta. Mas na noite do dia trinta e um fortes ventos e chuvas atrapalharam o conforto daquela noite. Além das poças e sustos, providenciaram também falta de energia elétrica. E agora?
Todos se reuniram na grande casa central. Cômodos amplos, pé direito alto. Cheiro de história. Por conta da nebulosidade que trouxera a chuva não havia luz nem da lua nem das estrelas. Escuridão total. Consideraram acender velas mas, de tanto tempo que não se as usava, custavam a encontrar as poucas que deveriam ter sobrado. Alguém de espírito aventureiro foi o primeiro a propor: deixa assim! Vamos ficar no escuro mesmo! Foi o início de uma noite mágica.
Não haviam rostos. Não havia beleza nem feiura. Não haviam olhares tímidos ou indiscretos. Não haviam branquices nem negruras disputando fosse o que fosse. Foi o encontro de vozes. De histórias. De risadas e ouvidos. De murmuros e espíritos.
Foi a escuridão, densa e impenetrável, que veio provar a todos o quão cegos eram os olhos quando pensavam enxergar.
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