sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Olé

No começo eu achava graça. Criar um personagem fictício, um pseudônimo, pra poder escrever sem medo de ser feliz. Qualquer coisa que viesse à cabeça. Sem ter que ser bonitinho, correto, audaz, contundente ou engraçado. Na internet coloca-se qualquer coisa, e ninguém me pagaria por isso. Então tava valendo tudo, tudo!

Mas comecei a perder o controle. De início, ficou estranha a fronteira entre pseudônimo e heterônimo, o que deu um certo trabalho. Daí o heterônimo ganhou vida, começou a ficar meio independente e a fazer coisas por si mesmo.

Até aí tudo bem, acontece, vá lá...

Mas de indiferença passou a desobediência explícita, a competitividades.

O heterônimo que criei passou a ser mais sociável que eu. Pega mais mulher que eu. Escreve melhor que eu. Come melhor, é mais sadio e mais sarado, até sorri mais bonito.

Tô ficando velho.

Ele, tem a idade que quiser!

domingo, 2 de dezembro de 2012

E se?

E se eu acordasse uma outra pessoa? De repente eu não sou mais quem eu sou. Não exatamente os mesmos passados. Os mesmos sonhos. Os mesmos futuros. Sei lá, não tenho resposta para isso. Estou só fazendo essas considerações por talvez um, talvez um... Será já um certo cansaço de ser eu mesmo por tanto tempo? Quantas vezes a gente se reinventa em outras vidas dentro dessa mesma única? Eu sou vários. Quem não é?

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Fim de ano

No fundo, com as porradas do tempo, vou ver é que ser um não me basta. A quem basta? Ser um no final não é nenhum. A mistura com a outra pessoa. A mistura consigo mesmo. A paz exterior. A paz interior. No fundo, ser um só já não me basta. Há outros querendo espaço para existir também.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Carona vida afora...

SMS recebido nesta manhã: "te pego ou me perco?" As duas coisas, querida. As duas coisas...

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Um Berto, dois Berto, três Berto... Zero Berto!

Primeiro, vou me defender. Se até hoje estamos lendo Platão e afins, não há problema em demorar alguns meses para ler uma notícia, né não? Ou sim? Foda-se.

Li hoje esta entrevista com Umberto Eco, publicada pela Época, aqui.

Desculpe talvez ignorar todos os méritos que tenha este senhor... Mas essa idéia de que pessoas não preparadas não podem se deixar expor à internet... Essa concepção de que a televisão é um meio melhor porque ali a informação já vem filtrada...

Ah caro Umberto Eco... vá escrever seus livrinhos, que isso deve dar um trabalhão danado já, e nos deixe em paz!

Que as pessoas falem! Sim, falarão besteiras, cultivarão equívocos... Mas é a caixa de Pandora que foi aberta quando duas pessoas compreenderam a primeira sílaba entre si. Não há meio termo quando se decide voltar atrás. A opção seria abandonarmos a fala. Deixarmos de lado essa mania irritante de nos comunicarmos. Sim, serão cultuadas crenças falsas. Verdades sobre o mundo serão atacadas por fanáticos e ignorantes em todos os meios possíveis. Sites, twitter, youtube, facebook e o escambau. Mas outras vozes surgirão. A diversidade ocupará seu devido espaço no palco e as luzes, no momento certo, lhe darão a devida atenção. Uma teoria da filtragem? Você acredita mesmo nisso? Então por que é que o senhor, culto e instruído, e inteligente, não filtrou suas próprias merdas antes de dizê-las? Caso não saiba, eu te explico: porque é melhor que os pensamentos ruins surjam ao mundo, e morram por si só, do que matá-los matando também os pensamentos bons. Va a fanculo, intelectualzinho de merda, antes de voltar a dar declarações defendendo absurdos como "filtro de informação" para a internet, seu gordo balofo cheio de preconceitos. Só você é culto o suficiente para navegar pela internet, não é? Realmente, me convenceu. Muito triste que não vivamos em uma ditadura firme que filtre as informações que nos chegam. A vida seria muito mais fácil. Eu poderia ter passado o dia, por exemplo, sem me expor a essa bosta de entrevista...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dia seguinte

