domingo, 29 de março de 2009

Coragem

Há algo de errado com as frases que nunca foram ditas. Ou, no mínimo, algo de estranho. Com os pensamentos que nunca foram pensados. Explorá-los é asfixiantemente encantador. É essa angústia de preciso-voltar-logo querendo e querendo continuar a ir. Sinto essa asfixia quando sinto meus pensamentos se concretizando em palavras antes de eu ter sondado o quanto eles eram pensáveis. Porque aí faço perguntas que não devia. Faço conjecturas nada éticas, confesso desejos humanos demais. Defendo um ideal muito inatingível. Pensar livremente é assim tão simples quanto ser o que se é. E por ser o que se é, se é diferente, pois isso ninguém faz mais. E por ser assim tão diferente no mundo dos iguais, se fica sozinho. Junto com o deslumbre de um novo e encantador mundo, uma biblioteca gigante em que se entra pela primeira vez, vem esse frio da solidão de um parque vazio no inverno: você de bermuda e camiseta regata. Quando se é assim simplesmente o que se é, lembrando de alguém escondido sei lá aonde dentro de nós, nascemos também para fora, com toda a dor de nascer de novo. Mas agora a dor não é na carne, é nesse outro universo em que nascemos. E com as lágrimas desse mundo metafísico diferente, é impossível, nesse novo nascer, evitar chorar de novo. O desespero incontido poeticamente belo do choro de um bebê.

Um comentário:

Marina Pavelosk Migliacci disse...

às vezes me falta coragem,e quando me falta, eu guardo. mas sabe, tenho pensado sobre a possibilidade de não haver mais o que escrever, como se tudo já estivesse em algum papel perdido por aí. deve ser isso que chamam de crise da narrativa...nunca entendi bem, acho q tô pegando agora. mas de todas as áreas...é muito pessimismo?

beijos!!!