sábado, 29 de fevereiro de 2020

Traduzindo

Quando eu estava cansado de tudo resolvi ir para outro mundo.

Mas não havia outro mundo. Tem só esse em que pisamos todos (a despeito dos diferentes sapatos).

Então resolvi ir para outro país. Um que falasse outra língua. Um que fosse completamente intinteligível, tanto quanto possível.

Foi ótimo.

Senti-me, finalmente, pisando na civilização.

Uma cidade educada, onde eu fazia minhas compras, onde eu frequentava cafés com segurança, onde eu caminhava sem medo de que fossem roubar minhas mochilas, e onde as pessoas conversavam em paz.

De fato as pessoas eram profundamente interessantes. De que conversavam com tanta seriedade e com tanta atenção?

Mas, com o tempo, claro, fui aprendendo o idioma. E essa foi a tragédia.

Descobri que, a despeito das palavras diferentes, as pessoas aqui são imbecis e enfadonhas igual lá. A humanidade anda rasa demais.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Algumas pessoas começavam a cantar junto, eu podia ouví-las. O ambiente estava cheio mas não estava lotado. Cheio sem ser muvucado. Eu não precisava mais olhar. Fechava os olhos e cantava sem me importar com a voz enferrujada depois de tantos meses quieto olhando para livros e assistindo documentários no YouTube. Quando abri os olhos a vi. Pulava e sorria e jogava os braços para o alto. Era feliz como se não pertencesse a esse povo sério e introvertido. Não que as pessoas aqui não dancem. Mas ela não era do nosso grupo. Simplesmente havia se aproximado e dançava e sorria. Que tipo de gente faz isso?

Depois da música voltamos todos às mesas. Ela estava sentada atrás da gente. Bancos de madeira. Conversamos. O que fazemos aqui, os estudos, os trabalhos, os idiomas, onde conhecemos nossos amigos. E aí eu quis saber de onde ela veio.

- Você é daqui da cidade mesmo?

- Não. Vim pra cá há dois anos.

- Veio estudar?

- Não, eu vim fazer tratamento. Estou com câncer. Os médicos dizem que talvez eu viva dois anos. Eu acho que vou viver mais. Mas não sei quanto. Quando você fez exame de sangue pela última vez? Amigo, vá fazer um exame de sangue! Eu estaria bem melhor se tivesse descoberto antes.

Ela era a pessoa mais feliz ali. Sorria, dançava com as pessoas, cantou sorrindo e rindo diversas músicas. Brindou jarras de cerveja com diversas pessoas.

E eu a olhava e olhava as pessoas em volta. Sem saber direito o que se passava dentro de cada um. De suas psicologias e de suas biologias. Mas eu via o que aflorava para além da superfície transbordando em volta. E era bem claro de quem emanava mais vida ali.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

A lot!

-Do you think about coming back one day? After you finish your study?
-No, I just don't have plans regarding these; I think more of what I want to do but I have mo precise idea of where and how; by now my life here is good in this sense, I have more time than in Sao Paulo.

(one day later)

-I gave a short answer yesterday because I was going to sleep. But this is a complex question. The thing is... more and more... I feel like I have no plans. Of course I miss family and friens, and I will see again many times. But regarding my life, my plans never worked the way I wanted, and the most interesting things I did were never planned. I feel like plans are just an illusion and that it is a bit dangerous thinking too much about them; we create potential for frustration or become blind for other possibilities. So, I have no ideia about the future. I might stay here the rest of my life, or change countries many times. I have no idea what will happen, and I have no plans. I always want to be able to learn; I feel pleasure in teaching, in interacting with people in a good way... so I want more of these things; but I don't know more about details... about where, who, etc... Does it make some sense?
-For me, a lot!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Das perguntas (8)

Como pode pessoas que receberam bolsas de pesquisa em mestrados e doutorados, e reclamavam dos baixos valores, serem contra programas como o Bolsa Família, que dá uma quantia irrisória para famílias que mal tem o que comer? Trata-se de hipocrisia mesmo? Trata-se de uma incapacidade reflexiva, de comparar a própria circunstância com o resto do mundo? Trata-se de um acúmulo de percepções distorcidas do mundo? O que está havendo?

