Não vou arrumar o mundo hoje.
Já me orgulho de ter arrumado a cama.
De ter preparado marmitas para uns três dias - sem carne.
Não vou arrumar o mundo hoje.
E o mundo vai continuar caindo aos pedaços.
Ódio, dúvida e equívoco se espalham. Chama em palha seca. Quem deixou a palha secar?
Se alguns caem em erros óbvios hoje, outros erros são comuns a todos e não os enxergamos também a gente: a ideia de linearidade do avanço do mundo sempre foi uma ilusão sem fundamento. O mundo oscila em diversos processos vivos e complexos. As ideias avançam e se retraem feito ondas. Marés. Estamos vivendo uma inundação e não adianta ficar jogando água pra fora com baldinho. Está tudo inundado.
Mas é preciso continuar respirando.
E, se não dá para arrumar o mundo hoje, ainda há sentido em ajudar a pessoa ao lado.
É natural se sentir paralisado enquanto todos caminham para a inundação voluntaria e cegamente. Mas o futuro não depende de todos sobreviverem hoje. Basta alguns.
Tal qual na história da evolução biológica, também na história das ideias muitas vezes o que conectará o futuro e o passado será um estreito fio de renegados sobreviventes de um período sombrio.
Não é hoje que vou arrumar o mundo.
Mas vou sobreviver. E vou ajudar alguém mais a sobreviver. E, hoje, é essa a tarefa mais urgente para viabilizar o futuro.
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