sábado, 28 de fevereiro de 2015

Família

Dois irmãos. Um é desses dos negócios. Vende. Compra. Telefona. Anuncia. Combina. Fala com estranhos. Vai a lugares diferentes buscar um carro novo, levar o velho. Uma máquina nova. Arruma a velha. Um problema aqui. Outro ali. Resolve. O outro irmão é desses das palavras. Estantes grandes onde se guardam livros e livros e livros. Sai pouco de casa mas sente viajar pelo mundo. Pelas histórias. Tesouros escondidos. Mistérios das estrelas. Segredos do deserto. Duas vidas em muito opostas. Mas complementares.

Foto #059


Contato

Lá era só eu, o barulho do carro e o rugido da terra sob os pneus. Aquele verde que se desenrolava dos dois lados, denso feito espuma, feito esponja de banho. Macio mas impenetrável, intransponível. Mas tinha lá as criaturas que transpunham. No mais certo elas eram do tamanho apropriado. Miúdas feito corujas, passarinhos de cores nunca vistas antes. Preto em cima e branco dos lados, feito corinthiano. Ou marrons de tonalidade calibrada. E claro que muitas minhocas, moscas, vespas, besouros e essas miudezas andantes todas. Mas vi ali à frente o que não deixou dúvidas: era um focinho, focinho grande. Focinho canino. Freiei quase no susto do jeito que freia quem acabou de atropelar um caboclo desavisado. Freiei bem freiado mesmo. E o focinho logo ali na frente, me olhando. Tinha garoado à pouco. Fazia frio para aqueles lugares abertos. Longe de tudo. Longe demais da varanda mais próxima ou do saco de lixo cheio de restos mais próximo. Ficamos alguns minutos nesse olha daqui e olha dali. Eu não trazia comigo nem ração nem pedaços de carne pois não estava nos meus planos ou receios este inusitado encontro. Das coisas alimentares eu só trazia biscoitos. Gostosos, é verdade, mas no meu costume eram bons apenas acompanhados de café com leite e cobertos com manteiga fresca. Resolvi dividí-la com meu improvisado amigo. Abri a porta. Ele ali, olhando. Pé pra fora. Ele ali, olhando. Saí do carro e ao fazer-me plenamente vertical, zup! Ele desapareceu mata adentro. Que engano meu achar que aquela criatura das selvagerias suportaria qualquer próximo convívio. Voltei ao interno do veículo, dei partida e segui em primeira. Ao passar por onde estava o cachorro joguei uma mãozada cheia dos biscoitos todos ao mato, a esmo, sem nem sinal dele, e segui ali mais adiante. Desliguei novamente o carro uns tantos metros lá pra lá e fiquei com os olhos grudados no espelho retrovisor, sem nem o rosto por pra fora do carro, já que é dos instintos catingueiros fugir de outros rostos. Quando vi num repente ressurgir ali o focinho a farejar os biscoitos jogados, religuei o automóvel e meu caminho segui.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

BR-020

A rotatória liga a estrada que cruza o cerrado no sentido norte-sul com aquela que derrama asfalto para além dos horizontes do leste. Ao longo de sua circunferência são dezoito cruzes de madeira. Quem passa tem a impressão de que foi um ônibus a se acidentar ali. Mas foram diversos acidentes separados. Cada um levando um punhado de vidas. Distração de segundos e agora uma cruz de madeira, fincada na grama.

Foto #058


Horas de Sonhos

Você fala de como a vida é bonita dessa beleza que os adolecentes de colegial não entendem e aí eu quero poder te olhar nos olhos e admirar este olhar que tanta coisa bonita vê, que só pode ser um olhar bonito. Você fala das rimas que admira, do frio na barriga nas ansiedades da vida. E eu leio, leio, leio. Tão distante. No tempo. No espaço. Na vida. Só as palavrinhas me chegaram. E ainda assim penso como seria rir com você. Tão longe, tão abstrata. Só o papel me veio. E ainda assim penso em que textura teria sua mão ao admirar o pôr do sol lá em cima da montanha.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O andar da vida

Por que o ar condicionado começou a vazar água?

Tenho que assinar três vias do acompanhamento de estágio da menina nova.

A quantos quilômetros por hora os carros estavam quando bateram?

Tenho que terminar o trabalho cujo prazo está estourado em dois meses.

Quando foi a última vez que liguei para minha mãe?

Parei a leitura do livro que comprei no aeroporto. No segundo capítulo.

Onde está dona Maria, com quem fiquei conversando na Rodoviária?

Cai uma garoa e as tensões se acalmam, mas a seca continua se aproximando.

Quando vou comprar um carro novo?

Assisto filmes europeus e rezo para aquela beleza não ser da boca pra fora.

O que é amor de verdade?

Foto #057


Das distâncias

Tem uma coisa que eu gosto na internet. Ela faz com que a gente tenha acesso a muitas coisas distantes e em muitos momentos importantes. Mas tem uma coisa que eu não gosto da internet. Ela não tem me permitido experimentar um verdadeiro isolamento ou senso de distância. Quando eu era pequeno viajava para a cidade em que meu pai nasceu. Não ficava muito longe da capital. Só uns duzentos quilômetros. Mas nos tempos do Fusca isso eram várias horas. E nos tempos da infância as várias horas era uma longa eternidade necessariamente pontuada por sonos no banco de trás. Ao chegar lá, um outro mundo. Um mês de férias sem saber das coisas da cidade. Sem saber de notícias das pessoas. Tempo para ver as coisas locais. Os cheiros. Os doces da pequena cidade. Os tipos diferentes de flores e árvores no meio do mato. Hoje não. Hoje viajo para muito mais longe. Mil. Mil e quinhentos. Dois mil quilômetros nas entranhas do Brasil. E se tiver sinal de internet, Whatsapp e o escambau, continuo me sentindo no meio da Av. Paulista.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Foto #056


Tem em todo lugar

-Fica tranquilo. Campo de futebol, puteiro e buteco tem em todo lugar. Então o buteco você vai achar, com certeza!
-Hum... e esse puteiro, acha que é garantido mesmo?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Raspão

Mais uma vez, a morte passou perto. O barulho da lataria amassando, do vidro estilhaçando. E da borracha raspando contra o asfalto. Memórias confusas, enevoadas. Distantes como se fosse já há décadas. Foi há menos de trinta horas. Ter acontecido o que aconteceu foi azar. Um carro colidindo com outro. A capotagem. Os pedestres surgindo no meio da pista, saídos daquele breu negro na última hora. Mas foi sorte também. Não colidimos de frente com outro veículo. Não desviamos para cima daquela família de andarilhos. Não batemos contra uma árvore quando capotamos para fora da estrada. Não ficamos prensados nas ferragens. Não quebramos um osso sequer. Nossas pernas ainda funcionam. Foi só ferro torcido e um grande susto. Mas é difícil acreditar nisso, vendo as fotos. Não gosto de ficar flertando com a morte assim. Tivemos nossa culpa. Todos tivemos. Vamos passear? Vamos ver a cachoeira? Vamos ver a reserva? Vamos, vamos, vamos! E vamos comprar mais cerveja e vamos bebendo o caminho todo. Fizemos as contas depois. Foram seis packs e meio de cerveja. Em cinco pessoas. Detalhe: eu praticamente não bebo, devo ter bebido três latinhas. Detalhe: não era eu dirigindo. Por que eu não exigi a direção? Que idiotice, quanta idiotice! Não gosto de flertar assim com a morte. Mas a gente deixa. A gente sempre deixa. Sempre acha que não vai ser dessa vez. Na hora, quando o acidente mostra que vai acontecer, não há mais nada para fazer. Gritos de FREIA! DESVIA! VOLTA! DIREITA! ESQUERDA! Nada mais funciona. De repente, quem está dirigindo o veículo é a inércia e quem faz as curvas são os obstáculos à frente. Dessa vez escapei. Escapamos.