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Caronavirus

-Cheguei! O voo do Brasil não estava muito lotado. De Roma para Milão foi tranquilo. Agora estou quase na região das montanhas, mas foi incômodo. No meu ônibus só tinha japonês e chinês. E eu estou sentindo uma certa dor de cabeça. Sei que é normal, mas não tem como não pensar em tudo isso e não ficar assustada. Os mercados estão vazios e as ruas desertas. Eu não imaginava algo assim, mas também não quis cancelar minha viagem. Vamos ver.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Sarna

Enriquece quem não deveria enriquecer. Isso em si já não é razão demais para indignação? Eu não acredito mais no futuro, não como um futuro melhor, ideal. Não como uma direção de progresso guiada por sei lá quais energias estranhas e benevolentes. Há agora e sempre haverá os ladrões, os corruptos. São as oportunidades convidando nossa índole a relativizar princípios. No fundo, não existe ser humano ruim. Existe sim é uma enorme desigualdade de oportunidades, e não me refiro aqui, não seja inocente, às oportunidades oficiais, justas e nobres. Me refiro a oportunidades reais, não importa qual a natureza que tenham. José Sarney, pague um jantar para mim também. Com o dinheiro da União. E depois pague à União, de sua própria suada carteira, para vender por aí essa imagem de nobreza. Não acredito no futuro, mas já me acostumei ao presente.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Meio

Consideremos aqui que o mundo está caminhando para o fim. O fim da humanidade, ao menos. Isso se dará por meio de uma catástrofe climática. No momento parece que o clima está apenas um pouco desregulado porém, como em vários sistemas mecânicos, uma pequena vibração inicial precede a ruptura súbita logo adiante. Dentro desse contexto, o que é lícito para fazer da vida? Sendo mais claro: se você sabe que esse é o curso atual dos fatos, o que deve fazer? Deve obrigatoriamente buscar se empenhar para reverter o quadro de alguma forma? Deve mobilizar a humanidade, deve tentar a todo custo reverter esse quadro? Ou deve simplesmente buscar fazer as coisas que são mais prazerosas para você na vida e pronto? Você olha ao redor e tudo o que as pessoas, a grande maioria, está fazendo é exatamente isso: estão cuidando das próprias vidas. Religiosos discutem religião. Fanáticos políticos brigam por títulos abstratos de suas terras ou de seus líderes. Empresários avaliam lucros e cadeia de suprimentos e escolhem bens para comprar. Pessoas preparam a próxima festa de aniversário dos filhos. Escolhem presentes para amigos. E assim vai. Quem se preocupa efetivamente com o futuro? As pessoas cujo cargo envolve, dentre outras atribuições, diretas ou simbólicas, preocupar-se com o futuro. Internautas teclam sobre o futuro, porque é isso o que um internauta faz: ele tecla. Digita símbolos de atitudes na tela e sente-se como se merecesse o reconhecimento por ter efetivamente tomado atitudes ambientais. O carro Eco-Sport. Pratique Eco-Sport. Tenha um carro que, como todos os outros, é movido a combustível poluente. Ande sozinho num carro enorme, que ocupa um baita lugar nas ruas, sem dar espaço aos outros. Mas que tem um nome legal. Isso acalma a consciência. E aí? O que deve fazer quem enxerga todo esse processo? Deve avaliar a chance de remar contra a maré? Ou aceita que o mundo vai para o beleléu e aproveita os últimos instantes?

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Nutrição

- Olha aqui!

- O que é?

- São uns sonhos, toma!

- Come isso com o que?

- Com sorrisos, vai! Experimenta!

- Hummmm, é bom! Mas não engorda?

- Engorda, engorda sim. Por isso a mamãe falou que não pode comer muito, se não você fica grande grande grande cheio de sonhos na barriga e não sai do lugar.

As vozes dos outros

Ela leu um trecho de um livro pra mim. Um trecho da Clarice. Como não me encantar? Resolvi ler para ela também. Não era nada ao pé do ouvido. Enviávamos leituras pelo WhatsApp. Essas distâncias de hoje. Enviei para ela trechos bem escritos do Antônio Prata e coisas engraçadas do Gregório, do Millôr. Enviei reflexões profundas do Erasmo e de Platão. Ela enviou trechos da Virgínia, poesias do Drummont e coisas de autores que eu nem conhecia. Claro que nos apaixonamos. Mas o sucesso era o próprio anúncio da falha. Nos apaixonamos pelas vozes dos outros sem antes pararmos para ouvir, com a devida atenção, nossas próprias vozes.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Das perguntas (7)

Quantos escravos temos a nosso serviço, hoje, sem que nos importemos?

Fazendo nossos sapatos?

Colhendo tudo, da nossa alface ao cacau para nosso chocolate?

Fabricando nossos celulares e computadores para que nos joguemos ao sofá rindo de vídeos idiotas?

