sábado, 17 de dezembro de 2016

José Alfredo

Nasceu em uma cidade de Goiás cujo nome não interessa a ninguém. De pequeno fez como o pai: carregou coisas. Coisas para dentro da Kombi, coisas para fora a Kombi. Achava a televisão uma coisa maravilhosa mas dormia rapidamente depois da janta. Exaustão. Mudou-se de cidade quando os negócios escassearam por ali. Já havia viajado com seu pai em mudanças para locais mais longe e sabia que existiam outras possibilidades. Aprendeu a sobrepor tijolos, cimentos, tijolos, cimentos. Emparedou a vida alheia tentando dar asas à sua. Casou-se com a bênção da igreja e a desconfiança de parentes que não achavam direito Deus autorizar essa mistura com as gentes pretas. Colocou os filhos na escola sob protestos dos mesmos. “A vovó falou que você ia trabalhar com o vovô… quero ir trabalhar com você, não quero ir à escola!”. Viu muitos amigos fraquejarem diante da vida. Bebidas. Crimes mais leves, mais pesados. Injustiças. Mas manteve seu rumo. Navegou pela vida em direção a tardes de cadeira de balanço e sopas de mandioquinha trazidas pelo filho. Aos fins de tarde costumava sentar-se à calçada para apreciar o por do sol e comentar com um ou outro que por ali passavam: “Ói lá Deus levando o Sol embora. Amanhã ele traz de novo. Eita serviço que não acaba nunca.”

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