Tenho medo da minha própria imprevisibilidade. Quando os assuntos dizem respeito somente a mim, não me importo. Mas quando envolve outras pessoas, tenho medo. Medo de não amar. Ou de deixar de amar. Medo de criar mais esperanças do que posso corresponder. Esperanças. É disso que são feitos os sonhos. Esperenças. Buscamos mais esperanças do que alegrias. O direito de sonhar. O direito de sonhar vale mais do que a realização dos sonhos. Mas eu não consigo deixar os sonhos correrem livres quando desconfio que não poderei concretizá-los nunca. Às vezes penso que sou inaceitavelmente honesto comgio mesmo.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Duas e trinta e cinco da manhã

Como a gente reinventa o mundo para falar de tudo o que sabe sem se comprometer por escancarar a vida alheia? Melhor nem ligar para isso, não é? Ou então eu falo só da minha vida e está tudo certo. Mas ficar dando voltas nos mesmos assuntos não é uma boa e é sempre isso o que eu faço. Dia após dia, tenho pensado no mesmo trágido amor irrealizado. Tenho considerado outras possibilidades de vida e pensado que me aproximo de idades onde tudo é mais e mais irreversível. E por que será que minha profissão é esta e nenhum outra? Errei por não ter escolhido outra coisa, ou erro agora por não encontrar um modo de ser feliz onde estou? Ou, ainda mais, erro por não encontrar um jeito de canalizar minha inqueitude de modo a inflamar mudanças produtivas? Foda-se.

domingo, 3 de junho de 2012

Ah, chega!

Tem muito artista que, posando de politizado, no fim só está enchendo o saco. Artista? Não sei, errei no termo. Ficar expondo uma pretensa alta cultura nos meios de massa atuais, Facebook, Twitter, o blog, o raio que o parta... Postando links para filmes, youtube disso e daquilo, curtindo essa porra ou aquela... Você é artista? Você é culto? Então crie, aprecie, mergulhe. Não seja uma merda de um simples nó da corrente, passando as coisas de um lado a outro. Bagunce o mundo você mesmo. Comente alguma coisa sempre que compartilhar algo. Insira sua marca. Investigue as suas verdades.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Metas

Sem poesia, o que eu faço? Sem imaginários livres, sem sonhos descabidos? Eu não sei me definir por objetivos. Objetivos são estágios intermediários mas o destino final de cada instante só pode ser uma inutilidade. Uma inutilidade absoluta. Não há outro sentido. As leituras, os cálculos, as fotografias, as conversas, as caminhadas, os relatórios, os cafés. Risos e olhares. O colapso do tempo na implosão de todas as preocupações. Um segundo de discontração.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Life in the ddge

Sou mesmo uma profusão bagunçada de idéias desconexas. E gosto de bagunçar a minha vida. Só tenho essa, e aí, entre a ordem e a desordem, escolho a desordem. Só a desordem pode criar. Porque ordem é exatamente isso: a continuidade impensada do que já existia.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Vagabundo confesso

A música foge de mim? Será que a música foge de mim? A vida me priva da música com seus dias de trabalhos inúteis, com os tempos dos ônibus, metrô, as coisas para estudar, os cansaços me escondendo dos ensaios. Quero tocar, mas hoje não. Preciso dormir. Escrever é mais quieto. E escrever só um pouquinho já é escrever.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Tagarela

Eu falo muito, vez ou outra, porque me acostumei a escrever. Foi o exercício da escrita que me aproximou das palavras. Isso é por si só curiosíssimo, já que a escrita é um terreno completamente artificial para as palavras. Como a terra seca era um mundo originalmente inabitável, completamente hostil, para todo ser vivo. Hoje são os seres da terra seca que invadem os oceanos como poderosos dominadores. O mesmo movimento se deu, em algum momento, com a palavra, que nasceu no oceano fluido da voz falada e, pouco a pouco, migrou para o terreno seco da escrita. O que parecia uma tentativa suicida de visitar um mundo inóspito acabou por se confirmar um dos maiores saltos evolutivos de todos os tempos. Sou um exemplo entre tantos, e estou, sei disso, longe, mas muuuuuuuuuuito longe, de ser o melhor exemplo. Ainda assim, acontece comigo também. Quieto aqui e ali, introspectivo, quando desato a falar, falo muito. Exemplifico. Metaforizo. Contextualizo. Comparo, faço hipóteses, busco entender opiniões com as quais não concordo e ilustro o ponto de vista do outro de outras formas. Levo ideias aos absurdos que implicam. Busco contradições. Tudo isso por uma razão, pura e simples: leio e escrevo. Quando a fala desata, trata-se na verdade da palavra retornando da terra seca ao seu ambiente geologicamente originário. É o mergulhador, animal dos continentes retornando ao caldeirão da sopa primordial.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Quem consome cultura?