Empacotando nossas encomendas em gigantescos centros de distribuição, sem tempo para ir ao banheiro, sem tempo para almoçar em paz, sem o direito de conversar com colegas, sem o direito de adoecer?

O mundo de hoje é um mundo mais justo que o mundo do passado. Não nos sujeitamos à injustiça de olhar nossos escravos nos olhos. Como isso aconteceu?

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Vários anos

Fui sempre assim. Escrevi cartas para surpresar um pedaço da tarde. Deixei rosas em copos d'água para acordá-la mais feliz. Amei de várias formas bobas e desesperadas. Atenção, atenção sem fim. Do que precisasse teria de mim.

- Eu acho que você é um pouco egoísta. E você não se permite viver suas felicidades. Me preocupo com você. Com você ter uma velhice feliz, sabe... Não é bom a gente se fugir tanto assim das alegrias!

Quem diria que um dia eu ouviria isso de uma namorada?

- Você está há muito tempo sem escrever no blog, amigo!

Eu, sem escrever há muito tempo? Ah, sim... É que eu tenho outros blogs. É que eu tenho outros eus. Custa ser um outro esse preço de não amar. E ainda assim, sou mal sucedido, não consegui de tudo. Lembranças me alcançam em abraços demorados de sonhos que simplesmente não são. E insistem em sonhar apoiados num vazio que derruba meus pensamentos com mais frequencia do que gostaria.

Sou péssimo em esquecer.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Air

Respirar com calma, que o futuro não precisa acontecer todo agora. Fica essa sensação de que precisa, aperto no peito. Mas não, não precisa. E se eu morrer daqui a pouco? Se eu morrer, morri. Férias. A derradeira exploração do além. A condenação eterna da alma. Sei lá o que vai vir. Vai vir algo: que venha. Mas há também o sério risco de ficar vivo. E na hipótese de eu não morrer daqui a cinco minutos é melhor eu começar a cuidar, desde já, de viver uma vida mais tranquila, menos ansiosa. É verdade que o Oscar Wilde dizia que a ansiedade era insuportável e que, por isso mesmo, ele esperava que ela não terminasse nunca. Mas eu estou em um estado um pouco diferente. Estou em um nível de ansiedade em que quero publicar cinco livros. Quero concluir o mestrado e o doutorado publicando papers toda semana. Quero compor músicas. Quero sair para baladas e conhecer pessoas interessantes, viajar. Quero fazer trabalhos ousados, bolar soluções criativas para os problemas da empresa. Tudo assim para ontem. Quero comprar um novo computador. Um novo caderno de notas. Alugar cinco filmes para ver amanhã à noite. Planos, planos, planos... Os planos sufocam e isso acontece por conta dessa bizarra distorção de tamanho entre o futuro todo, terreno a ser preenchido com os planos, e o pontualmente minúsculo instante presente: que só comporta um pedacinho de agora por vez. Estou apertado aqui, e só quero afrouxar o nó da gravata e jogar fora o cinto da calça, colocar uma bermuda de fim de semana e respirar um pouco mais aliviado.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Dos espíritos

Sim, sua mediunidade está afetada pelo tempo que está sem praticar. A viagem. A operação. Tudo atrapalha. Não deve ser fácil treinar o cérebro para se enganar. Não deve ser fácil reinterpretar todas as suas sensações internas, seus impulsos, seus vários eus, como manifestações de forças transcendentais.

Sim, sou um cético chato. Eu não devia me importar com nada disso. Tenha a vida que quiser. Tenha as mentiras que quiser. Mas eu me importo. Para mim isso significa muito. Jogar fora crenças é permitir que se jogue lixo no mais importante dos terrenos: o terreno mental. Sim, sou a favor da liberdade de pensamento. Sei que pensa diferente de mim e respeito isso. Deixo que continue pensando assim. Mas eu deveria, por acaso, aceitar isso numa boa? Não, não consigo. É triste que sua mente esteja perdida para essas mentiras.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Um talvez

Sou louco com uma sazonalidade indefinida, já aí uma contradição saborosa cheia de desacertos. Em algumas noites estou mais perto de certos imaginários. Noutras sou mais amordaçados pelas preguiças de existir. Tenho rascunhos jogados em meu computador em pastas que escondem uma bagunça virtual que um quarto não suportaria, fosse tudo aquilo papel jogado. Sou rascunhos talvez em um sentido mais amplo.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Tic

O quão lícita é a solidão? Ela me ligou agora.

Está indo a um bar aqui do lado, com amigos, amigas da faculdade, do laboratório em que ela trabalha.

