quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

As perguntas...

Alguns pesquisadores têm recentemente investigado a relação entre as crenças religiosas das pessoas e seu grau de otimismo. Será que há alguma força evolutiva que favorece o surgimento de um instinto religioso? No fundo, afinal, é esta a pergunta à qual os pesquisadores se debruçam. O que eu não entendo é a razão para tantas dúvidas num caso em que a relação é tão óbvia. Qualquer pessoa sensata e minimamente informada, observadora das coisas ao redor, saberá de imediato que tanto a religião como o otimismo demandam um elevado poder de blindagem contra a verdade. São, portanto, sintomas diferentes da mesma patologia. Não que não possam trazer benefícios. A lucidez humana enxerga a desgraça em uma perspectiva individualista. Assumindo que todo o resto continuará inalterado, a perspectiva para o isolado indivíduo pensante não é das melhores. Mas um louco jamais manterá sua mente tão limitada, seja ele religioso ou otimista. Ao invés de centrar seus pensamentos sobre si mesmo, cederá à tentação de acreditar que os outros mudarão com ele. E aí volta-se ao mundo da lógica, pois assumindo-se que os outros irão mudar também, muitos outros mundos tornam-se possíveis. O meio ambiente enfrenta problemas, mas se todos mudarem, então a situação não é das mais graves, e tudo se salvará. Comete um equívoco o esperançoso incorrigível por achar que o comportamento humano é assim tão plástico. Mas erra também o cético desolado e isolado ao achar que tudo contiará como está. Muda, sempre muda. O que ninguém sabe, e que é um desconhecimento tão aterrador que convida toda a Sociologia a se confessar ainda não nascida, é a velocidade e a direção da mudança. Qual a inércia do comportamento humano? O que vai mudar o comportamento das pessoas? E para onde este comportamento vai mudar? O economista não sabe. O publicitário adoraria saber. O vendedor faz o que pode. O sociólogo finge que já sabe há séculos. O antropólogo não se dá ao trabalho. O engenheiro nunca pensa no assunto como deveria, o que talvez seja um grande mérito ao seu favor, já que aqueles que o fazem não chegam a lugar algum. É a pergunta fundamental, na verdade, ainda que esta não interesse devidamente aos pesquisadores: por que as pessoas fazem o que fazem? Como acontecem as mudanças de comportamento? Sei lá. Eu? Sei lá!