A segmentação do mundo me espanta.

Se a arte, a cultura, são o objetivo máximo do espírito humano... então por que é que boa parte dos espíritos humanos não ligam pra isso?

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Fordismo?

Um dos nossos grandes equívocos diante da vida urbana que levamos é essa cisma de que devemos nos sentir culpados diante do nosso tempo livre. O meio corporativo não é inteligente o suficiente para alocar nosso tempo da melhor forma. Frequentemente, estamos fazendo um trabalho de que não gostamos. Ou então estamos simplesmente à toa. Aquela que é a melhor das opções - estar ocupado com algo de que realmente gostamos e que nos faz felizes, por mais que seja trabalhoso - raramente ocorre.

Pare de se sentir culpado. Pouco se pode fazer com relação a trabalhos odiosos. Mas sempre que o mundo profissional lhe presentear com um monte de nada pra fazer, tenha seus próprios projetos e dedique-se a eles! Pode ser algo para estudar, uma pesquisa, alguma coisa artística que você consiga fazer, fazendo uso deste tempo. O ideal seria deixarmos de ser hipócritas, pois é uma hipocrisia achar que ficar sentado em uma escrivaninha durante o "horário de trabalho" sem fazer nada é algo mais responsável e louvável do que sair e ir fazer qualquer outra coisa.

Sim sim, meu dia foi muito útil!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O nascimento da cidade

Gostamos dos alarmismos. Respiramos os alarmismos. Esta cidade é grande, é gigante, e fico pensando se existiria uma cidade assim gigante se não fosse nossa paixão pelo alarmismo. Economistas sonham, dizendo que é a troca que une as pessoas. Tendenciosos. Infantilmente tendenciosos. A cidade só se formou na História porque as pessoas queriam ficar perto, uma das outras, para serem as primeiras a ficarem sabendo das notícias. Especialmente das notícias ruins.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Por favor

Você está brincando comigo, não é? Não tem um namorado para incomodar não? Precisa mandar essas mensagens para mim justo hoje? Eu trabalho para te esquecer. É um esforço. Um esforço consciente e ativo. Eu conheci uma outra pessoa, sabia? Conheci tem pouco tempo. Fomos almoçar algumas vezes. Eu não quero ser menos amoroso com ela do que deveria só porque, de repente, você apareceu pedindo atenção. Não quero deixar de ir almoçar com ela ou de vê-la num sábado ou domingo porque, de repente, depois de meses sumida, você veio pedindo coisas que só minha amizade poderia oferecer. Venha dar risada. Escreva histórias. Divida sua vida. Mas não cobre esse afeto exclusivo que tantas e tantas vezes eu insisti em deixar só pra você sem que isso nunca lhe significasse nada. Me deixe em paz. Me deixe te amar em paz. Em silêncio. No meu canto. Em segredo. Em segredo bem guardado, até que eu esqueça também.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A jornalista

Tem esse contraste. Ela tem uma auto-estima muito baixa. Muito baixa mesmo. Contenta-se com pouco, com migalhas. Mas é muito orgulhosa. Acho que é isso o que irrita. Porque ela não hesita nas palavras. Coisa de jornalista, talvez. Você está contando uma história e ela diz cansei disso, vamos falar de outra coisa. Ou você mostra a ela algo que fez e ela dispara ficou uma bosta, precisa melhorar. Mas com ela é diferente. Nunca teve um namorado por muito tempo e isso certamente a machuca. Como não machucaria? Saiu de casa. Tem seu apartamento. Cuida das cores na parede, da geografia dos móveis. Arquiteta os sabores da cozinha e orquestra os horários do dia para acertar a harmonia do mundo. Adulta. E sobra este último recanto onde seus poderes não penetram: as ordens do coração. Nos maus humores de acessos pessimistas poderiam dizer que é cancerígena essa falta que temos de um outro. Com tantos amigos assim pela vida, porque é que falta tanto esse amor romântico? Vítimas de uma biologia anacrônica? Das contradições, chame-as por dialéticas, ironias ou grandes filhas-da-putice dos desígnios divinos, essa é uma das grandes: ao prazer se vai pelo caminho da dor e não se oferecem atalhos. Vai ver é bem por saber dessa verade que ela segue, teimosamente, caminhando.