Eu só quero ficar aqui sozinho. Sozinho escrevendo. E eu poderia estar achando um outro tema para escrever, algo mais interessante, mais reflexivo e menos pessoal, se não fosse ela me estressar com essas ligações e mensagens me convidando.

Eu não quero ir! É tão errado assim?

Eu quero um tempo para mim. Não gosto dessas incumbências de namorado.

Não gosto mesmo. Quero ficar sozinho aqui. Estou lendo uns quatro ou cinco livros no momento. E mal virei a página de três deles hoje. Estou estudando música. Ou deveria estar. Quero a tranquilidade de me dedicar a essas coisas.

Poderia organizar melhor meu dia. Mas como fazer para conseguir isso, se eu trabalho das sete e meia da manhã até as seis da tarde, chego em casa às sete da noite. Aí gasto um tempinho para jantar, lavar a louça, tomar um banho... E fazendo tudo isso sem pressa, mas sem perder tempo, só estou livre às oito da noite.

Oito da noite.

A hora em que meu dia começa.

Mas aí então lá pela meia noite, mais tardar, preciso estar dormindo de novo. Porque no dia seguinte tenho que acordar cedo para trabalhar. Então essas coisas todas que quero fazer, essas coisas todas que espero conseguir colocar no meu dia, ficam todas apertadas nessas poucas horas...

E aí o dia já acabou.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Diário de viagem genérico

Andei por lugares que não conhecia. Fiz fotos demais.

Quando vou olhá-las? Preciso selecionar vinte.

Dez.

Cinco.

Duas.

Uma.

Apenas uma foto de hoje. Para a posteridade é o que basta. As belas memórias não são resultado de uma vida bem vivida mas sim de um belo trabalho de edição que fazemos sobre a real bagunça de nossa história.

Passei parte do tempo parado em um bar. Pedi uma cerveja. Conversei com algumas pessoas. Ser um viajante é uma bênção para as conversas: é a deixa universal para se iniciar um diálogo com um estranho.

Você vem de onde? Está de férias ou a trabalho? Há quanto tempo está aqui? E como aprendeu este idioma assim tão rápido? E quando vai embora?

Mas é também uma maldição: é difícil, muitas vezes, levar a conversa para além desse calabouço de obviedades. Passo em uma livraria. Compro os livros com a história do local. Hoje estou empolgado. Mas quando vou ler tudo isso? Quais dias serão inúteis o suficiente?

Não posso ler a biblioteca do mundo só porque passei por ele. Preciso aprender a selecionar as coisas.

Talvez seja assim também com as pessoas. Preciso parar de me interessar por todo mundo ao redor.

Estou perdendo tempo com leituras inúteis e deixando passar as que prestam.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

O teatro da vida

Estreou ontem. Apesar da minha pouca fé, coisa do ofício de crítico, fiz uso das minhas credenciais para conseguir um ingresso grátis e deixei o racionalismo econômico consumar seus equívocos. O teatro estava lotado, e a julgar pelos outros eventos culturais que lotam ultimamente, já tínhamos aí um indicador natural da qualidade a esperar para a peça.
Uma hora e meia. A peça começa com um bebê e termina com um funeral. A vida inteira de uma pessoa. A idéia, assim colocada, parece atrativa. Mas assim como acontece com a vida da maioria dos bilhões de humanos deste planeta, nada de significativo realmente aconteceu. Foi vítima de bullying na escola. Uma namoradinha que não deu certo. Discussões em família. O primeiro emprego. Um casamento que não deu certo. Filhos. Sonhos comentados e que não foram adiante. O marasmo do trabalho. Três longos minutos em uma fila para exame se remédios já na velhice. Fazendo as contas, pelo tempo da peça, foi a representação de uma espera de 3 anos ou quase isso - exagero.
O personagem principal não tinha nome. Um anonimato que busca a generalidade? Não é assim que se faz literatura. É ao ilustrar bem um particular que a arte explode na mente da platéia uma compreensão pela geralidade. Generalizações explícitas pertencem ao domínio dos chatos textos de sociologia, antropologia, estatísticas sociais. É por isso que essa peça ficou tão chata. Se aproximou demais desse discurso nerdetizado.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Das perguntas (6)

Por que as hierarquias humanas se formam? Como elas funcionam?