Foto #055


Continuum

Não, o conhecimento intelectual não é dicotômico. Se posso fazer uma analogia matemática, meio à moda de Lacan, mas com muito mais propriedade que ele (porque eu sei o que estou fazendo, vou me explicar, e há uma pertinência no que vou dizer), aqui está: o conhecimento intelectual distribui-se sobre um continuum. Assim como entre qualquer número racional encontra-se um outro número racional, criando uma sequencia de números efetivamente sem nenhum espaço entre si (não importa o quão próximos dois números estejam, sempre existem infinitos números entre eles!), assim também o é com o conhecimento humano. Não existe loucura de um lado, razão do outro, e um vazio no meio. Prova disso é montanha de papel que já se gastou com a doutrina filosófica do Solipsismo. Que nada mais é do que a loucura dos manicômios e dos botecos, manifesta em quem senta em poltronas confortáveis e tem tempo de sobra para não usar em nada que preste. Mas, de coisa inútil em coisa inútil, a humanidade vai se construindo. Até eu aqui, escrevendo essa coisa que ninguém vai ler, num site que ninguém acessa, sou parte da marcha adiante.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Locus

Nos muitos milhares de quilômetros de estradas que vascularizam a atrofiada economia brasileira, encontrar auxílio muitas vezes é uma aventura em si. Auxílio, veja bem, qualquer que seja. Um posto de gasolina. Um banheiro. Um lugar para comer uma coxinha com coca-cola. Um borracheiro. E teve uma vez que vivi isso de perto. Estava lá para aqueles lados do norte. Eram quilômetros e quilômetros de estrada de terra para sair da fazenda. Choveu, atolou. Eu sempre tinha uma garrafa de água grande no carro e alguns salgadinhos também, biscoitos, essas coisas. Vai que eu fico atolado ali. Pode ser que só passe uma possível ajuda no dia seguinte. Ou depois. E eu vivo do que? Posso até passar um aperto, mas passar sede absoluta no meio do mato? Isso é coisa de quem vive em São Paulo.

Um dos pneus do carro dizia: vou estourar logo mais! Na cidade a gente não se preocupa tanto. Ou estoura, ou não estoura. Dá um certo medo de estourar na estrada, de provocar um acidente. Aqui, nesse contrasenso que é um lugar sem ninguém em que o homem já destruiu tudo (não há mais floresta nativa quase em parte alguma), acidente é o de menos. Perigo mesmo é o ficar parado. Eu tinha que dar um jeito de arrumá-lo. Disseram que tinha um posto de combustível, seguindo depois da estrada de asfalto, pegando à esquerda. Mais sessenta e cinco quilômetros. Era mais perto. Tem borracharia lá? Tem sim! Maravilha. Fui.

Chovia. Estrada. Plantações dos dois lados. Terrenos vazios. Passaram as máquinas e decidiram que não valia a pena plantar nada. Quilômetros. Quilômetros. Quilômetros. Quilômetros. Buraco. Uma curva. Vira um pouquinho a direita. Parece que começou a subir. Uma leve subida. Mas pelos próximos cinco quilômetros a diferença de altitude será considerável. Um ônibus passa. Um ônibus! Fico com a impressão de que essa estrada é movimentada demais. Um ônibus! E parecia ter muita gente dentro, que coisa. Quilômetros. Quilômetros. Quilômetros. Fico conhecendo todas as trepidações do carro. Como ele se comporta a oitenta quilômetros por hora. A noventa. A noventa e cinco. E decido não passar mais disso. A direção parece querer se arrancar do painel, pular no meu colo e sair correndo. Nunca vi trepidação assim.

Começo a ver algo ao longe, à esquerda. Uma construção, algumas placas. Será que é ali o posto? Vou me aproximando e vejo a placa: Hospedaria. O hotel parece um pequeno vilarejo. Uma sede, uma área central aberta para a estrada, um grande pátio de terra batida, e ao redor os quartos individuais, dispostos. Um mini tabuleiro de banco imobiliário em que ninguém conseguiu ainda fazer uma grande construção. Só casinhas pequenas. Mais à frente o símbolo mundialmente famoso. Shell. Aproveito para abastecer toda a gasolina que gastei até ali e pergunto pela borracharia. É ali atrás, virando ali ó moço. Pago o combustível e vou até lá.

Sob o alto telhado, protegidos da chuva densa que insistia em cair, os três mais velhos jogam dominó e o menino fica ali ao lado, observando. Olá! Desculpe atrapalhar o jogo de vocês. Não tem nada não moço, não tá atrapalhando, veio foi é ajudar. Claro, penso. Estou ajudando. Esse tédio que deve ser ficar olhando o jogo dos outros. Ou será que ele já havia jogado também e tinha perdido? Quanto tempo faz que eu não jogo dominó? Não consigo me lembrar. Conto sobre o problema com o pneu, sobre o caráter preventivo de minha visita ali. O garoto, metade do meu tamanho, um terço da espessura do meu tronco, parece querer sair voando com aquele vento. Mas toma em mãos a chave em cruz e desfecha golpes contra os parafusos todos. Retira a roda e a dedica empenhadas marretadas contra todos os amassados. Ao lado, os três seguem no jogo de dominó, indiferentes ao esforço do menino. E conversam nesses sussuros cheios de sotaque local que a gente não consegue entender. Será que estão falando algo de mim? Será que estão contando histórias à toa? Será que estão falando de mulheres? Uma borracharia, no meio do nada, isolada em um dia de chuva... como imaginar que não estariam falando de mulher?

O tempo ali estava parado. Nem o "movimento" no posto de gasolina, logo ali à frente, era observável de onde estávamos, já que a borracharia era instalada nos fundos de lugar nenhum. O tempo parado. Mas os três ali, jogando dominó e rindo. E eu os observando. Há quanto tempo que eu não parava para jogar dominó fosse com quem fosse? Ou um carteado à toa. Os trabalhos seguidos de trabalhos imprimem uma urgência ao tempo. Mas essa urgência não é inerente aos tics do relógio. Ali estavam os três desafiando o lado pesado da vida. Não sobrava dinheiro em parte alguma. A vida não estava resolvida. Talvez as contas não fechariam no fim do mês, se não parassem veículos suficientes ali com seus pneus furados. Mas e daí? Isso era coisa de depois. Agora, agora só importava ver se alguém iria colocar uma pedra com um cinco sobre a mesa para poder usar também o cinco que tenho à mão. Assim que funciona. Fiquei ali, observando-os jogar. E morrendo de inveja.

Foto #054


Casca

Eu acreditei por um bom tempo que você defendesse elevados valores morais. E, bem, você os defende. Mas e quanto à prática? Vai ver é um princípio humano. A ética é o véu de imunidade que desenvolvemos para burlá-la.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O tempo

Outro dia parei pra pensar e tive as idéias mais grandiosas de todas. As histórias para escrever. As fotografias artísticas ultra criativas. As viagens cheias de narrativas inspiradoras. O tempo passou e eu, ali, sentado, envelheci e morri.

Foto #053


Perfil

Um cachorro maltratado é aquele que tende a morder sua mão quando você tenta fazer carinho na cabeça dele. É justamente o cãozinho que mais precisa de carinho, mas é o que acaba mordendo sua mão. E as pessoas continuam achando que são diferentes. Não são. As pessoas que mais precisam de carinho são aquelas que tendem a "morder". São ríspidas, não manifestam empatia com os outros. Não estão acostumadas à idéia de poder manifestar suas carências. À idéia de se abrirem para os pequenos prazeres da boa convivência. O mundo sempre foi um lugar selvagem em que sobreviver custa muita briga. Mas eu gosto dos cachorros. E gosto das pessoas. Ainda acredito nos dois.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Pólis

Cada vez mais eu me impressiono com a falta de água no Brasil. O país da água. O país cheio de rios. O país das enchentes de verão. E falta água. Vamos morrer de sede. Algo está errado nessa questão. Não sabemos cuidar da própria casa. Aprendemos a não nos importar com a política e a política aprendeu a não se importar com a gente.

Foto #052


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Loucos

Ah, mundo de certezas e dúvidas. Dúvidas e medos. Esperanças e sonhos. Como saber se algo é verdade? Mais e mais filósofos, acadêmicos de bons salários, ternos de bom corte e vida confortável, questionam a ciência. Relativistas, são assim designados genericamente. A idéia tem seu apelo. A interpretação do mundo depende do contexto de cada um. Estamos presos ao viés de cada um de nossos paradigmas. Não percebemos o mundo diretamente. Percebemos apenas o que nossos sentidos nos apresenta. No conjunto, essas observações promovem um radicalismo tolo: nada pode ser conhecido. Não há observação científica independente de seu contexto histórico, dos observadores. Tolice!

Se vejo uma árvore lá fora, na calçada, então a existência da árvore é questionável? Por séculos e séculos, aqueles que duvidassem da existência de uma óbvia árvore assim seriam taxados de loucos. Hoje, além de loucos, são também os filósofos relativistas, e eles esperam ser respeitados ao invés de ridicularizados.

Mas aquelas observações todas, ao culminarem nesse filósofo particularmente chato, andaram no caminho errado. Sim, temos acesso apenas às nossas sensações, e não à verdade do mundo diretamente. Sim, nossos paradigmas determinam nossa forma de ver o mundo, de modo que nos livrarmos deles, quando estão errados, é um processo difícil e traumático. No conjunto, essa e outras observações do gênero deveriam levar a outro tipo de filósofo: o que se dedica a expor seus sentidos ao máximo do mundo que puder. Ao máximo de paradigmas que puder. Ao máximo de crises de paradigmas que puder, para entender quando aconteceram, por que aconteceram, e como um próximo passo pode ser dado.

Esse filósofo seria, com efeito, também um físico, também um médico, também um músico e um psicólogo. E viveria viajando. Um ano de aulas aqui, outro em outra cidade. Depois outro país. Pois, por meio de uma investigação profunda dos meandros da epistemologia, este filósofo pode entender o quão perigosa é a armadilha de permanecer mergulhado em um único paradigma, e vê claramente, também, a associação entre um determinado conjunto de paradigmas e o contexto atual de nossas experiências.

Infelizmente, a divisão de trabalho no meio acadêmico nos últimos séculos levou a uma raça de teóricos que é o oposto disso. Passando uma vida em uma mesma sala, cercado de papéis, e com a mesma vista na janela, de repente todas as teorias parecem igualmente concorrentes. Todas as interpretações de mundo imagináveis parecem igualmente válidas. Filósofos: sejam mais curiosos com o mundo à sua volta. Vão às ruas. Vão aos departamentos de engenharia, eletrônica, medicina, biologia. Perturbem os outros profissionais, manifestando o profundo interesse de vocês em entender o mundo. "Olá, sou filósofo e estou buscando entender a realidade e nossa dificuldade em conhecê-la melhor. Como você é um especialista em uma parte dessa realidade, as operações para redução de estômago (ou qualquer outra coisa), gostaria de conhecer um pouco do seu trabalho e das suas dificuldades".

Foto #051


Fernão Capelo Passarinho

Estrada de terra ligando um horizonte ao outro. Matagal de um lado. Matagal do outro lado. E eu torcendo a direção de um extremo ao outro para vencer as poças de lama. E de repente o observo ali, ao lado, acompanhando o carro. Não entendo de passarinhos, mas sei que não era uma gaivota. Mas seguia bringando, ia de companhia. Batia as asas ganhando impulso à frente e altura, e então fechava as asas e se deixava despencar, até quase o chão, para só então, de última hora, recuperar o vôo. E quando a lama me retinha mais, lá ia ele atrasando o vôo também. E quando o chão ficava mais seco e eu acelerava, ele fazia um certo esforço. E assim foi por talvez dois quilômetros, talvez um pouco mais. Um pássaro fazendo vôo em ala com o grande bicho barulhento, bebedor de gasolina. Segui meu caminho sonhando em aprender a voar.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Inferno

Aposto que os pernilongos se reúnem. E não me refiro a rituais reprodutivos estudados por biólogos de pouca libido (do contrário eles não estariam preocupados com pernilongos!). Eles se reunem em um quartel general. Discutir as estratégias do dia. Erros e acertos. As baixas da operação da noite. E se reunem também em um bar. Devem ter um humor análogo ao humor de um soldado, dado o risco extremo da empreitada a que se dispõe.

-Hahahaha, eu achei que você ia morrer! Zilzwildío, quando você resolveu ir picar embaixo da orelha dele, cara, eu sabia que ele ia virar, você ia morrer esmagado lá cara, com o nariz fincado nele, ia ser patético!
-Cala a boca Zwozzwaldo, ele só virou porque você fez o maior escândalo! Do nada, tá o maior silêncio no quarto e você parece que pega um mega-fone: "zzzZZZZZZZZZZZZZ!!!!", nunca vi zumbido tão estridente.
-Eu tava tentando te avisar pra sair dali!
-Gente, gente, desculpe. Não estou com humor para rir. Aquela chinelada no escuro... Nunca tínhamos ouvido falar de uma chinelada no escuro funcionando. Mas falei com o Capitão Zwgubertz... O Zzwilson não voltou, ele não apareceu na revoada de retorno.

