Clarissa estava atordoada com a vida. Decidiu, para acalmar-se, engarrafar seus sonhos e anseios. Assim o fez. Sentou-se então em sua poltrona e ficou a mirar a estante. Garrafinhas várias brilhando ali suas imaginações e sonhos dos mais desconexos. Percebeu que seria impossível organizar a estante de uma maneira coerente, incoerentes entre si que são as coisas que queremos. Enciumada e narcisística, afugentava a todos que ameaçavam se aproximar. Passou a evitar visitas. E se alguém derruba uma garrafa e a quebra? Impensável.
Anos se passaram e Clarissa morreu em sua poltrona. Seus sonhos permanecem intactos como da primeira vez em que foram sonhados. Pelos vidrinhos transparentes, iluminam o corpo de Clarissa que, feliz, apodrece ali, velando a existência que nunca aconteceu.
domingo, 3 de julho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário