quinta-feira, 31 de maio de 2012

Life in the ddge

Sou mesmo uma profusão bagunçada de idéias desconexas. E gosto de bagunçar a minha vida. Só tenho essa, e aí, entre a ordem e a desordem, escolho a desordem. Só a desordem pode criar. Porque ordem é exatamente isso: a continuidade impensada do que já existia.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Vagabundo confesso

A música foge de mim? Será que a música foge de mim? A vida me priva da música com seus dias de trabalhos inúteis, com os tempos dos ônibus, metrô, as coisas para estudar, os cansaços me escondendo dos ensaios. Quero tocar, mas hoje não. Preciso dormir. Escrever é mais quieto. E escrever só um pouquinho já é escrever.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Tagarela

Eu falo muito, vez ou outra, porque me acostumei a escrever. Foi o exercício da escrita que me aproximou das palavras. Isso é por si só curiosíssimo, já que a escrita é um terreno completamente artificial para as palavras. Como a terra seca era um mundo originalmente inabitável, completamente hostil, para todo ser vivo. Hoje são os seres da terra seca que invadem os oceanos como poderosos dominadores. O mesmo movimento se deu, em algum momento, com a palavra, que nasceu no oceano fluido da voz falada e, pouco a pouco, migrou para o terreno seco da escrita. O que parecia uma tentativa suicida de visitar um mundo inóspito acabou por se confirmar um dos maiores saltos evolutivos de todos os tempos. Sou um exemplo entre tantos, e estou, sei disso, longe, mas muuuuuuuuuuito longe, de ser o melhor exemplo. Ainda assim, acontece comigo também. Quieto aqui e ali, introspectivo, quando desato a falar, falo muito. Exemplifico. Metaforizo. Contextualizo. Comparo, faço hipóteses, busco entender opiniões com as quais não concordo e ilustro o ponto de vista do outro de outras formas. Levo ideias aos absurdos que implicam. Busco contradições. Tudo isso por uma razão, pura e simples: leio e escrevo. Quando a fala desata, trata-se na verdade da palavra retornando da terra seca ao seu ambiente geologicamente originário. É o mergulhador, animal dos continentes retornando ao caldeirão da sopa primordial.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Quem consome cultura?

A segmentação do mundo me espanta.

Se a arte, a cultura, são o objetivo máximo do espírito humano... então por que é que boa parte dos espíritos humanos não ligam pra isso?

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Fordismo?

Um dos nossos grandes equívocos diante da vida urbana que levamos é essa cisma de que devemos nos sentir culpados diante do nosso tempo livre. O meio corporativo não é inteligente o suficiente para alocar nosso tempo da melhor forma. Frequentemente, estamos fazendo um trabalho de que não gostamos. Ou então estamos simplesmente à toa. Aquela que é a melhor das opções - estar ocupado com algo de que realmente gostamos e que nos faz felizes, por mais que seja trabalhoso - raramente ocorre.

Pare de se sentir culpado. Pouco se pode fazer com relação a trabalhos odiosos. Mas sempre que o mundo profissional lhe presentear com um monte de nada pra fazer, tenha seus próprios projetos e dedique-se a eles! Pode ser algo para estudar, uma pesquisa, alguma coisa artística que você consiga fazer, fazendo uso deste tempo. O ideal seria deixarmos de ser hipócritas, pois é uma hipocrisia achar que ficar sentado em uma escrivaninha durante o "horário de trabalho" sem fazer nada é algo mais responsável e louvável do que sair e ir fazer qualquer outra coisa.

Sim sim, meu dia foi muito útil!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O nascimento da cidade

Gostamos dos alarmismos. Respiramos os alarmismos. Esta cidade é grande, é gigante, e fico pensando se existiria uma cidade assim gigante se não fosse nossa paixão pelo alarmismo. Economistas sonham, dizendo que é a troca que une as pessoas. Tendenciosos. Infantilmente tendenciosos. A cidade só se formou na História porque as pessoas queriam ficar perto, uma das outras, para serem as primeiras a ficarem sabendo das notícias. Especialmente das notícias ruins.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Por favor

Você está brincando comigo, não é? Não tem um namorado para incomodar não? Precisa mandar essas mensagens para mim justo hoje? Eu trabalho para te esquecer. É um esforço. Um esforço consciente e ativo. Eu conheci uma outra pessoa, sabia? Conheci tem pouco tempo. Fomos almoçar algumas vezes. Eu não quero ser menos amoroso com ela do que deveria só porque, de repente, você apareceu pedindo atenção. Não quero deixar de ir almoçar com ela ou de vê-la num sábado ou domingo porque, de repente, depois de meses sumida, você veio pedindo coisas que só minha amizade poderia oferecer. Venha dar risada. Escreva histórias. Divida sua vida. Mas não cobre esse afeto exclusivo que tantas e tantas vezes eu insisti em deixar só pra você sem que isso nunca lhe significasse nada. Me deixe em paz. Me deixe te amar em paz. Em silêncio. No meu canto. Em segredo. Em segredo bem guardado, até que eu esqueça também.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A jornalista

