Como assim? Meus posts são muito longos? Dez, vinte linhas quando muito!
"Ah, as idéias são boas, mas você escreve bastante, dá preguiça de ler tudo."
Maravilha, maravilha. Não lemos mais. É isso. Achamos um jeito de fazer a comunicação dar a volta ao mundo em segundos. Coisa que antes tomaria meses de viajantes aventureiros destemidos. Coisa que não seria possível em muitos trajetos. Ano mil setecentos e vinte e sete. Você está em Estocolmo e, no dia dezoito de dezembro resolve mandar um cartão de natal para seu filho. Que está viajando o mundo e neste momento encontra-se em Santiago do Chile. Não, não vai dar, esqueça. Talvez ele nem esteja vivo. Ou talvez não sobreviva o suficiente para receber suas felicitações. Não tem como saber.
Ano desses aí em que estamos. Você está num banheiro escuro, num posto de gasolina abandonado, no meio de uma estrada esburacada na Bahia. São quase três da madrugada. Você faria suas necessidades pela estrada mesmo, mas como achou um posto abandonado, resolveu que seria minimamente mais civilizado usar uma instalação sanitária. E lá, sentado no trono da redenção gastronômica, o que você faz? Saca do bolso da calça seu potente Blackberry, seu iPhone, e tuíta. "Três da madrugada e tô num banheiro de posto abandonado aqui na bahia, mó escuridão! Me cagando de medo!". Minutos depois, talvez segundos, seu filho, que está fazendo mestrado no japão, te chama pra um chat de voz via skype, pra sacanear sua situação.
Comunicar-se é trivial. Mas o que comunicar? O que interessa dizer? Com tanta gente dizendo, quem é que tem o direito de falar demais? Olhe o tamanho desse post... Se você está lendo até aqui, sinto muito, você é um perdedor, um desperdiçador de tempo. Até aqui foram quase mil e oitocentos caracteres. Ou seja: dez posts grandes no Twitter!
Mas tenho teorias alternativas. Antes eram poucos os que usavam a linguagem escrita. A imbecilidade já era difundida, talvez até mais que hoje. Mas isso não era registrado ou tão pouco assim manifesto. Não nesse extremo. Acontece que o mundo tecnológico obrigou a alfabetização de milhões, pois a mão de obra especializada precisa saber ler avisos de "não fume" e de "uso obrigatório de ê-pê-í". Então foi que os imbecis aprenderam a escrever, e de posse da escrita, invadiram o mundo dos letrados. A internet é o reinado dessa socialização. A indústria do livro impresso filtra um pouquinho essa imbecilidade. Mas bem pouquinho. Quase nada. Passam pra lá aqueles que sabem escrever mais de cento e oitenta caracteres e os que se dispõe a escrever você ao invés de vc. O que não garante nada quanto ao conteúdo.
E tenho ainda outras teorias. Estamos nos desumanizando. A fala antes refletia o mundo interior. Por isso era complexa, longa, intrincada. Mas há cada vez menos mundo interior em quem quer que seja. Então, pra que falar muito? O mundo exterior é bem mais objetivo. Por isso, desde sempre, engenheiros foram muito menos poéticos que os poetas para escrever sobre o que quer que seja. Falar sobre o sentimento de paixão exige infinitamente mais parâmetros e detalhamentos do que especificar as vigas de uma ponte. E o mundo agora só existe lá fora. Coisas e momentos. Descrições de externidades. Quem quer refletir muito sobre isso? Vc?
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
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