Já há cinco anos era esse vai e vem da UTI. Às vezes ele lembrava quem era. Só às vezes. Na maioria dos dias não reconhecia os netos. Os filhos. A esposa.
- Sou eu, lembra? Sua mulher! - dizia ela com um brilho condescendente e doce nos olhos.
E ele olhava de volta. Um silêncio consternado. Quase em estado de choque. Parecia nem mesmo saber que era casado.
Agora todos em volta do caixão. Todos pensam que é melhor assim. Mas todos sentem a perda. A confirmação de algo que veio se perdendo gradualmente com o tempo. Sim: acabou o sofrimento. Mas agora a certeza de que ele não vai mais voltar, de que não reconhecerá ninguém mais nem mesmo por um segundo sequer... A dor de uma certeza se impondo para além de qualquer esperança.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
O último dia
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário