terça-feira, 27 de maio de 2008

Fim de tarde

Restos de uma ilha próxima trazidos pela água. Minha própria sombra, calor do sol nas costas. Barulho do vento gritando lá dentro do ouvido, entrando em meu crânio e levando pensamentos tardes afora. A cidade à esquerda, até que passos e mais passos adiante vai ficando para trás. Alguns quilômetros de praia como as praias todas foram feitas. Água, areia e verde.

Vez ou outra um avião cruza os céus como um calendário caindo no mosteiro. Vai embora e tudo se esquece novamente. Grito. Grito forte, muito forte. Não escuto nada. Estou gritando por dentro, mas não percebo. Não escuto, mas a voz já estava em todos os lugares.

Piso passo a passo nas coisas que não têm sentido, nos fantasmas que me perseguem. Castelos de cartas, castelo de areia, castelos de sonhos, castas de monstros incompatíveis com o instantâneo eterno.

Sempre amei, e a areia sabe. Nunca fiquei sem namorar. Nunca deixei que a areia ficasse sozinha. Por vezes perdi olhares de perto. Aprendi a cativá-los com o tempo. Mas corações... Corações caminham todos comigo na praia. Porque a praia não tem tempo. Porque a praia tem todos os tempos.

2 comentários:

Maína Machado disse...

Não sei se foi proposital, mas a sensação da leitura do último parágafo, através das sitações desconexas, é de que as imagens em nossa mente façam movimentos de ondas marítmas envaginando a areia.
Muito agradável, lembra muito o movimento surrealista de fusão com o ambiente também, senti o eu lírico quase se fundindo com a areia. Genial.

Marianna disse...

Giste muito do seu texto...
Adorei a fusão que você fez do espaço fisico com o psicologico. A união do eu com o mundo.
Afinal o que além da união de nossos desejos e do mundo ao nosso redor?
muito bom.


.
Os textos trabalham com o universo das ideias... então é facil tirar a mascara.
Acontce que na vida real a mascara é presa ao nosso resto.. e sem ela acho que as pessoas nao se reconhecem.
O que é você e o que é o mundo a sua volta?
Você em seu texto uniu os dois, e por vezes o mundo é nossa mascara, nossa camuflagem, somos camelões tentando sobreviver no mundo.
Pensando na literatura me recordo de um caso que me inspira a dizer quando é possível tirar a mascara: Na morte.
Salve Machado.

Beijos