sábado, 23 de abril de 2011

Princesa Isabel


- Ô motorista, vai descê, vai descê!!!

Não era um passageiro gritando, era a cobradora! Magrinha, séria, cansada e revoltada. Seu uniforme de camisa azul e calça azul marinho. E seu olhar sério, sem saber como se desculpar com os passageiros. O ônibus lotado, não havia espaço para nada. Ofereceram-se para segurar minha mochila, já que eu ia em pé com ela pendurada ao braço. Mas não havia espaço para a complicada manobra de tirá-la do meu braço e transferí-la à gentil senhora.

Não bastasse o ônibus lotado, o calor e o excesso de pessoas amontoadas, aquele motorista dirigia como se para torturar um por um dos que estavam ali dentro, como se para maximizar os trancos de cada um dos infinitos buracos das ruas. Como se para lembrar que estávamos em uma carroça, que éramos um rebanho e só. Um rebanho mal tratado, desprezado, cuspido pelo descaso dos altos escalões.

O que se passava com o motorista? Problemas em família? Com sua vida amorosa? Tristeza com a vida? Revolta? Ou indiferença pura e simples? No conforto do assento do motorista talvez dirigir assim fosse muito mais emocionante do que esgueirar-se lentamente pelos entraves dos asfaltos e esquinas.

E as pessoas todas ali, desconhecidas, grudadas, acotovelando-se sem poder impedir. Cheirando-se sem poder evitar. E quietas, torcendo pra acabar logo. Fingindo que é a última vez.

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