Foto #050


Empírico

É importante fazer aquilo que gosta. Muita gente fala isso. Você já falou, já ouviu isso. Mas, pra entender a profundidade da frase, só tem um jeito. Ficar um tempão trabalhando naquilo que não gosta. É incrível como o tempo se arrasta. Como a procrastinação se instala em todos os seus poros. Como as horas do dia passam ao mesmo tempo com uma morosidade gosmenta e uma velocidade atordoante. Não dá tempo de mais nada em uma hora. Um dia. Uma semana. Um mês. Uma década. Uma década. Passa assim, rápido. E não deu tempo de fazer nada. Nada.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Urgências

Eu vim lá do sul. Trabalhei muito por lá. O patrão é holandês. Quer dizer, nasceu aqui, mas a família veio de lá de longe, sabe? Fez de tudo o pai dele. Diz que quando comprou um terreno, foi lá ver e era golpe. Foi pro zero mais zero do que tava antes. Mas não desanimou e pegou na enxada e fez o que fez. Arranjou um jeito de ir juntando aqui, ali, daí quando pude, não partiu pro luxo não. Investiu. Comprou uma casinha, alugou e continuou morando em qualquer canto por ai. E assim foi. Comprou uma fazenda pequena e uns bois. Depois plantou um pouco até de café. Hoje a família vive bem. Esses quilômetros aí que você tá vendo, desse horizonte daqui até aquele outro lá... Tudo deles. Vim pra cá foi pra cuidar da fazenda deles, que já confiavam em mim. Quando compraram lá de longe, disseram Lucas, vai você lá que em você nóis confia. Fui. Oito anos já. Estão perdendo dinheiro aqui. Porque a chuva foi embora. O pessoal pensa que vai chover, planta isso tudo, e aí não cai água do céu. Vão ter que cortar custo. Mas o que é que é custo nessa terra? É o veneno, o fertilizante... E a gente. A peãozada tá tudo preocupada aí. Tem cada um fazendo mandinga mais braba que o outro pra trazer essa chuva. Se tivesse como, iam lá eles mesmos de baldinho jogar água nas folhas.

Foto #049


Revisão

Filha, desculpe o papai não ter todo tempo pra você que gostaria. Desculpe não ler sua lição e tirar suas dúvidas no fim do dia. Desculpe não te ensinar a dirigir. Desculpe não estar junto tantas e tantas vezes importantes. Desculpe eu não te fazer sorrir nos dias tristes, pra te ajudar a entender que tudo muda. Mas acredite filha, tudo muda.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Vital

O país está mal. As casas estão cada vez mais caras. A gasolina. A água está ficando mais cara também, mas isso é o de menos. Ela está é acabando, e isso é que é sério. Acabando na cidade. Nas lavouras. O Brasil vai ficar sem água pra beber. O que nós vamos fazer? Quem tem dinheiro vai dar um jeito. Vai mudar de cidade. Vende um imóvel aqui, outro ali. Ainda vão tirar vantagem da crise porque vão comprar imóveis baratos das regiões sem água. E depois, claro, vender a um preço bom quando a água voltar. Ou alugar. Será que foi um golpe planejado? Se foi, é um dos maiores da história. E em escala nacional. Ou será que vivemos hoje, no Brasil, uma série de grandes golpes independentes... golpe do roubo na gasolina, na água, na educação... Golpes que, em conjunto, mas por simples obra do acaso temporal, parecem ser essa mega operação Destrói-Tudo?

Foto #048


Exemplos

Que merda de chefe é você? É um absurdo, uma vergonha. Sabe, eu já fui chamado para outras empresas, até melhores. E não fui. Não fui porque não acreditava ser capaz de ser um bom profissional. Não acreditava ser capaz de acordar cedo, de chegar no horário. De trabalhar ao menos um pouquinho por semana. E sabe o motivo? Aqui eu aprendi a ser invisível. Completamente invisível. Não importa, afinal, se eu trabalho ou não. Se eu chego às oito ou às dez. Ou às três. Ou se não venho. Sou sempre bem tratado. Não me cobram nada. O trabalho atrasa. Os clientes esperam. E é tudo normal. Tudo é sempre normal. Aí eu paguei dois anos de terapia pra sair dessa. Pra descobrir que eu ainda tenho solução. Mas neste processo veio uma outra descoberta. Eu tinha um respeito por você que fui obrigado a destruir. Não por raiva. Não é isso. É tudo baseado em fatos mesmo. Você é um merda, mas não digo isso por raiva. Digo isso porque ponderei nos detalhes. Você foge de responsabilidades, da verdadeira responsabilidade. Aquela que, quando alguém a assume de verdade, os outros em volta falam "o cara é pica grossa". Você só quer saber de não ser o responsável por nada. Não quer ser o responsável pelo trabalho atrasar. Mas também não quer ser a pessoa a me chamar a atenção e me xingar como eu mereci. Essa estrutura destrói qualquer ser humano. Essa invisibilidade que se instalou aqui. Se eu pudesse mudar uma única coisa em minha vida... Se eu pudesse voltar e mudar qualquer coisa, mas só uma coisa... Eu não mudaria o dia em que bati o carro, ou quando roubaram minha bicicleta, ou os namoros em que acabei tomando um chifre ou tendo que dar um pé eu mesmo... Eu mudaria o dia em que topei vir trabalhar aqui.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Audaciosamente aonde ninguém jamais foi

A civilização já está nesse estágio em que planeja chegar a Marte. E eu ainda sem saber ao certo como fazer amizade com aquelas pessoas logo ali.

Foto #047


Modus Operandi

Você discute religião e política? Dizem que não se deve falar disso. "Política e religião não se discutem". Quanto a religião, em minhas recentes impaciências acho mesmo que não deveriam falar disso. Ninguém. Mas não apenas não falar... Deixar pra lá. Parar de cultuar valores-roupagens e passarmos a cultuar valores mais genuinamente humanos. Tratar bem os outros. Quem quer que sejam os outro. Buscar fazer o bem. Nessa vida, não na próxima. Enfim. Mas, quanto a política...

Deixar de falar de política é também deixar de fazê-la. É adotar mais e mais uma postura de condescendência com o mundo. Sei que os temas geram polêmicas, desentendimentos. Mas até por isso acho que o ditado idiota "política e religião não se discutem" é além de um erro, um desperdício. Deveríamos inventar um ditado que difundisse o espírito de respeitar opiniões alheias. Algo como "discordar faz parte da política", ou até a frase uma vez dita pela Chiquinha: "da discussão nasce a luz".

Brincadeiras à parte... Deixar de falar de política é deixar de fazê-la. Não precisamos perder amigos. Respeitar pessoas que pensam de modo diferente, muitas vezes oposto ao seu, também faz parte do jogo.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Fronteiras

Gosto do seu abraço.

Mas é assustador quando não me deixa sair.

Gosto da saudade.

Mas não quero te trazer lágrimas.