Aliança

Juntou todas as moedas ao longo de meses. Chegava em casa, o que tinha de moeda no bolso ia para dentro da garrafa de coca-cola. Nesse meio tempo ocupava-se de se apaixonar mais e mais e mais. Nos passeios pelo shopping a namorada sempre passava pela joalheria. Olha só essa aliança, que bonita!

Com a garrafa quase cheia, finalmente o dinheiro bastava. Foi à joalheria. A dona da loja ficou encantada com aquela cena. Correu para buscar uma filmadora. Era o maior ato de amor que já havia testemunhado, alguém juntando tantas moedinhas assim para agradar a namorada. Mas não deu desconto. Ele haveria de pagar cada centavo, no amor não se pode facilitar!

Aliança comprada. Surpresa arranjada. Estava no bolso, aguardando um momento certo.

Só os dois, no quarto dela.

E ela lhe contou que queria voltar com o ex-namorado.

As alianças ficaram no bolso.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ressaca moral

Vou ficar aqui com essa corrosão. Não no fígado, mas nos pensamentos. Posso até imaginar o que se passou na cabeça dela: Minha amiga perguntou para ele se havia interesse em mim. Ele disse que havia. Homens. Sugeri sairmos no sábado e, acredite se quiser, sábado a tarde ele me manda uma mensagem dizendo que está bêbado e não poderá sair! Como assim? Vai passar o dia bêbado, é isso? Eu não quero sair com um homem que não consegue manter um compromisso porque fica largado ao álcool num descontrole de comemoração. É o aniversário dele, eu sei. Foi por isso, aliás, que o conheci. Ele apareceu no escritório, onde trabalho com um amigo dele, para dividir bolo e doces de aniversário. Falante, sorridente. Olhos claros, moreno. Fiquei interessada. Mas bêbado? Não, bêbado não funciona, não vai. E eu quero alguém para namorar. Não quero alguém para ficar saindo apenas nos breves lapsos de sobriedade. Não vai funcionar assim. Já tomei as providências. Está bloqueado no meu Facebook. Não respondo mais mensagens dele no celular. Esta última providência, vale dizer, achei que nem seria necessária. A ressaca o segurou por mais dois dias sem se manifestar! Só ontem recebi uma mensagem dele, perguntando se a página do Face estava mesmo bloqueada. Criança. Não entendeu o recado ainda? Quer que a tia desenhe? Estou procurando alguém sério. Quero namorar. Não quero um homem para me levar para a baladinha, tomar umas - ou todas, no caso -, e depois sumir. Quero um homem para conversar sobre meus pacientes, sobre minha família, para ouvir as histórias dele, para acharmos uma casa, para ficarmos juntos em dias de chuva, para nos telefonarmos. Quero uma companhia. E me aparece um bêbado. Sabia, eu sabia mesmo que havia algo de errado. Alto, olhos claros, solteiro, nerd, juraram que não era gay. E eu fui muito inocente. Bêbado. Só podia ser bêbado!

domingo, 29 de abril de 2012

Hoje

Há anos nos conhecemos. Mas há pouco nos vimos pela primeira vez. E agora não te conheço. Não te conheço mais. Porque conhecer - essa mentira que contamos para nós mesmos - consiste em saber pouco. De longe, eu sabia pouco. Bebemos. Piscina. As amigas, namoradas. Um dia perfeito. Imprevisível no passado. Incoerente com o quadro geral. E por isso mesmo, precisamente isso: perfeito.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Procurando no lugar errado

Não tem nada mais importante, nessa vida, do que olhar para fora. Porque é fora, no mundo, nos outros, nos lugares, que habita a vida, a novidade, o abraço, o sorriso que alimenta a alma, que encontramos destinatários para nossa ajuda, nossas lições, nosso amor... e de onde pode ecoar o que temos de ruim nos ensinando a aprender e o que temos de bom, produzindo uma felicidade impossível de experimentar de outra forma

Mundo, mundo!!!!

O que tem aí fora?

Quem tá aí?

Alôôô, alôôô

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Modos de trabalho

Eu não tenho essa coisa de artista. A coisa de artista é a disciplina. Eu existo numas vezes e desapareço em outras. Dizem que sou mais instável. Eu sou é estável demais, demoro semanas em cada humor, então as pessoas os experimentam todos num mesmo dia com os saltos dos minutos. A disciplina me escapa. Ela me existe, mas só às vezes. E isso dá no mesmo.

Deixa pra lá

Então eu não consigo contar minhas histórias. O que é que está acontecendo? Eu fiquei preciosista demais? É problema de concentração? Olho as fotos, penso nas histórias. Mas não escrevo nada. Escrevo isso aqui. É fácil confessar que algo não está funcionando. Muito mais fácil do que fazer a coisa funcionar de novo.

Você já se sentiu assim? Tem um tempo que meus planos pessoais não estão funcionando devidamente. Chego em casa e não consigo mais me concentrar. Até no trabalho, na verdade. Nada é interessante o suficiente para que eu me concentre até o fim. O que há, afinal? Algum palpite?

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Quilômetros

Que saudade filha da puta do caralho! Você se encaixava nos meus braços, ali certinho nos milímetros! De que adianta eu ficar pensando tanto em você? Não adianta porra nenhuma. Você sussurrou bons sonhos nos meus ouvidos. E eu escuto aquilo até hoje. Quem diria que as coisas ecoam também no tempo? Aquela voz leve, doce, quase sorrindo, quase dormindo, quase gargalhando. Doce... doce doce doce! Que saudade. Sua risada. Quando a gente andava, as ondas às vezes chegando até os pés. E a gente nem aí. Falava e ria. Tirava fotos. Brincava. Foi uma tarde perfeita, não foi? Foi um dia perfeito, não foi? A vida poderia ser sempre assim, daquele jeito. Aquele foi um dia em que eu amei existir. Sentir falta daquele dia, sentir essa dor de não estar mais aí perto... Estou sendo injusto? Foi já um presente de deus que eu estivesse aí ao menos um pouco. Agora estou longe, mas o que fazer? Você sente o mesmo?

Por favor

Querida, pare de jogar seus cadernos fora! Foram horas escrevendo. E daí que sente-se ridícula ao ler as histórias? E daí que não aprova nada? Simplesmente não cabe mais a você julgar. Pertencem a você as histórias que estão na sua mente. Uma vez no papel, pertencem ao papel, como é de qualquer papel a história que contém. Protege-se de que? Tem medo? Medo do que pensam os outros? Medo estúpido. Ainda mais quando tantos dentre esses outros sequer pensam!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Interrogações

Poderia uma mulher ter detido Hitler e alterado o destino de milhões de vítimas? E o futuro da economia do mundo?

Se Jesus Cristo existiu mesmo ou não... que diferença faz?

Pergunto o mesmo sobre Deus, ajeitando, claro, o tempo do verbo.

Se realmente temos poder de escolha sobre nossa vida, por que é que somos tão pouco criativos ao considerar as opções que temos?

Vias

Gosto de dar conselhos às pessoas porque é mais fácil pensar coisas boas para os outros do que para mim. É esse o egoísmo: gosto de dar bons conselhos aos outros para conseguir ouvir de mim mesmo as coisas que recuso a dizer nas sinceridades da minha solidão

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Curiosidades

O que é que você está fazendo agora? Está ocupada produzindo mais um documentário?

Ou está resolvendo a vida, as coisas do apartamento, procurando onde morar, terminando um namoro, começando outro talvez?

Lê um livro? O que anda lendo?

O que é que você pensa quando está andando de ônibus, olhando pela janela? Pensa nas tarefas do dia? Pensa em coisas bonitas, abstratas? Deixa-se tomar por preocupações?

Você está tão longe agora.

Era frio, tão frio naquele dia, não era? E você me fez esquecer do frio.

Aqueceu minhas caminhadas só com suas palavras e risadas.

O que será que você está fazendo agora? Por onde anda?