Não é uma falha em notar um fenômeno mais geral que faz com que as pessoas discutam regimes políticos específicos, como capitalismo, socialismo, comunismo, monarquia, etc., em busca de identificar prós e contras, enquanto não percebem que humanos são propensos a hierarquias de um modo que produz, inevitavelmente, desigualdade e exploração? (sendo que a manifestação dessa natureza difere em diversos regimes, mas a tendência geral está lá)

Seria possível o conhecimento desse mecanismo permitir melhoras para a sociedade, ou é algo fora da nossa influência?

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Das perguntas (5)

Como podem, advogados e médicos, cobrarem tanto de clientes que recebem tão menos? Em meia hora de consulta, cobrarem o que um cliente médio precisa trabalhar, ao menos duas semanas para poder poupar? Como é possível tanta indiferença a pessoas que olham nos olhos? Que se sentam a poucos metros deles, frente a frente?

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Das perguntas (4)

Se ninguém ouvir uma árvore caindo no meio da floresta... ela produziu barulho ao cair?

Se ninguém ouvir as preocupações do ávido leitor preocupado com a beleza, a cultura e a justiça do mundo, ele melhorou o mundo ao ler?

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Das perguntas (3)

O "problema da integração", como pode ser chamada na Economia a questão de passar do comportamento individual à análise do agregado econômico, pode inspirar um paralelo na ciência: a inteligência individual pode se somar para produzir uma espécie de "inteligência agregada" na sociedade? Esse processo, se possível, seria espontâneo (bastando, assim, as inteligências individuais para que o conjunto agregado seja, também, inteligente)?

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Das perguntas (2)

Por que a Economia continua ensinando todas as conclusões que decorrem de assumir que o ser humano é racional, se já está mais do que demonstrado que o ser humano não é racional e que a agregação de milhões ou bilhões de comportamentos irracionais interagindo não produzem uma média que se comporte de modo racional?

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Das perguntas (1)

Como é possível que a mesma humanidade capaz de coordenar o esforço de milhares de pessoas na construção e uso de um equipamento como o LHC, um conglomerado de diversos aceleradores de partículas associados, com o maior deles tendo 25 km de diâmetro, não seja capaz de dar ao menos um mínimo de alimento, simples pratos de comida, a cada ser humano do planeta?

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Normal

Um remédio para dor de cabeça tem para mim uma eficiência assustadora. Eu olho para a cartelinha de comprimidos e então, horrorizado com a idéia de colocar sabe-se lá que substância dentro do meu cérebro, já começo a melhorar.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Cravado

Conheci a Layana no ônibus outro dia. Conversamos. Trocamos e-mails antes que as rotinas nos separassem pra sempre. Conversamos mais. E ela gostou de mim. Conheci a Gisele. Internet, essas coisas. Trocamos mensagens. Ela via as coisas que eu pensava. Meu jeito. Gostou de mim. Conheci a Aneta. Que conversava comigo. Ria. Contava histórias. E gostou de mim.

E eu não consigo parar de pensar nela. Com ela eu converso longamente. Penso nela todos os dias. Sinto saudades que trituram os ossos da espinha. Sinto vontade de fazer tudo por ela. Mas ela não quer nem saber. A vida dela é outra. O mundo dela é outro e sou uma parte pequena no cenário.

E fico tentando sabotar isso que sinto de todas as formas. E outras mil mulheres não dão conta de me fazer esquecer.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Só escrevendo (4)

A educação não é um assunto prioritário na mente dos brasileiros. O novo prefeito pintou de cinza muros grafitados. Aparece sempre bem vestido e falando bem na televisão. Ofende petistas. Anuncia diversas parcerias com empresas privadas. Vai privatizar parques por toda a cidade. E fez um corte gigantesco na pasta da educação e cultura. E... de algum modo, o saldo é avaliado como positivo para as pessoas.

Enquanto não entenderem que educação é uma preocupação prioritária, e que educação implica em autonomia, não iremos progredir.

Acho engraçado ver, também, as pessoas que não entendem a catástrofe que é a proposta "Escola sem partido". É preciso de uma completa acefalia política para defender essa ideia estúpida. Apenas pessoas de uma índole dogmática e desprovidas de filosofia e de consciência política não entendem a tragédia de um projeto como estes.

Mas como abordar essas pessoas? Como fazê-las enxergar? Vivemos novamente (na verdade nunca deixamos de viver) o mito da caverna, de Platão. Idiotas acreditam que a realidade é feita de sombras e aqueles poucos que vislumbraram um pouco além são tidos como loucos.
Não sei se tiro de tudo isso um norte para a minha vida, uma direção à qual dirigir minhas forças, ou se concluo que a existência é uma total decepção e perda de tempo. Decisão difícil.