Dá pra sair alguma coisa que preste dos nossos pensamentos, direto como eles são? Sem a menor vontade de escrever algo que preste? Só registrando as coisas como elas pipocaram na cachola e pronto? Quando a gente conversa com alguém não dá pra fugir dessa coisa de medir as palavras, de dosar, e tal. E quando estamos sozinhos no quarto, meio bêbados, meio sozinhos, meio cheio de saudades, meio cheios de solidão, meio cheios de si, contente só de ter mais idéias do que se dá pra escrever... Sai algo que presta? Extrapolando, a questão é importante sim. Sozinho no mundo, último humano, ainda que com vida eterna, esse isoladíssimo Homo sapiens faria algo que presta? Ou só fazemos algo que presta quando tem alguém olhando? Temos momentos solenes para nós mesmos? Quantos de nós brincam de fazer poesias com os próprios pensamentos, rimas bobas? Quantos de nós andam por aí cantarolando músicas que jamais serão conhecidas por ninguém mais no universo? Sons imaginados que nunca serão sons, se perderão pra sempre. Isso acontece? Tem sua razão de ser? É arte? É uma existência artista, ser o espectador de si mesmo? É narcisismo? Ou narcisismo é só quando se é flagrado se apreciando? Aí narcisismo passa a ser uma experiência não mais tão íntima. Passa a ser o show da auto-admiração, algo que pode ser muito mais cinematográfico mas certamente está um degrau abaixo da auto-admiração velada, secreta. A auto-admiração, como qualquer outra forma de amor, encontra um terreno vasto na escuridão dos segredos.
Mas não, não é de auto-admiração que falo aqui. É de pensar assim como estou pensando, etilicamente nem aí. Que importa se é um telefonema, um quarteirão ou um oceano a me afastar de um grande sonho impossível, se mergulhado em mim agora vivo mil mundos meus, só meus, que escrevendo o quando eu puder escrever jamais serão escritos, que dizendo tanto quanto eu possa dizer, jamais serão ditos?
E eu sei que não sou só eu a existir assim.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
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