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sonhando impossíveis

Eu sonho com uma facilidade exagerada demais. A realidade não me intimida. Imagino coisas sem medo, sem consciência dos meus limites. Planejo meus dias como se a vida fosse eterna, minhas possibilidades ilimitadas e minhas responsabilidades absolutamente nulas. Sonho, sonho demais. Não é difícil. E é delicioso.

sábado, 31 de março de 2012

The miracle of language

Displacement
This placement
This place meant

And in every conversation
It's so clear!
The obvious is a thousand times faster
Than the creativity of our doubts
In the history of science
Philosophy
And arts
This is an important part!

quarta-feira, 28 de março de 2012

Mais exorcismos

Quantos fantasmas te assombram? Eu sou constantemente assombrado por medos diversos. Medos de fracassos. Medo de que certas escolhas não passem de uma escolha errada. Medo de perder um pouco desta coisa se escolher tentar também aquela. Você está me entendendo? Identifica-se com este tipo de situação?

Eu quero fazer outros cursos. Mas e se isso de alguma forma atrapalhar minha carreira?

E quanto ao livro que quero escrever, de onde vou tirar tempo para tocar este projeto?

Talvez eu, às vezes, tenha tempo livre demais para ficar pensando.

Talvez eu pense nas horas erradas.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Fútil

Não é que eu tenha um interesse desmedido pelo fútil. Mas entender a dinâmica dos interesses das pessoas é algo que ainda vai me ajudar a entender melhor, inclusive, o interesse pelo não-fútil.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Que venha a velhice!

De que importam as datas e as idades e os tempos? Corremos atrás desse roteiro imaginário. Sofremos nessa auto-avaliação estúpida. Mas o que importa? Vinte anos, a faculdade, o namoro... Um carro? Trinta anos, o trabalho, o casamento. Quarenta anos, a casa, os filhos. Que coisa mais sem sentido. As pessoas mais felizes que conheci descobriram alguma maneira de ignorar tudo isso. Que sorte a deles, que sorte! Vivem no ritmo próprio e tem a idade certa de viver aquilo que gostam. Estudos, filhos, casa, viagens, tudo isso ditado mais pelos conflitos entre possibilidades e vontades do que por checkpoints imaginários na quarta-dimensão. Tenho essa amiga, Rê, cuja vó, digo sempre com convicção, é ao menos vinte anos mais nova que ela própria. Milagre? Maternidades duvidosas na árvore da vida? Não não, diferença de atitudes mentais, só isso. Minha amiga Rê está sempre se distanciando de suas vontades pois luta para cumprir obrigações que não escolheu, ela própria, para si. A avó, por outro lado, tem como mais alta manifestação de sua lucidez uma capacidade incrível para esquecer seus quase noventa anos quando decide se aceita ou não um convite para o cinema, para visitar pessoas queridas ou para convidá-las a sua casa. O único critério é a vontade e o ânimo que se experimenta no momento. Coisa que deveria ser o critério para tantas outras decisões na vida. Quanto a mim, não quero ser sempre jovem. Quero envelhecer logo, amanhã já, daqui a pouco. Mas quero envelhecer como a vó da Rê.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Violinos e alfaces...

Ela era vegetariana e absolutamente contra a criação de ciclovias em São Paulo. Não que a associação entre esses predicados fosse óbvia, exceto para ela, que sempre os anunciava assim, justapostos, com uma naturalidade que só a certeza do óbvio pode produzir. Era romântica dos ursos de pelúcia rosa espalhados pelo quarto e apreciadora de cartas perfumadas. Não ia para o cinema se não fosse para assistir filmes como Velozes e Furiosos ou a trilogia de X-Man. Diversão é diversão, dizia ela. Para coisas sérias há outras ocasiões. Tocava violino em um conservatório desde os sete anos. Tinha a discografia completa do Reginaldo Rossi e adorava cantar garçon, aqui, nessa mesa de bar... nos videokês da cidade.

terça-feira, 20 de março de 2012

Coisas de estética

O que é que você quer de um livro? Eu fiquei chocado outro dia. Levei a uma amiga um livro sobre um cara que tinha dúvidas sobre a vida dos homens das cavernas e então decidiu passar, ele mesmo, um tempo vivendo em condições selvagens, em cavernas perdidas no mundo. E sem uma arma, sem uma lanterna ou pilha elétrica para o radinho ou o que quer que seja. Lá na última visita a casa dela, anuncia assim o livro a uma outra amiga:

- Ah, é um livro que o Adoniran me emprestou.

- Sobre o que é? É bom?

- É um cientista que tinha dúvidas sobre o modo de vida dos homens das cavernas e aí ele vai lá viver nas cavernas um tempo. Mas é muito chato, porque tem partes que fica descrevendo as cavernas em detalhes demais. Só interessa para metidos a cientistas, como o Adoniran mesmo. É meio chato!

Desculpe, desculpe... Não a obrigo a gostar do livro, claro. Mas há algo que se perdeu aí... Confesso, confesso: quanto ao livro em si, eu também achei a leitura muitas vezes pesada e pulei algumas partes. Mas isso não diminui em nada minha empolgação com relação à história como um todo, e mais anda, minha empolgação com relação ao feito desse cientista.

Acho que a apreciação das coisas humanas deve sempre olhar ao humano que está por trás da obra. O livro é uma pequena ondulação na superfície de uma realidade maior. Uma pequena parte do elefante, se preferir. Apreciar a arte pelo que ela contém em si, e nada mais, para mim parece uma espécie de consumismo cego. Nunca se trata da arte, apenas da arte. É uma coisa humana... há o contexto da vida emoldurando tudo. É por isso que eu me entristeço também em ver quem não sabe apreciar a música dos que estão a aprender música. Há pessoas que têm ouvidos apenas para as mais destacadas produções humanas da história. É um elitismo e, como todo elitismo, pobremente cego. Não vou mais desenvolver a idéia aqui. Este não é um ensaio acabado sobre o tema - não é nem um ensaio. Não é o melhor post da internet. É um texto sem chance de receber atenção daqueles que o inspiraram.

domingo, 18 de março de 2012

Das distâncias

Eu a conheci de forma totalmente inesperada. E fiz o que nunca havia feito antes... Depois de conversar um pouco no metrô, a caminho de casa, e esperar o ônibus com ela, na hora de dizer tchau a beijei. Beijo roubado. Eu não poderia deixar de fazer isso. Eu me sentia feliz. Eu me sentia feliz como não lembrava mais ser possível. Minha solidão profunda daqueles dias quase surreais havia se diluído naqueles olhares cheios de sorrisos, naquela vontade de rir de todas minhas infinitas idiotices ditas à toa. Ela entrou no ônibus e eu entrei em crise. Uma ótima nova amizade que se apresenta, e botei tudo a perder. Depois dessa atitude idiota, não vai mais falar comigo.

Mas falou comigo. E viajamos juntos. E nos beijamos algumas vezes. E dormimos juntos. E ela se encaixava tão perfeitamente no meu abraço. I could stay awake just to hear you breathing. Efetivamente, meu sono vinha uma ou duas horas após o sono dela. Fiquei idiota? Eu admirava a paz infantil do sonho dela. E ficava sem acreditar na ergonomia perfeita daquele corpo doce sobre meu braço esquerdo - quem quer que já tenha dormido abraçado a um par sabe das dificuldades que tenho em mente aqui. Era confortável estar perto dela, não só pela minha alegria exagerada, mas havia um conforto físico também.

Por onde ela anda agora?

Sente saudades?

O que importa, realmente, responder essas coisas?

Há distâncias na vida que a gente não controla. Mas, sendo honesto, esses ventos que a levaram são os mesmos que a trouxeram, e só posso ser grato.

terça-feira, 13 de março de 2012

sobre ser o que se é

...e quanto a aquela parte de nossa essência que existe sem que controlemos? Também é parte do que somos em nosso imaginário?

Gostamos de ser nossa criatividade, nossa imaginação, e mesmo nossos sonhos.

Mas quanto a coisas que não controlamos...

Raça, por exemplo. Um negro é negro. Mas reduzí-lo a isso, ou sequer mencionar esse fato (e, enquanto fato, nunca deixará de sê-lo) é hoje por mil razões um problema enorme!

Uma pessoa alta é uma pessoa alta. Fato. Mas esse fato, até que ponto se incorpora ao seu imaginário, ao seu orgulho de si? Mais que isso: até que ponto pode ser incorporado a sua lista de méritos?

