sábado, 16 de abril de 2011
Todo o universo
As calças ficaram jogadas no pé da cama. A camisa sei lá onde foi parar. Liguei o computador e procurei meu fone de ouvido submerso em bagunças tão impossíveis quanto inevitáveis. O som de um violão bem dedilhado e uma voz que percorre de graves a agudos em uma empostação firme, e eu nem sei se a palavra existe, mas é isso que minha professora de canto sempre dizia. Empostação. A firmeza da voz. Atitude, confiança. Está tudo lá, codificado nos sons. Meus ouvidos vão se enchendo deste leite da alma, é isso que a música é: leite para a alma, o concentrado dos nutrientes necessários para sentimentos bons.
Um coro. Bateria, ritmo. Cadências. Dinâmica... os sons se aquietam, são os músicos todos esperando para me ouvir um pouco também. É a orquestra toda esperando para que eu me escute, perceba em meus vazios de dentro os ecos da vida. E depois volta a altura dos sons todos. Não sei porque é tão bom assim ouvir música jogado num canto de um quarto escuro. Como se não houvesse nada mais no universo e de repente isso tudo é o universo. É uma espécie de loucura, essa força de esquecer o resto do mundo? Ou é a salvação da sensatez esse momento de lembrar com tanto ímpeto dos movimentos de que minha alma é capaz? Um pouco dos dois, por fim. A verdade da vida é insuportável demais para as mentes que são apenas sãs.
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