sexta-feira, 27 de maio de 2016

Vida nos sebos


Eu descia a Vieira de Morais a pé. Mochila nas costas com computador, máquina fotográfica, kindle. Essas coisas que levo sempre por aí. Restaurantes. Lojas de chocolate. Petshops, as mães levando filhos e filhas para comprar brinquedos para os cachorrinhos. Cenas de um país em crise.

Até que vi aquela imagem inconfundível. Uma pilha de livros à porta. Um sebo. Entrei.

Explorei o que pude. Romances. História. Livros de viagens. Livros antigos. E então...

A trilha sonora. O som inconfundível de um violão sete cordas acompanhando. Perguntei qual era o CD que estava tocando. "Homenagem a Toco Preto", de Agnaldo Luz, Luizinho 7 cordas & Regional". Resolvi comprá-lo. E então o responsável pelo sebo olhou para mim e disse:

- Não vendo!

Achei muito simpático da parte dele. Porque eu sou desse tipo de pessoa que acha que os outros estão brincando e sendo simpáticos. Só que ele estava falando sério. Muito sério!

Ele sugeriu que eu voltasse outro dia. Talvez uma semana depois.

- Mas eu não moro por aqui, e não passo sempre por aqui!

Um outro cliente perguntou onde eu morava. Contei. Logo mais outros clientes se juntaram em um lobby pela minha causa.

- Vende o CD pra ele! Veio de tão longe!

Começaram a zoar.

- Veio a pé... é um peregrino da música... fez promessa!

Rindo, o dono do sebo me vendeu o CD. Algo arrependido de se distanciar de tão boa música, mas contente pelo que se passara ali.

Sebo é vida.

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