Qual a fronteira entre o amor e a possessividade? Entre o amor bom e o amor tóxico? Amor tóxico... Cada termo que inventam por aí. E faz sentido, não faz? Pode despertar o vício. Afeta seu desempenho em diversas outras áreas. Faz um mal por dentro. Eu tenho medo do amor tóxico. E tenho dúvidas sobre de que lado da fronteira estou.

Foto #046


Relativo

Quando ela liga demais para mim, eu acho que ela está enchendo o saco. Carente, controlando a minha vida.

Quando eu tento ligar para ela e não consigo, acho que ela foi sequestrada. Que bateu o carro. Que finalmente decidiu sair com o cara boa pinta lá do escritório.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Viva

Eu namorava a Aline. Toda sexta-feira eu ia para o apartamento dela. A Aline era aventureira. Gostava de viajar. De sair. De conhecer lugares. E andava com uma Scooter vermelha. Tinha essa pequena moto super feminina, com enfeites coloridos, flores, borboletas no baú.

Era uma sexta-feira quente. Com aquele asfalto que parece soltar vapor, tremulando as imagens próximas com seu ar cálido. O trânsito parado. Vi que era um acidente ali na frente. Xinguei o trânsito. A gente sempre xinga o trânsito. Aí eu vi que era um acidente com uma moto. E pensei em tudo o que eu lhe diria depois, sobre os perigos de você ficar andando de moto por aí. E depois vi que era um acidente com uma scooter vermelha. Mas não era você. Claro que não era. São tantas scooters vermelhas na cidade. Mas aí vi aquele cabelo loiro sob o capacete vermelho. Os cachos. Vi o sapato roxo. O sapato roxo que você tanto adorou. E o baú todo colorido, enfeitado.

Corri no meio do trânsito sem ver direito por onde estava pisando, por onde estava passando. Não sei como não fui, eu mesmo, atropelado ali por uma moto. O carro de resgate já estava ali, e você estava tremendo. O corpo em choque. O que tinha acontecido afinal?

Demorei para entender que não era ela. Os enfeites no baú eram outros. O sapato era roxo também e eu nunca vou saber explicar as diferenças estéticas entre aquele sapato e o dela. Mas posso jurar que a cor era a mesma. E o cabelo era loiro também. Depois que eu vi similaridades suficientes, o surto de desespero tomou conta de mim. Queria tirá-la dali. Queria voltar o tempo. Queria impedir aquilo tudo.

Naquele dia eu chorei na cozinha, contando a ela a história. Eu não conseguia terminar a frase. Achei por um segundo que tinha te perdido. Eu não conseguia dizer. Achei que tinha te... E soluçava.

Ela achou lindo. Me viu apaixonado. Desesperado por não perdê-la.

Namoramos felizes por mais alguns meses, até que o relacionamento morreu de uma morte mais natural.

Foto #045


Contabilidades

Claro meu amigo, claro. A SABESP não pode fazer um projeto que dê prejuízo. Ela precisa fazer os projetos que mais dêem lucro. Mas e a água? Qual é a prioridade de fornecimento de água para as pessoas? Não tenho nada contra os lucros financeiros, em si. Mas quando vejo que o princípio do lucro está acima da importância de fornecer água às pessoas, então sou forçado a achar que suas contas não fecharão nunca, não importa o tamanho do lucro.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O peso da realidade

Tomo um banho. Faço um café. Coador, pó preto. Cheiro de vapor no ar. Folha de papel sobre a escrivaninha. Olho lá fora. O céu, as nuvens. Gente passando na rua. E começo a escrever. É uma sessão espírita. Precisa de uma transição para o outro mundo. Mas essa transição não acontece sempre da mesma forma.

Há dias em que já estou mergulhado em uma outra realidade. Uma cena do crime para uma história policial. Um mundo alternativo cheio de tecnologias diferentes. Uma menina com seu diário, no quarto, segredando imaginações. Mas tem dias como hoje. Já tentei duas vezes.

E estou só pensando em falar mal desta ou daquela pessoa. Em reclamar de coisas do serviço. Em falar da minha carreira, que poderia estar em outro patamar. Erros e acertos da vida até aqui. E em como imagino a vida para daqui cinco anos. Dez anos. É um imaginário também. Mas é um imaginário que, de certo modo, me prende à realidade.

Já se sentiu assim?

Dias em que quero fugir para o imaginário. E são os dias em que é mais difícil chegar até lá.

Foto #044


O Joca

Coitado do Joca. Ele fica sozinho, na sala ao lado. Esqueceram dele. Como é possível esquecer alguém? O Joca não se atualizou. Trabalhava com máquinas de escrever. Tem ideia do que é uma máquina de escrever? É tipo uma impressora que não precisa de eletricidade e, acredite ou não, também não precisa de computador. Você escreve direto nela, direto no papel. Mas não pode apagar. Errou, já era. A vida do Joca foi escrita a máquina de escrever. Ele errou. Já era. Errou em escolher ficar ali, em paz. E as pessoas em volta erraram. Não quiseram ser cruéis com ele. Para onde ele iria, se o despedissem? Ele só sabe mexer no computador para as coisas destrutivas. Facebook, Youtube e correntes nos e-mails. Não distingue nem vírus de fofoca. Mês sim, mês não, o técnico do escritório tem que formatar o computador do Joca porque ficou cheio de vírus. Ninguém sabe se o Joca anda tentando alguma grande promoção do "banco" ou se quer achar a solução para aumentar o pênis. E hoje, como acontece a cada dez dias, mais ou menos, o Joca vio "conversar". As aspas se aplicam. Conversar normalmente é um processo interativo. Fazer "ahn-hã" e olhar, vez ou outra, nos olhos do interlocutor, já conta como interação? Porque quando a gente dá alguma atenção para o Joca ele vomita histórias. Olhando para os cantos das paredes, para o chão, para o nada, ele começa a falar e a falar e a falar. Que foi ver os familiares em Ribeirão. Que comprou um carro mas fez um mal negócio. Que o pai está doente e a família já fala da herança. Que está puto com a empresa porque não ganha aumento há muitos anos. Que vai se revoltar mas talvez seja melhor não se revoltar porque brigar não leva a nada. Ahn-hã... Sei Joca, sei sim. Ahn-hã... Porque a água vai acabar. E o prefeito só faz ciclovias. E o tucanoduto e o mensalão. Leu tudo num e-mail. As denúncias estão rolando na internet. Junto com a as fotos raras do Rio de Janeiro nos tempos da Garota de Ipanema. Vai me passar as fotos. Ahn-hã. Não Joca, não precisa, já vi na internet essas coisas. Sei Joca, sei. E aí ele se dá por satisfeito. Conversamos. Conversamos muito. Ele volta para a sala dele. E é lá que vai ficar até a aposentadoria. Ninguém mais entra. Nem trabalho. Nem atenção. Nem amizade. Só o Joca entra lá. É o lugar dele ficar esquecido, mas em paz.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Tempos Modernos

Cada geração tem um jeito de perder tempo. Antigamente, não tinha nada para fazer. E se você quisesse fazer alguma coisa, iria demorar. Hoje em dia existe o computador. A mais assombrosa e absurda ferramente de produtividade. E hoje fiquei cinco horas instalando e desinstalando softwares nessa maquininha de otimizar o tempo.

