Discussões sobre temas
importantes como a política armamentista de um país deveriam ter
duas dimensões: uma primeira dimensão, objetiva e uma segunda
constituída de opiniões, preferências e valores pessoais. Na
dimensão objetiva teríamos os fatos. Números, estatísticas para
além de qualquer discussão e mesmo algumas implicações que vão
além de qualquer disputa. E só então entraríamos em uma esfera de
valores e preferências. Infelizmente não é assim que o debate se
processa. Quando a discussão está em marcha, o que vejo é que
efetivamente cada lado do debate está enxergando um mundo
completamente diferente do outro. Diferente inclusive quanto aos
dados objetivos. Um lado da discussão acha que nos Estados Unidos as
armas resolvem o problema da segurança. E temos, claro, pessoas que
acham que os EUA erram ao possuírem tantas armas quanto possuem. Mas
existem dados para isso. É possível olhar as estatísticas de cada
Estado. É possível conhecer o número de mortes associadas a armas
de fogo. É possível fazer comparações entre países. É possível
produzir um debate realmente rico olhando o mundo como ele realmente
é. E, infelizmente, parece que as pessoas estão cegas aos dados.
Essa cegueira, por si
só, tem dois aspectos. O aspecto da ignorância/arrogância e o
aspecto da inaptidão técnica. A ignorância/arrogância está em
não conhecer a informação, e acrescento a barra-arrogância porque
muitas vezes as pessoas assumem que uma determinada informação é
falsa quando esta lhes é apresentada simplesmente porque vai contra
o que “já sabem” que é verdade. Para o bem ou para o mal, esta
é uma característica humana e é muito difícil ir contra este
instinto. Requer treino. E o segundo aspecto, o da inaptidão
técnica, refere-se ao treinamento formal que é necessário para
poder discutir números referentes a dados sociais. Compreender a
diferença entre números absolutos e números per capita.
Compreender o que são ajustes de algumas estatísticas com base na
distribuição estária de diferentes populações. Compreender a
diferença entre uma correlação estatística e uma comprovação de
causalidade. A sociedade como um todo é absolutamente despreparada
para uma ampla discussão nesse nível.
Minha própria opinião?
Todo esforço é válido para promover um maior esclarecimento ao
debate. Mas tenho, pessoalmente, me tornado mais e mais cético
quanto à possibilidade de a geração atual aprender a compreender o
mundo como precisa para chegar a boas decisões. Se há alguma
esperança para a humanidade encontrar seus bons caminhos, acredito,
essa esperança está nas próximas gerações. É nos jovens e
crianças que devemos nos concentrar se quisermos ensinar todas as
complicadas ferramentas de pensamento necessárias a compreender o
mundo de modo a promover boas decisões. Os adultos atuais não tem
mais tempo para ler, refletir e aprender tudo o que é necessário e,
além disso, neles o aspecto de preconceito quanto às opiniões
adquiridas já está solidificado demais. Os adultos não são apenas
despreparados para um debate de qualidade; são, em geral,
refratários a este.
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