domingo, 3 de julho de 2011

Os sonhos nas garrafas

Clarissa estava atordoada com a vida. Decidiu, para acalmar-se, engarrafar seus sonhos e anseios. Assim o fez. Sentou-se então em sua poltrona e ficou a mirar a estante. Garrafinhas várias brilhando ali suas imaginações e sonhos dos mais desconexos. Percebeu que seria impossível organizar a estante de uma maneira coerente, incoerentes entre si que são as coisas que queremos. Enciumada e narcisística, afugentava a todos que ameaçavam se aproximar. Passou a evitar visitas. E se alguém derruba uma garrafa e a quebra? Impensável.

Anos se passaram e Clarissa morreu em sua poltrona. Seus sonhos permanecem intactos como da primeira vez em que foram sonhados. Pelos vidrinhos transparentes, iluminam o corpo de Clarissa que, feliz, apodrece ali, velando a existência que nunca aconteceu.

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