Foto #043


Amígdala

Pessoas que tem um desejo repentino de atirar o computador contra a parede com violência suficiente para não sobrar nenhuma peça inteira: eu entendo vocês.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Foto #042


São Paulo desumaniza

  • Quando eu estava lá, naquela cidadezinha, fui tratado de um jeito que você nem imagina. Primeiro, que foi absurdo o jeito como o cara me atendeu. Eu liguei lá perguntando pelo serviço de internet, falei que eu ia precisar para o projeto, e ele falou "pode vir que a tente resolve". Fui lá antes da equipe, para conhecer o local e tomar as primeiras providências. Era uma cidadezinha minúscula, e o lugar chamava LancheNet. Era virtualmente um boteco com três computadores que faziam as vezes de LanHouse. Aí fui lá e o cara disse que dava um jeito. Levava internet onde precisasse. Tinha rádio, tinha as antenas, daria um jeito. Aí eu perguntei onde tinha um hotel, uma pousada por ali. E ele insistiu para que eu ficasse na casa dele. Foi super solicito. ajudou mesmo. Dedicava boa parte do dia a nos ajudar. E aí ele veio para São Paulo, anos depois. Veio passear, conhecer. E eu jurei pra mim mesmo que daria toda atenção do mundo pra ele. Só que aí eu demorava pra chegar em casa. E tinha que sair para resolver as coisas, achava que ia levar quarenta minutos e levava três horas até voltar. E aí eu quase não consegui dar atenção pro cara. Fui me despedir dele me sentindo, sinceramente, um ser humano horrível.

O melhor de cada um

Qual o nosso melhor, e qual nossa vontade de melhorar?

Meu melhor auto-controle ao longo do dia, com minha rotina. Meu melhor uso de minha capacidade intelectual. As melhores coisas que eu posso escrever no tempo livre que tenho para escrever, todas as manhãs. O melhor modo de limpar minha casa. De cumprimentar meus vizinhos ao sair pela manhã ou ao retornar para casa. Qual nosso melhor? E o quanto eu quero melhorar? Tem coisas que eu gostaria de aprender, mas não me dedico a elas como deveria. Quem define esse "deveria"? Meus sonhos? Meus anseios mais fominhas, exagerados? Qual o referencial para avaliarmos se a vida está devidamente otimizada ou se constitui um enorme desperdício?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Como enlouquecer o Adoniran

Ainda vou escrever uma variante erótica com o mesmo título, um manual de instruções da minha libido. Mas não é o caso no momento. Uso aqui a palavra "enlouquecer" em seu mais estressante sentido. E é simples: faça-se ignorante. Uma mente fechada a um olhar diferente. Um modo nada lógico de entender o mundo. Torne a conversa impossível, impenetrável a um olhar diferente.

Tive precisamente esta experiência no trabalho, hoje. Não havia modo de convencer um amigo meu a considerar uma possibilidade diferente. Uma da qual eu tenho total certeza de estar certo. E conheço a ignorância dele no assunto. Coisas que eu estudei e ele não. Coisas que eu vi e ele não. Tratava-se de uma conversa difícil em múltiplos níveis. Ele estava, ao mesmo tempo, mostrando-se fechado a uma ideia diferente e duvidando da minha palavra até não poder mais. E aí eu me sinto enlouquecido, com vontade de enviar para ele trezentas e setenta e oito páginas com todos os cálculos e demonstrações da minha razão. O que não faz sentido, no contexto de nosso trabalho, porque iria ressaltar o caráter hostil com que eu via aquela conversa. E esse silêncio em que eu me confinava me estressava mais ainda. Que merda.

Foto #041



Artificialidades

Há algo de artificial e arbitrário com o dinheiro. Eu imagino um conjunto de pessoas. Sei lá, trabalhadores de qualquer espécie. Pintores, digamos. O Luis aparece para pedir a eles "ei, podem pintar minha casa?". Sem dinheiro, nada feito. Se bem que poderiam ir, claro. Questão de boa vontade. O problema com a boa vontade é que depois os pintores iriam, digamos, até o mercado para comprar comida e, de novo, sem dinheiro nada feito. Mas os caras do mercado poderiam deixá-los levar o essencial. E assim por diante. Então o dinheiro não é essencial para as relações humanas. Os teóricos mais entendidos dizem que seu papel é regulador. Controlar a ganância. Você vai ao mercado... "quantos pãezinhos precisa, seu Alberto?". E o Alberto pede 5000 pãezinhos. Não, não precisa fazer isso. Acontece que ninguém, mesmo milionário, vai pedir tantos pãezinhos. E, quanto aos exageros, o dinheiro aprendeu a construir seus objetos do exagero. E aí que as coisas se desestabilizam. Quando o dinheiro que deveria ser reinserido em uma comunidade para continuar fazer as relações circularem é guardado para coisas mais e mais ostentadoras. Não sou economista. Não sei se estou me fazendo entender aqui. Mas eu acho que há qualquer coisa de arbitrário com o dinheiro que o corrompe em suas originais funções.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Herói

Eu o vi andando pela Avenida Paulista. Sua heróica capa ajudando a proteger sua identidade, camuflando-o com esses pequenos voadores. Era o Batman. Mas deveria ter uns sete anos. E estava ocupadíssimo com o maior sorvete que já vi no mundo. Sorrimos, cúmplices.

Foto #040


Ex

É errado pensar nas ex-namoradas? É um tipo de traição, ou síndrome? Eu tenho minhas saudades. Saudades secretas, e acho que o segredo já engloba muito do que é exigível do respeito. Não são saudades completas. Umas terminaram comigo. Outras acabaram levando meu ingrato pé na bunda. Por uma razão ou outra, a coisa terminou. Mas de cada uma tenho algum tipo de saudade e isso me dá uma certeza: não foi uma louca que namorei por um impulso vazio. Havia algo que fazia sentido.

Saudades carnais. Da pele lisa, de cheiro leve, que eu gostava de acariciar buscando despertar de preguiças a suspiros.

Saudades mentais. De conversas longas sobre tantos e tantos temas.

Saudades dos olhares, especialmente quando eu os via sorrir. Namorei belos olhares, disso posso me orgulhar. Namorei belos sorrisos. É uma alegria que tive.

Não são saudades com excessiva fixação. Não fico pensando nisso o tempo todo. Não estou morto de saudades de alguém especial. Mas às vezes me vem uma lembrança. E fico feliz com os bons momentos da minha vida.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Contrastes urbanos

Campinas é uma cidade gigantesca. Assim como também são cidades enormes Sorocaba, Jundiaí, São José dos Campos e mesmo Bragança Paulista. Mas quando você sai de São Paulo e vai para qualquer uma dessas cidades a sensação é a de que está entrando em um pequeno vilarejo. Mesmo Campinas, que já tem congestionamentos e tudo, na maioria de suas regiões passa a sensação de uma cidade bucólica. Tranquilos bairros onde não há tanta pressa. Onde não há tanto mesmo.

