quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Invisível

Vi uma mendiga na porta da padaria.
Vi um fazendeiro à minha frente.
Fila do caixa.
Café da manhã.
Pão na chapa
Café com leite
Um suco de manga
Um doce
Uma sobremesa
Um chocolatinho
Um dois vinte trinta reais
Fazendeiro sai
Mendiga fala
Oi teria um troc...
Fazendeiro segue andando
Não olha ao lado
Olha para frente
Não olha para dentro
Não olha para o céu
Não olha para nada
Segue andando movido pela inércia de toneladas de cultura escrota
Mendiga fala
Afe, o que foi que eu lhe fiz?
O que foi que ela fez?
O que foi que ele fez?
Negou moeda
Seu direito
Negou olhar
Negou ouvidos
Negou humanidade
Amor
Atenção
Não há mesquinhez maior
Do que se negar a dar
Aquilo que, ao dar, não se perde
Entendo que há lógica profunda
Nas coisas do acaso
Que a aridez de todas as terras de fora
Começou na aridez de todas as coisas de dentro

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