quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sociedade hipócrita

Existem hoje em dia diplomas para aqueles que desejam explorar sem escrúpulos nem piedade justamente os que mais precisam de ajuda. Os diplomas vêm, é claro, com títulos acima de qualquer suspeita: médico, psicólogo...

Bairro aqui já na periferia... Telefonei... R$150,00 A CONSULTA com um psicólogo.

A CONSULTA!

Se esse cretino fizer três consultas por dia... ou seja, sentar a bunda escrota dele naquela poltrona idiota para ouvir o sofrimento alheio por míseras três horas... Vai embolsar 450 reais! Arredondando para 23 dias de trabalho no mês, isso dá um salário de 10300! Ah, os custos da clínica, claro, claro... Tiremos 2000 de aluguel+luz+etc e mais uns 800 pra mocinha da recepção... Sobrou só 7550 pra esse crápula.

Vamos lá... Vamos a uma versão mais atual e pertinente do juramento de Hipócrates... Juramento que todos os médicos atualmente recitam ao se formarem, ainda que apenas em seu íntimo:

Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panaceia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, mediante pagamento que me apeteça os instintos, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens, desde que antes ele partilhe comigo os seus; ter seus filhos por meus próprios irmãos, de quem posso demandar heranças em momento oportuno; ensinar-lhes esta arte porém não permitir que a usem contra mim, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, e com remuneração e sempre com compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder, entendimento e benefício, nunca me responsabilizando por causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei de graça, por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva às vistas da lei.

Conservarei imaculada minha vida e minha arte.

Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam, a fim de evitar responsabilidades desnecessárias.
Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o voluntário que ouse ajudá-los sem demandar justo honorário, e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.

Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar para justificar meu lucro, eu conservarei inteiramente secreto.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Amém

"Deus escreve certo por madrugadas tortas."

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quebrando as pernas

- Eu sei que o nosso namoro não é para sepre, mas o que eu sinto é...

sábado, 9 de julho de 2011

Indo embora

Conversar comigo mesmo, é isso que quero. Mas não, não me dou ouvidos no momento. Está tudo se bagunçando, uma entropia irresistivelmente almentando, inflando meus sonhos gigantes expansivamente pra longe, longe e longe, e onde é que eu fico no meio de tudo isso? Vem aqui aquela lembrança da voz doce, do olhar delicado emoldurado pelo sorriso mais leve e penetrante que já vi. E a lembrança se eteriza eternamente entrando num pra sempre até jamais.

domingo, 3 de julho de 2011

Os sonhos nas garrafas

Clarissa estava atordoada com a vida. Decidiu, para acalmar-se, engarrafar seus sonhos e anseios. Assim o fez. Sentou-se então em sua poltrona e ficou a mirar a estante. Garrafinhas várias brilhando ali suas imaginações e sonhos dos mais desconexos. Percebeu que seria impossível organizar a estante de uma maneira coerente, incoerentes entre si que são as coisas que queremos. Enciumada e narcisística, afugentava a todos que ameaçavam se aproximar. Passou a evitar visitas. E se alguém derruba uma garrafa e a quebra? Impensável.

Anos se passaram e Clarissa morreu em sua poltrona. Seus sonhos permanecem intactos como da primeira vez em que foram sonhados. Pelos vidrinhos transparentes, iluminam o corpo de Clarissa que, feliz, apodrece ali, velando a existência que nunca aconteceu.