Mas há. Há medo sim nesses lugares. Há pressa sim. Há já muito do que é o mal urbano.

E se já existe tudo isso, mas quem vem de São Paulo tem essa impressão de recanto de paz do sertão, qual a conclusão inescapável? São Paulo já está além de todos os limites. A vida nessa concretópolis, escandalosa fumaçópolis, está estrangulada para muito além do humanamente aceitável.

Foto #039


Roubos modernos

Eu me divorciei dela. Casei porque tinha encontrado uma companhia. Uma pessoa com quem conversar em casa. Com quem dormir trocando carinhos. Quis ajudar ao máximo. Paguei um curso. Queria que ela arrumasse um emprego melhor. Mas tudo era difícil. Tudo era ruim. Tudo era contra ela na vida. Nos divorciamos. Ela voltaria para São José logo mais. Mas havíamos ido longe demais: ela estava grávida. O filho veio tempos depois. Um pequeno bebê. Derretendo os corações de todos da família, mesmo os mais críticos àquela relação. Meus filhos mais velhos se apaixonaram pelo novo irmão. Minha irmã amou ser tia novamente. Mas tive que brigar na justiça pelo direito de vê-lo. Com o tempo fomos estabelecendo a rotina. Eu pegava estrada aos finais de semana para ir buscá-lo e poder passar um tempo com ele. Não ficava nem um minuto além do que a justiça permitia. Um ano. Dois. E de repente ele estava falando, e eu ouvia "papai, papai", o tempo todo. Perguntas sobre tudo. Como perguntam coisas as crianças! Aí viria mais um natal e um ano novo. E ele já nessa idade de entender as coisas. De perguntar tudo. De viver também com a mente. Seria meu direito passar as festas com ele. Mas achei que aquilo seria uma boa dose de crueldade com qualquer mãe. Convidei-a para vir. Ela veio. Passamos duas semanas de respeito entre a gente e de alegria com o pequeno. E ela foi embora. E aí que eu descobri: havia aproveitado uma oportunidade para trocar a senha do meu Facebook. Apoderou-se da minha identidade digital. Está, agora, empenhada em nos casar digitalmente. Coloca fotos de quando nos beijávamos. Agride verbalmente pessoas que estimo. Especialmente minha nova namorada, que ficou sem entender nada e com quem custei muito a me entender dia desses. O que ela esperava conseguir? Eu tinha a maior boa vontade do mundo. Deixar uma aproximação acontecer. Deixar um convívio amigável existir, pelo bem da criança. E agora a odeio de novo. Reacendeu minha raiva. Qual seria a intenção dela? Ou ela tinha uma clara intenção de agir com maldade ou é burra mesmo, porque ela só conseguiu despertar meu desprezo mais uma vez.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Roots

Adultério
Adulto
Mistério

Foto #038


Chega

Pare de falar mal do Brasil. Pare de olhar o lado ruim de tudo. Pare de gastar tanto tempo na frente do sofá, vendo TV. Há passeios bons por fazer, há um mundo lá fora. Há pessoas interessantes com quem conversar. Há tanta e tanta e tanta coisa lá fora. Pare de me fazer perder tempo nesse desespero de vir até aqui só pra reclamar de você.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Foto #037


Homo stupidus

Uso do terceiro volume morto. Poços emergenciais para uso de água subterrânea. Remanejo da água da Billings.

E a louca da minha vizinha continua lavando o quintal com a mangueira.

E eu sei que ela não é a única.

Paixão

Eu fico imaginando você sozinha, escrevendo. Escreve no papel? Num caderno? Ou no computador, com o rosto iluminado? O cabelo, um pouco ondulado, um pouco despenteado, caindo ao lado do rosto. O sorriso quase esboçado, existindo mais na alma que na carne, enquanto os pensamentos iam longe buscar palavras. Fico imaginando você escrevendo. E chega a ser erótico.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Foto #036


Melhor não saber

Quando vou morrer? Podia ter sido no último assalto. Faltou só o cara puxar o gatilho. A arma já estava apontada, tudo certo. Podia ter sido no último minuto. Num ataque qualquer. Pode ser que seja amanhã. Semana que vem. Ou pode ser que eu ainda tenha algumas décadas. Você pensa nisso? Pensa em quanto tempo lhe resta? Observa a vida como uma ampulheta cuja areia vai acando? Como essas barrinhas do computador quando um programa está sendo instalado: 73% completo? Não sabemos. Em geral não sabemos. E por não saber, assumimos sempre algo melhor do que as possibilidades mais realistas. Assumimos que ainda há muito tempo pela frente, o que não é necessariamente verdade. É humano isso. É como estamos tratando a água em São Paulo. Até que alguém diga com todas as letras que o problema é profundamente sério, e até que comece a faltar água e energia elétrica mesmo, as pessoas seguem acreditando que algo vai acontecer para salvar-nos da seca iminente.

Eu não consigo entender se é uma característica da nossa geração ou se é profundamente humana. Mas é fato: não sabemos lidar com más notícias. Verdades ruins são gerenciadas de um modo muito simples: não são ditas. Riscos diários, quer seja de cair no banheiro ou de morrer num acidente de carro ou com a explosão da panela de pressão, são completamente negligenciados, enquanto nos distraindo com toda uma mitologia do pânico em torno de coisas absurdamente seguras, como vôo de avião comercial. Somos uma espécie única no mundo, talvez em toda a história da vida na galáxia, em nossa capacidade de saber. Mas, ainda assim, preferimos não saber.

Injusto

Dei aula de inglês para o Leandro uns três ou quatro anos atrás. Poucas aulas. Ele precisava de um mínimo de inglês para encarar uma entrevista. E, na época, eu estava atrás de outro trabalho também e as aulas estavam começando a ficar irregulares. Semana sim. Semana não. Trocávamos o dia. Leandro era um garoto animadíssimo. Estava sempre sorrindo. Nunca estava reclamando. Calor. Multidão. Salário ruim. Chefe pau-no-cú. Não. Ele não reclamava dessas coisas. Ele procurava os motivos para sorrir. Era uma aula em que, ao invés de eu ficar mais cansado, me deixava renovado. Era uma distração boa.

Fiquei sabendo pelos comentários no Facebook. Hoje o Leandro simplesmente não acordou. Foi dormir e não acordou mais. Gisele, que é também uma ex-aluna e quem me havia apresentado o Leandro, estava inconsolável. Absolutamente inconsolável. Eu liguei para ela. Mas acho que eu liguei só para confirmar que se tratava de uma mentira. Um engano. Uma notícia mal interpretada. Mas era verdade. E eu não soube mais o que falar. Fica bem? Sinto muito? Não há o que falar.

Ainda estou com esse amargo na boca. A vida é muito injusta.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Foto #035


Credibilidade

Mande. Seja chato. Mas não perca sua credibilidade. Humildade serve pra isso também. É pra conservar sua autoridade diante dos campos em que você não sabe direito como a coisa funciona. Minha chefe, Olívia, está enfiando os pés pelas mãos por cometer erros aí. Está dando ordens diretas em áreas das quais nada entende. E as pessoas, ao invés de ensinarem a ela as coisas que ela não sabe, estão rindo e reclamando pelas costas. Ações destrutivas. Teríamos o maior prazer em ensinar um mundo de coisas a ela e ajudá-la a tomar as melhores decisões para a empresa. Se ela estivesse a fim de aprender.