Há outras existências incontroláveis porém talvez intermitentes.

Nossas raivas. Nossas raivas são intermitentes. As absorvemos como parte de nossa existência também?

E quando as palavras são assim incontroláveis também? Não escrevo quando quero, nem bem o que quero. Às vezes só tenho que escrever, e qualquer coisa e não importa. E é um alívio. Um alívio de brincar de qualquer coisa que não sou exatamente eu, mesmo o sendo...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

insight in sight

mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade se tão contrário a si é o mesmo amor?
tem um tempo de já são lá alguns anos que vez ou outra nuns alguns momentos me penso nesses versos e não sei nada entre amaldiçoar o amor ou só sentir saudade de amizades que nele se perderam...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Literatura em tempos de twitter

Recebi no meio da bagulhada toda que vem no e-mail:

Para pessoas muito ocupadas sem tempo para leitura, mas sem prejuízo de conhecer o conteúdo das obras

William Shakespeare
Romeu e Julieta

Dois adolescentes doidinhos se apaixonam, mas as famílias proíbem o namoro. As duas turmas saem na porrada, uma briga fodida, muita gente se machuca. Então, um padre filho da puta tem uma idéia idiota e os dois morrem depois de beber veneno, pensando que era sonífero.
Fim.

Gustave Flaubert:
Madame Bovary.
778 páginas.

Uma dona de casa mete o chifre no marido e transa com o padeiro, o leiteiro, o carteiro, o homem do boteco, o dono da mercearia e um vizinho cheio da grana. Depois entra em depressão, envenena-se e morre.
Fim.

Leon Tolstoi
Guerra e Paz.

Paris, Ed.Chartreuse. 1200 páginas
Um rapaz não quer ir à guerra por estar apaixonado e por isso Napoleão invade Moscou. A mocinha casa-se com outro.

Fim.

Marcel Proust:
À La recherche du temps perdu. (Em Busca do Tempo Perdido)
Paris, Gallimard.
1922. 1600 páginas.
Um rapaz asmático sofre de insônia porque a mãe não lhe dá um beijinho de boa-noite.
No dia seguinte (pág. 486 vol. I), come um bolo e escreve um livro. Nessa noite (pág.1344, vol.VI) tem um ataque de asma porque a namorada (ou namorado?) se recusa a dar-lhe uns beijinhos.
Tudo termina num baile (vol. VII) onde estão todos muito velhinhos - e pronto.
Fim.

Luís de Camões:
Os Lusíadas.
Editora Lusitânia
Um poeta com insônia decide encher o saco do rei e contar-lhe uma história de marinheiros que, depois de alguns problemas (logo resolvidos por uma deusa super gente fina), ganham a maior boa vida numa ilha cheia de mulheres gostosas.
Fim.

William Shakespeare
Hamlet


Essa é foda.

Um príncipe com insônia passeia pelas muralhas do castelo, quando o fantasma do pai lhe diz que foi morto pelo tio que dorme com a mãe, cujo homem de confiança é o pai da namorada, que, entretanto, se suicida ao saber que o príncipe matou o seu pai para se vingar do tio que tinha matado o pai do seu namorado e dormia com a mãe. O príncipe mata o tio que dorme com a mãe, depois de falar com uma caveira e morre assassinado pelo irmão da namorada, a mesma que era doida e que tinha se suicidado.
Fim.

Sófocles:
Édipo-Rei

Maluco tira uma onda, não ouve o que um ceguinho lhe diz e acaba matando o pai, comendo a mãe e furando os olhos. Por conta disso, séculos depois, surge a psicanálise que, enquanto mostra que você vai pelo mesmo caminho, lhe arranca os olhos de cara em cada consulta. Parada muito doida.
Fim.

William Shakespeare
Othelo

Um rei otário, tremendo zé-roela, tem um amigo muito filho da puta que só pensa em fazê-lo de bobo. O malandro não ganha um cargo no governo e resolve se vingar do rei, convencendo o de que a rainha está dando pra outro. O zé mané acredita e mata a rainha. Depois descobre que não era corno, mas apenas muito burro por ter acreditado no traíra. Prende o cara e fica chorando sozinho.
Fim.