Tem esse contraste. Ela tem uma auto-estima muito baixa. Muito baixa mesmo. Contenta-se com pouco, com migalhas. Mas é muito orgulhosa. Acho que é isso o que irrita. Porque ela não hesita nas palavras. Coisa de jornalista, talvez. Você está contando uma história e ela diz cansei disso, vamos falar de outra coisa. Ou você mostra a ela algo que fez e ela dispara ficou uma bosta, precisa melhorar. Mas com ela é diferente. Nunca teve um namorado por muito tempo e isso certamente a machuca. Como não machucaria? Saiu de casa. Tem seu apartamento. Cuida das cores na parede, da geografia dos móveis. Arquiteta os sabores da cozinha e orquestra os horários do dia para acertar a harmonia do mundo. Adulta. E sobra este último recanto onde seus poderes não penetram: as ordens do coração. Nos maus humores de acessos pessimistas poderiam dizer que é cancerígena essa falta que temos de um outro. Com tantos amigos assim pela vida, porque é que falta tanto esse amor romântico? Vítimas de uma biologia anacrônica? Das contradições, chame-as por dialéticas, ironias ou grandes filhas-da-putice dos desígnios divinos, essa é uma das grandes: ao prazer se vai pelo caminho da dor e não se oferecem atalhos. Vai ver é bem por saber dessa verade que ela segue, teimosamente, caminhando.

Aliança

Juntou todas as moedas ao longo de meses. Chegava em casa, o que tinha de moeda no bolso ia para dentro da garrafa de coca-cola. Nesse meio tempo ocupava-se de se apaixonar mais e mais e mais. Nos passeios pelo shopping a namorada sempre passava pela joalheria. Olha só essa aliança, que bonita!

Com a garrafa quase cheia, finalmente o dinheiro bastava. Foi à joalheria. A dona da loja ficou encantada com aquela cena. Correu para buscar uma filmadora. Era o maior ato de amor que já havia testemunhado, alguém juntando tantas moedinhas assim para agradar a namorada. Mas não deu desconto. Ele haveria de pagar cada centavo, no amor não se pode facilitar!

Aliança comprada. Surpresa arranjada. Estava no bolso, aguardando um momento certo.

Só os dois, no quarto dela.

E ela lhe contou que queria voltar com o ex-namorado.

As alianças ficaram no bolso.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ressaca moral

Vou ficar aqui com essa corrosão. Não no fígado, mas nos pensamentos. Posso até imaginar o que se passou na cabeça dela: Minha amiga perguntou para ele se havia interesse em mim. Ele disse que havia. Homens. Sugeri sairmos no sábado e, acredite se quiser, sábado a tarde ele me manda uma mensagem dizendo que está bêbado e não poderá sair! Como assim? Vai passar o dia bêbado, é isso? Eu não quero sair com um homem que não consegue manter um compromisso porque fica largado ao álcool num descontrole de comemoração. É o aniversário dele, eu sei. Foi por isso, aliás, que o conheci. Ele apareceu no escritório, onde trabalho com um amigo dele, para dividir bolo e doces de aniversário. Falante, sorridente. Olhos claros, moreno. Fiquei interessada. Mas bêbado? Não, bêbado não funciona, não vai. E eu quero alguém para namorar. Não quero alguém para ficar saindo apenas nos breves lapsos de sobriedade. Não vai funcionar assim. Já tomei as providências. Está bloqueado no meu Facebook. Não respondo mais mensagens dele no celular. Esta última providência, vale dizer, achei que nem seria necessária. A ressaca o segurou por mais dois dias sem se manifestar! Só ontem recebi uma mensagem dele, perguntando se a página do Face estava mesmo bloqueada. Criança. Não entendeu o recado ainda? Quer que a tia desenhe? Estou procurando alguém sério. Quero namorar. Não quero um homem para me levar para a baladinha, tomar umas - ou todas, no caso -, e depois sumir. Quero um homem para conversar sobre meus pacientes, sobre minha família, para ouvir as histórias dele, para acharmos uma casa, para ficarmos juntos em dias de chuva, para nos telefonarmos. Quero uma companhia. E me aparece um bêbado. Sabia, eu sabia mesmo que havia algo de errado. Alto, olhos claros, solteiro, nerd, juraram que não era gay. E eu fui muito inocente. Bêbado. Só podia ser bêbado!