sábado, 2 de fevereiro de 2008
Alucinógeno
Ai, meu quarto fechado. Às vezes eu odeio meu quarto fechado. Especialmente quando ele me engole, me digere, me dilacera e regujita meus restos numa chapa quente, num dia de sol como foi hoje... Tem a internet, ah a internet! Ainda bem que tem ela! Assim eu fico aqui sozinho bem informado, sabendo com toda a certeza de que não sou o único sozinho do mundo. A internet é um milagre. Tá, milagre não é, é uma nerdice, eu sei... Mas o mínimo que devemos reconhecer é que é de uma ironia sem tamanho. Uma ironia sádica. Gosto assim. Eu fico aqui sozinho, eu e a internet... Mas, amarrado em minha solidão, preso e algemado na minha momentânea falta de sonhos decentes, fico em contato íntimo com a solidão alheia.. Ironia maior? Sei lá onde se encontraria disso! Tem dias que a solidão faz bem, mas tudo tem limite. Eu queria pelo menos chuva... Uma tempestade grande, enorme, forte, pra ficar aqui curtindo o friozinho que entra ilícito por tudo o que é fresta e me massagear de falsa nobresa enquanto invento sentimentos de piedade distante das notícias de enchentes e de pobres miseráveis lavados pelos excessos de água. Se Deus existe, não é ele que cuida das enchentes... Talvez um anjo seja o encarregado pelas chuvas, pelas milagrosas chuvas que reciclam a vida do mundo e lubrificam a termodinâmica do impossível. Mas aí, vez ou outra, esse anjo se distrai... E entra pela porta um anjo mal e desregula toda a máquina da chuva. Deve ser assim... Eu olho pra chuva e vejo gotas caindo. Gotas e mais gotas. Elas batem contra o chão duro e explodem, voam milhões de gotinhas menores explodindo em volta. Cada gota que cai explode em gotas que explodem em gotas menores. São gotas infinitas. As gotas começam e não acabam nunca mais. E no entanto, logo ali... acabam. Todo infinito acaba. Todo pra sempre foi até ontem e mudou de idéia. O monocromático é uma mentira. A constância é uma ilusão, uma fuga, uma rejeição de todo o resto que é tão ou mais real. Mosaico. Colcha de retalhos. Feijoada. Elenco da Malhação. Mocinhos e bandidos no drama do mundo moderno. É tudo uma prova concreta da multifacetagem camaleônica da pluralística borbulhação da realidade dos poros do nada imaginário até o caldeirão que me ferve dentro da minha própria realidade. Em breve estarei cozido. Mas pelo menos a internet me permite dividir com qualquer um essa emoção inútil de ninguém.
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Um comentário:
naum entendi muito o texto, mas seu blog é bem organizado...
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