ProntoFalei

Afe. Uma sociedade que não entende nada de política internacional. Que não percebe que não é papel do estado agir com a impulsividade que caracteriza um indivíduo. Pessoas que não conseguem tratar de questões separadas. Não é porque existem problemas internos aqui que vamos deixar coisas erradas acontecerem lá fora, e vice-versa. Tantas vezes que ouvi: por que todo esse alvoroço pelo brasileiro na Indonésia? É um traficante! Deixa morrer! Tanta gente honesta aqui passando fome! Caramba, não podemos tratar dos dois problemas ao mesmo tempo? É de se comemorar que algo na nossa política externa esteja funcionando. É triste que existam problemas internos. Vamos cuidar das duas coisas. E não agir como se uma pudesse substituir a outra. Afe. Um idiota que fica chocado com os problemas do mundo sem perceber a profunda limitação da mentalidade coletiva. E escreve sobre isso na internet pra desabafar e alimentar a ridícula ilusão de que fez algo a respeito. Idiota.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Foto #034


Amígdala

Discute-se a pena de morte. Um brasileiro morreu lá fora. Viva a Indonésia. Não queremos saber sobre as injustiças da Indonésia. Não queremos conhecer os contrastes e contradições da Indonésia. Não queremos saber a pronuncia certa do nome do presidente da Indonésia. Estamos em êxtase porque a Indonésia fez o que gostaríamos de fazer nós mesmos, com nossas próprias mãos. Matar um criminoso. Não temos tempo para ler e conhecer a história da política. A evolução das leis. Há muito problema lá fora. Direitos humanos? Sofri sequestro relâmpago. Não vou votar em quem quer dar renda mínima a essa gente. Quero pena máxima.

Pena. Máxima.

Tal pai

Um quarto lá nos fundos. Recluso, destacado da casa. Há um quintal no meio, um espaço para lembrar que ele não pertence ao projeto principal. Sobe-se uma pequena escada, estreita, mal iluminada. A porta está trancada. Sempre trancada. Abro a porta e é difícil distinguir entre os objetos internos, por causa da escuridão. Cheiro de poeira. Cheiro de banheiro. Cheiro de roupa usada. Ar denso. Livros. Há livros. Livros por todos os lugares. Uma escrivaninha cheia de livros empilhados. Uma estante no canto. Cada prateleira tem duas fileiras de livros. Na parede contígua, à esquerda, outra estante. Livros e livros e livros. E mais uma pilha deles no chão. Por entre caixas empilhadas. Galões de água. Muito esperto ter galões de água guardados nessa época. Mais úteis que os livros. E roupas jogadas. Roupas sujas misturadas com roupas limpas que não foram dobradas. Saíram do varal e foram direto para aquela montanha de pendências. Isso tem muito a ver com ele. Eu esperaria que ele morasse em um lugar assim. Não há nada aqui para aparentar algo aos outros. Pelo contrário. É uma bagunça exagerada. Tudo o que é aparência é secundário. As roupas desarrumadas. Os tênis jogados. A gaveta de meias totalmente bagunçada. Mas seus interesses se acumulam em montanhas. Montanhas de livros. Sonhos. Sonhos de pensamentos, conhecimentos, curiosidades saciadas. É um lugar insuportável. Mas me identifico.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Foto #033


Arquiteturas

O sofá da sala e a cama. Ambos chamados de móveis domésticos ainda que em suas funções devam permanecer, essencialmente, imóveis. Estranhezas do nosso idioma. Dois domínios de descanso mas com funções profundamente distintas. A cama tem a vantagem de não ter a TV diante de si. Sou cada vez mais contra a TV. Não porque a ache fútil. Mas porque eu acho que as pessoas não têm mais responsabilidade para curtir o fútil sem vício. Dizer o mesmo sobre a cama? Não, ainda não. A cama é mais inocente. Seu lugar em nossas vidas é mais claro, mais delimitado. A cama é mais inocente. Por isso mesmo, pela inocência dela, cada vez mais prefiro ir para a cama. Ler um livro. Ver um vídeo no computador. Escrever um pouco. Vou tirar o sofá da sala. Preciso de um projeto arquitetônico diferente. Vou tirar as preguiças viciantes da minha mente. Preciso reaprender a conviver com minhas preguiças.

Coerência

Num lugar com tantas almas e corações assim tão secos, não é apenas uma questão de coerência que sequem também as represas?

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Foto #032


Ensinar

Mudei de emprego não tem muito tempo. No outro já estava há anos. Então já conhecia todo mundo, e quando os conheci minha cabeça era outra. Agora pude viver, de novo, essa experiência exótica que é a da "primeira impressão". Percebo dois tipos nítidos de gente. Aqueles que se dispõe a ensinar e a contar tudo. Isso aqui funciona assim. Essa planilha tem que ser preenchida desse jeito. Esses papéis a gente deixa nessa gaveta. E tem aqueles outros que, protegidos por um véu de pró-atividade e solicitude, preferem fazer tudo sem ensinar nada.

São ávidos para absorverem toda informação que podem das pessoas ao redor, mas hesitam ao máximo em ensinar. Quando você tem alguma dúvida eles já sorriem, prestativos, e dizem "ah, deixa que eu te ajudo com isso, já faço". Sua tendência é ficar feliz com a ajuda mas, mas prática, perdeu mais uma oportunidade de aprendizado.

Problema: parece que ainda não faz parte da nossa ampla cultura identificar e temer este tipo de gente. São perigosíssimos, porque embora pareçam pessoas muito polivalentes, estão travando o aprendizado da empresa como um todo enquanto concentram os méritos todos para si.

Marés

Quais as forças que movem nossas decisões? Moralismos religiosos? Nossas noções pessoais de certo/errado? Nossos sonhos e a percepção da possibilidade de realizá-los ou não?

Amiga, cara amiga. Entendo sua decisão. Não tive tempo, na verdade, de digerir tudo em tempo real. Está vivendo um caso de amor, intenso. Depois diz que terminou, que não dava mais. A situação era insustentável. Ele, casado. A esposa, sua amiga. Mesmo com um casamento já falido, com o declarado comum acordo de verem outras pessoas, era tudo próximo demais.

Imagino como estavam, dentro de você, as confusões entre empatias e egoísmos.

Admiro, confesso, a impulsividade relâmpago da sua decisão. Eu deixaria mais tempo passar. Empurraria tudo com a barriga até que as alternativas se fizessem mais nítidas. Vai ver é por isso que tenho cultivado uma barriga cada vez mais bem nutrida nos últimos tempos. Ela me é tão útil!

Não há certo ou errado nesse caso. E não vou mais falar nada do assunto, já que nenhuma conclusão seria definitiva. Só espero, e isso deixo aqui em registro, que você esteja bem.